quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Encontro de Blogueiros Progressistas
















Foto: Reuniao de ativistas digitais da RedePT13 em Brasília, 2012.

Encontro de Blogueiros Progressistas: Trabalhos em Rede.

A postagem hoje tem o objetivo de apresentar possibilidades de trocas simbólicas no mundo virtual entre militantes, ativistas e trabalhadores(as) comuns que navegam diariamente pela web, focando um exemplo singular de trabalho em rede.

 Sabemos que os Encontros Nacionais de Blogueiros Progressistas representam espaços significativos criados para “colaborar com a discussão sobre o fim do monopólio existente nos meios de Comunicação e reinvindicar o direito à inclusão dos cidadãos no acesso às novas mídias, como um direito fundamental ao pleno exercício da cidadania” (cf. http://encontrosp.blogspot.com.br/p/quem-somos_23.html

Criado em São Paulo (2010) o grupo de ativistas digitais, notadamente de esquerda, na defesa de  ideais democráticos e populares, compõe-se de blogueiros, tuiteiros, listeiros, orkuteiros, facebookeiros e todas as formas de rede social e virtual englobam este ativismo. Dentre suas bandeiras de luta, a defesa pela democratização dos meios de comunicação (...) acreditamos que um mundo melhor é possível e a internet é uma poderosa e ágil ferramenta de união e luta pelo surgimento de uma sociedade sem desigualdade.

 

O Blog Cultura, Política e Cinema tem o prazer de apresentar uma conversa tecida com Aparecido Araujo Lima durante a campanha eleitoral em Salvador, via Facebook. Chamou-me atenção não apenas as postagens de teor político, seguramente demonstrativas de informação e combatividade, mas também, as postagens que revelavam uma disposição ao partilhamento e  interatividade no mundo virtual. Eis nossa prosa, via e-mail.

 

BLOG: Estamos conectados e em partilhamento no Facebook. Participei do Encontro de Blogueiros Progressistas em Salvador, não nos vimos. Mas percebi que você está me olhando muito aqui no Facebook, posso enviar umas perguntinhas sobre você?

 
CIDO: Sou Jornalista formado, trabalho com pesquisa e indexação de imagens ( analógicas e digitais ), desde 1986. Minha militância política inicia-se no final da década de 70, ainda sobre o regime ditatorial. Fui diretor do Centro Acadêmico Honestino Guimarães, nas Faculdades Objetivo ( 1978/1979) e fundador do Partido dos Trabalhadores em 1980. Hoje sou um militante virtual e presencial, da Comissão Estadual de Blogueiros Progressistas do Estado de São Paulo, com presença no twitter (@cidoli) e Facebook ( Aparecido Araujo Lima).também sou diretor da área deSaúde do Sindicato dos Trabalhadores em Editoras de Livros do Estado de SP, no segundo mandato. A luta não para...

BLOG: Poderia falar mais um pouco para as leitoras deste Blog sobre o papel das redes sociais e o trabalho dos blogueiros na blogosfera ?

CIDO: Com o surgimento das redes sociais e Blogs me envolvo intensamente na organização dos Encontros Regionais , Estaduais e Nacional de Blogueiros Progressistas que teve o seu primeiro encontro em São Paulo em 2010.Como alternativa a mídia tradicional , que chamamos de PIG ( Partido da Imprensa Golpista) participamos efetivamente na campanha para elegermos a nossa presidenta Dilma Rousseff, procurando responder todas as calúnias que aconteciam na rede, mentiras, episódios famosos como a Bolinha de Papel e o aborto da Mônica Serra, que ajudaram em muito a campanha.

BLOG: Para partilharmos mais considero interessante trocarmos algumas referências bibliográficas básicas. Você poderia mencionar suas principais leituras na blogosfera?

CIDO: Como sugestão, sugiro a leitura diária, que faço:

Rede Brasil Atual    www.redebrasilatual.com.br

Agência Carta Maior http://www.cartamaior.com.br




Blog do Marco Aurélio : http://maureliomello.blogspot.com.br/


A Pública : http://www.apublica.org/ - jornalismo investigativo




Carta Capital: www.cartacapital.com.br


BLOG: E quanto aos jornais, alguma indicação para nossos leitores?

CIDO: Hoje tenho assinaturas de duas Revistas: Revista Fórum e Carta Capital.

Não assino nenhum jornal, faço a leitura, via Internet, para notícias pontuais, não de opinião.

 
BLOG: Agradeço a atenção, um forte abraço Cido.
Sobre o Blog: Cultura, Política e Cinema (2007) há no arquivo  as principais entrevistas e trabalhos desenvolvidos nestes cinco anos de blogosfera.  São trabalhos de pesquisa e de dedicação no campo dos Estudos Culturais.

Salvador, 20 de dezembro de 2012.

Stela Borges de Almeida.

 

 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mapa da Violência 2012


 
 
 
(clic na imagem para ampliá-la)  
 
 
O jornal A Tarde, divulgou hoje (sexta-feira, 30.11.2012) matéria comentando posição da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir) à respeito do Mapa da Violência 2012.

 O Mapa da Violência 2012 mostra, dentre outros dados,  que a Bahia ocupa a primeira posição no ranking de homicídios de negros. A Bahia, como sabemos, um estado com o maior contingente de afrodescendentes, apresentou um quadro de 295,4% ( 1.282 mortes em 2002 para 5.069 em 2010) à frente de Rondônia (211%) e Paraíba (209%). No Brasil, a alta foi de 29,8%, enquanto que a morte de brancos diminuiu 25, 5% ( cf. página do primeiro caderno A8).

 Comentando esta matéria com estudiosos da temática, para balizamento maior da questão dos homicídios de afrodescendente,   recebi e-mail que julgo importante compartilhar com os leitores deste Blog. Considero que a opinião de profissionais voltados ao entendimento das questões sociais com reflexão e posicionamento crítico, requer divulgação. Como leitora do jornal A Tarde, tenho percebido que este canal de informação tem criado pouco espaço para o debate de idéias divergentes e polêmicas.

Divulgar o Mapa da Violência, estudo que demonstra através de dados de pesquisa conceituadas, a Bahia como um estado de maior número de homicídios de afrodescendentes, cabe, no mínimo, indignar-se com o genocídio a céu aberto  e buscar as políticas públicas que melhore a situação dos jovens, negros e brancos da periferia desta cidade. A seguir, e-mail recebido ontem, compartilho.

 

E-mail: 29.11.2012
Assunto: Mas somos todos baianos?

 Ruy Espinheira Filho em artigo intitulado “Como é que se vai perdendo a Bahia” (A TARDE  29/11/2012) concorda com o dito por João Ubaldo Ribeiro de que “não somos brancos, nem pretos, nem índios - somos baianos”. Mas lamentavelmente a cultura, se nos identifica  por tradições, jeitos de ser, expressões artísticas, também  nos separa ao se misturar com economia e política, e não está acima de desigualdades sócio-raciais  historicamente construídas e reproduzidas hoje por relações sociais em varias dimensões da vida  e inclusive pela indiferença avestruz dos que advogam que vivemos em relações sócio rac iais sem conflitos, como sugere implicitamente o escritor em seu artigo, nostálgico por  uma Bahia idílica de um passado imaginado.  Desculpe, mas para quem era “doce” a Boa Terra ontem e para quem deixou de ser assim, hoje, cara pálida?

Se somos todos baianos, como explicamos os dados do recém lançado “Mapa da Violência  2012_ A cor dos homicídios no Brasil” (FLACSO-CEBELA-  Secretaria de Promoção da Igualdade  Racial, de autoria de Julio Jacobo Waiselfiz)?  No Mapa se lê: “Individualmente, Bahia, Paraíba e Pará foram as unidades que tiveram maior crescimento no seu número de homicídios negros, mais que triplicando em 2010 os números de 2002”. As  Taxas de Homicídio (por 100 mil) na População total, segundo Raça/cor na  Bahia  em  2 002 e  2010 são:  4,5 e 11,7 considerando a população branca; e 12,5 e 47,3 entre os negros.  O índice de vitimizaçao negra (relação entre taxa de homicídios de brancos e a taxa de homicídios dos negros) passou de 175,6 (2002) para 303,8 (2010). Considerando só Salvador, têm-se as seguintes taxas de homicídios em 2010: 21,6 e 78,3, com um índice de vitimizaçao de negros de 263.

 Será que a “privilegiada nação da baianidade” não está sendo perdida e cada dia mais violenta porque muitos não estão se sentindo menos baianos do que outros?

 

MARY GARCIA CASTRO –castromg@uol.com.br
Programa Pos Graduação Familia na Sociedade Contemporânea e
Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania-UCSAL
Co-coordenadora Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Juventudes, Culturas, Identidades e Cidadania -NPEJI/UCSAL
Pesquisadora Flacso - Pesquisadora CNPq
Membro do Conselho Estadual de Cultura
Brasil
55-71-32354160/33791972/9979580

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Leão e a Joia. Wole Soyinka.

 
 
 
 
Ontem, dia 20 de novembro de 2012, Dia da Consciência Negra, ouvi com entusiasmo a fala do escritor, autor de peças teatrais, romances e poemas, o nigeriano, Wole Soyinka (1934, Abeokuta-Nigéria) que falava para o atento púbico presente à Academia de Letras da Bahia. Nos
 brindava com a sua simpatia, alegria e saber. Em sua homenagem, trago hoje, neste blog,
 trechos de um dos seus livros, O Leão e a Joia, publicado pela primeira vez
no Brasil em língua portuguesa. Wole Soyinka é o primeiro africano a receber o Prêmio Nobel de Literatura( 1986).
A foto que selecionei
 para ilustrar esta postagem
foi escolhida por critérios estéticos, acho esta imagem uma beleza. Encontrei em site de filmes africanos e como não anotei no momento da consulta, vou divulgá-la sem os devidos créditos, será bem vindo o leitor(a) que tiver as devidas referências.
 
 
NOITE
 
(...)Centro da aldeia. Sidi está parada em frente à janela da escola, admirando suas fotografias na revista, como já fizera antes. Entra Sadiku, trazendo um pacote fino e comprido, mas não muito grande. Age muito furtivamente e parece não ter visto Sidi parada ali. Ela abre o pacote e retira um objeto, que é uma representação do bale, completamente nu e detalhado, esculpido em madeira. Ela olha fixamente para a estatueta, explode subitamente em risadas de troça, agacha-se e coloca a figura em pé diante da árvore. Sidi contempla a cena, inteiramente tomada de espanto.
 
SADIKU: Então, afinal, nós demos um jeito em você, não demos? No fim, fomos nós que ganhamos a parada...Ah, grande e poderoso leão, será que realmente conseguimos te estropiar? A-iê-iê-iê....
Nós, mulheres, acabamos com você no fim, não foi? Eu estava lá quando aconteceu com seu pai, o grande Okiki. E fui eu que dei um fim nele...eu, a mais jovem. E a última de suas muitas esposas. Eu que o matei. Com minha força. Eu o chamei e ele veio até mim. Mas, não, para ele não foi como das outras vezes. Eu, Sadiku, não fui a própria chama e ele O pavio de linho fiado pelas mulheres velhas? Fui eu que o devorei! Raça de poderosos leões. Nós sempre consumiremos vocês, nós é que fiamos. Conforme o nosso prazer, nós é que os fazemos. Dançar na ponta de nossos cordões; vocês não passam. De piões tolos, girando sem parar e pensando. Que o mundo que gira em volta de vocês...tolos! Tolos! São vocês que giram em volta, sem parar. Até ficarem tontos de cair, enquanto nós Que enrolamos e desenrolamos o cordão à volta de vocês, Lentamente, até que nada mais sobre Do que um carretel velho e carcomido....
 
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Soyinka, Wole. O Leão e a Joia. São Paulo: Geração Editorial, 2012
 

sábado, 22 de setembro de 2012

39ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia



JORNADA INTERNACIONAL DE CINEMA DA BAHIA


Um festival cinematográfico independente, criado no seio da Universidade Federal da Bahia, a Jornada Internacional de Cinema da Bahia existe há mais de três décadas e terá a sua trigésima nona edição, no período de 25 a 29 de setembro de 2012.
Os trabalhos da preparação da 39ª edição da Jornada Internacional de Cinema da Bahia, sob a égide constante de batalhar Por um Mundo Mais Humano, será de uma Jornada introspectiva, porque pretende encerrar o ciclo Guido Araujo quando completar 40 anos. Assim, aos 39 anos teremos um festival diferente do que ocorreu ate os dias de hoje, será uma preparação para a realizaçao do grande evento que será a 40ª Jornada.

O festival que nasceu como um evento local, transformou-se rapidamente em um acontecimento internacional, promovendo concursos de filme e vídeo, sobretudo ao nível afro-iberoamericano, terá um novo formato, não contará com o tradicional concurso em salas de exibição e, de cara nova entra em fase de teste para o seu desafio inicial, realizar o seu primeiro concurso online (regulamento / inscrição). O festival visa ser um pólo de aproximação e troca de experiências para os desafios inovadores que se abrem no universo da tecnologia digital e da criatividade artística e onde os participantes poderão contar com a interatividade das novas tecnologias.

A Jornada representou desde sua origem, um esforço de resistência no seu compromisso cultural de promover a produção cinematográfica independente local, nacional e internacional, notadamente da América do Sul e da África Negra.Como mais antigo evento cinematográfico do Norte e Nordeste do País a Jornada é um festival que tem uma extensa história de realizações para contar em exposições, retrospectivas, homenagens e recordações de grandes momentos e personagens que estiveram presentes na longa trajetória do evento. Tudo isso será recapturado para o evento dos 40 anos.

Sem o concurso na sua forma tradicional os filmes e vídeos de curta e média ou longa metragem de qualquer gênero, a Jornada apresentará uma rica e variada mostra de filmes e outras atividades, destacando-se o programa homenagem “O Academico Nelson Pereira dos Santos”, dedicado ao primeiro grande cineasta brasileiro na Academia Brasileira de Letras.

A 39ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia espera contar com o patrocínio do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura.

Mais informações em: http://www.jornadabahia.com






quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A ABCV/ABD-BA APOIA A JORNADA




Pela continuidade, ampliação e fortalecimento da Jornada Internacional de Cinema da Bahia



A Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV) / Associação Brasileira de Documentaristas (ABD-BA), por meio de sua diretoria, vem através desta reafirmar a importância da Jornada Internacional de Cinema da Bahia como um espaço de promoção do audiovisual em todos os seus gêneros e vertentes, bem como nos valores intrínsecos à sua realização. A Jornada é o evento de cinema mais antigo e consolidado na América Latina que traz em seu bojo a atenção para os ideais de “um mundo mais humano, justo e democrático para todos”. Quem lá já esteve presente, como realizador ou público, pode atestar o espaço de resistência que a Jornada sempre foi, desde o seu surgimento. Não à toa, traz os valores de uma geração politizada e comprometida com a realidade brasileira, com a realidade latino-americana e com a formação do ser humano.


De 1972 até agora a história é longa, árdua e merece ser respeitada. A Jornada Internacional de Cinema da Bahia lançou cineastas; trouxe para Salvador a cinematografia de países que lutavam pela sua afirmação e independência; contribuiu na democratização do acesso a tais conteúdos audiovisuais; despertou o olhar para a produção de filmes que não chegariam aqui tão facilmente; aumentou a rede de contatos entre a Bahia, o Brasil e o mundo; levou para as mesas de debate não só a realização e a produção de filmes, mas questionou a identidade brasileira e latino-americana, a produção audiovisual e as políticas na área para todo um continente. Além de tudo isso, levantou bandeiras de lutas político-sociais. E talvez aqui esteja o seu maior valor, o que numa empresa seria chamado de cultura, ou melhor, conjunto de valores, crenças e hábitos que produz normas de comportamento.




A Jornada Internacional de Cinema da Bahia não é uma empresa, mas mudou comportamentos de jovens que tiveram lá, pela primeira vez, seus filmes exibidos, que puderam congraçar, pela primeira vez, com cineastas de todo o mundo e receberam seu primeiro crachá ali como realizador. Foi ali que também nasceu a Associação Brasileira de Documentaristas. Quando um país inteiro estava calado pela ditadura Militar, a Jornada abrigou e foi o lugar de eco da arte audiovisual no Brasil, um espaço de crítica e debate, de aglutinação, de luta dos cineastas brasileiros. E é nesse ponto da história, ou seja, desde o seu início, já que a ABD aniversaria junto com a Jornada, que a Baiana abraça o Tatu.


Ainda que a Jornada tenha muito a comemorar no seu 40o. aniversário, no entanto, alguns fatos ameaçam o merecido regojizo. Além da Jornada Internacional amargar o 5º lugar na suplência do edital de apoio a projetos calendarizados da Secult/Ba, as forças daqueles que sempre acreditaram na Jornada foram esvaídas. Bem dizem que o tatu-bola é o menor tatu brasileiro e o mais ameaçado, porque, “como não cava bem como os outros tatus, é mais fácil de ser caçado na região de seca, onde há pouca comida”.



Está na hora de um ponto de virada nessa história. De uma reação ao que seria a morte da Jornada Internacional de Cinema da Bahia. A ABCV / ABD-Ba conclama a juventude para a mobilização, os realizadores à memória e à ação, e o Governo a refletir que 40 anos de história não podem ser desprezados pela burocracia do Estado.



- Pela continuidade da Jornada Internacional de Cinema da Bahia;



- Pelo fortalecimento da Jornada Internacional de Cinema da Bahia;



- Pelo apoio do Estado da Bahia à Jornada Internacional de Cinema;



- Pelo respeito pelos seus 40 anos de história;



- Pela revitalização da Jornada e seu renascimento;



Assinem, divulguem, compatilhem.

Obrigada.



Diretoria

Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV)

Associação Brasileira de Documentaristas - Regional Bahia (ABD-Ba)



Nota: Assinamos, divulgamos e compartilhamos com a ABCV/ABD-Ba o apoio à Jornada Internacional de Cinema da Bahia pelo reconhecimento do valor e importância deste evento na promoção do espaço do audiovisual e manifestamos nosso apreço a seu papel pioneiro  e consolidado na América Latina. Vida longa a Jornada Internacional de Cinema na Bahia e a seu criador, Guido Araújo!!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

faces of drummond





(...) Pois de tudo fica um pouco.

Fica um pouco de teu queixo

no queixo de tua filha.

De teu áspero silêncio

um pouco ficou, um pouco

nos muros zangados,

nas folhas, mudas, que sobem.



Ficou um pouco de tudo

no pires de porcelana,

dragão partido, flor branca,

ficou um pouco

de ruga na vossa testa,

retrato.



(...) E de tudo fica um pouco.

Oh abre os vidros de loção

e abafa

o insuportável mau cheiro da memória.


(Resíduo)

Carlos Drummond de Andrade










quarta-feira, 18 de julho de 2012

Festa Literária Internacional_2012


                                         (clic na imagem para ampliá-la)

Flip, ano 10.

O que acontece em festivais literários que não conseguimos arrancar via iPad?
 Esta provocação esboçada na programação cultural de um dos maiores eventos internacionais realizados no Brasil, insinua que a 10ª Festa Literária  Internacional de Paraty trata-se de um encontro com singularidades e diversidades. A abertura do evento, no dia 04 de julho de 2012, nos brindou com a maestria de Silviano Santiago, crítico e escritor, com ensaios e livros publicados, entre êles, O entrelugar do discurso latino ameircano (1971), Em liberdade (1981), Uma literatura anfíbia (2002), Heranças(2008) e Antonio Cícero, filósofo e poeta,  dentre outros ensaios e livros, publicou, Guardar( 1996), O mundo desde o fim ( 1995), Finalidades sem fim (2005), dentre outros, e nos apresentou falas vigorosas sobre o poeta homenageado, Carlos Drummond de Andrade.
Este foi apenas o início de uma semana de preciosidades e presença de quase cinquenta convidados para um dos eventos mais prestigiados do país. As fotos foram clicadas no momento das apresentações, embora sem o rigor da excelência, seguramente com um olhar atento merecido.


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sobre a Rio+20 no Novas Pensatas

Esta postagem encontra-se em novaspensatas.blogspot.com de Jonga Olivieri. O texto é da autoria do Professor Jorge Vital de Brito Moreira e contém uma análise de evento recente ocorrido na Cidade do Rio de Janeiro, a Rio+20. Um texto a ser consultado.



Rio+20 e a “Economia verde”: pode a cobra cascavel voar?


Ha vinte anos, em junho de 1992, foi realizada no Rio de Janeiro, Brasil, a “Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento” (a Rio-92) onde participaram centenas de governos e chefes de Estado do planeta.

Desde a Rio-92 (também conhecida como “A Cúpula da Terra”), começou a circular entre os indivíduos a noção de “desenvolvimento sustentável” que vem sendo definida e discutida como “o desenvolvimento capaz de atender às necessidades atuais sem comprometer os recursos para as gerações futuras”.

Muitos daqueles que celebraram os resultados “positivos” da Rio-92 (tais como a elaboração dos documentos oficiais que estabeleciam as convenções da biodiversidade, da desertificação e das mudanças climáticas), tiveram as suas esperanças defraudadas quando, em estado de choque, viram o presidente George W. Bush (filho do ex-presidente George Bush que participou da Rio 92) cair fora do Protocolo de Kyoto (e das metas para a redução da emissão de gases poluentes que intensificam o efeito estufa).

Naquela irracional decisão, George W. Bush declarou, arrogantemente, que não iria submeter o avanço da economia norteamericana aos sacrifícios necessários para a implementação das medidas propostas, motivo pelo qual não ratificou o Protocolo que havia sido elaborado com bases na convenção das mudanças climáticas do Rio-92. Assim, o presidente do país mais poderoso do sistema capitalista imperialista, rejeitou o Protocolo de Kyoto de 1997 (a jóia da coroa da Rio-92) para, em troca, invadir o Iraque e, durante o assassinato de milhões de iraquianos, se apropriar indevidamente do petróleo daquele país.Depois de colocar em circulação a noção de “desenvolvimento sustentável”, os países capitalistas ricos regressam ao Rio de Janeiro, ao Rio+20, com outra armadilha conceitual denominada “a economia verde” que propaga um verdejante disfarce ideológico para encobrir a continuidade da exploração e dominação da economia capitalista imperialista sobre os países e as classes sociais do terceiro mundo.

Pelo anterior podemos afirmar que um dos objetivos centrais dos países ricos na Conferencia Rio+20 é conseguir uma autorização (um mandato) das Nações Unidas para continuar com o monopólio para elaborar o marco teórico, metodológico e institucional do “desenvolvimento sustentável” que lhes sejam convenientes e funcionais.

Assim, um dos aspectos centrais da agenda da Conferência é a criação de um quadro institucional para a legitimação da “economia verde” como o modelo ideal de desenvolvimento sustentável. Trata-se, em essência, como alguns críticos já denunciaram, de institucionalizar novas formas de exploração mercantilista da natureza (apropriação da água por exemplo) e fortalecer a acumulação de capital na esperança de, entre outras coisas, superar a crise atual do sistema.

Mas aqui torna a aparecer a questão fundamental que deveria ser discutida prioritariamente na Rio+20: Poderá existir desenvolvimento sustentável dentro do sistema capitalista? Colocando esta pergunta em termos metafóricos teremos: pode a cobra cascavel voar?

Não é difícil demonstrar que a cascavel não pode, nem poderá voar por seus próprios meios porque ela não tem, nem terá, as características estruturais das aves que foram feitas para se transportar por via aérea.

Tão pouco é difícil argumentar que (considerando as características objetivas deste sistema), não existe nenhuma possibilidade de “desenvolvimento sustentável” dentro do capitalismo.

O capitalismo, como um dos modos de produção da nossa sociedade, apresenta, faz mais de dois séculos, as mesmas características estruturais, e estas anulam qualquer possibilidade do desenvolvimento sustentável. A exploração e a dominação econômica, a concentração da riqueza, a desigualdade e a injustiça social, o consumo depredador, a extração irracional da riqueza natural, a poluição e a destruição das florestas, dos rios, das espécies animais e a produção interminável de guerras são as características inerentes ao sistema capitalista, que na atualidade estão ainda mais exacerbadas durante a etapa da globalização neoliberal e da crise financeira, política e social, mundial.

Este conjunto negativo das características do sistema capitalista demonstra a sua inviabilidade futura e levanta a questão fundamental da impossibilidade da realização de “desenvolvimento sustentável” dentro do capitalismo. Esta é a questão fundamental que os países ricos tratam e tratarão de evitar, de escapar na Rio+20.

Não é novidade. Sabemos que desde a revolução francesa, a burguesia vitoriosa estabeleceu os valores da “Liberdade”, da “Igualdade” e da “Fraternidade” para serem convertidos em direitos humanos na terra; direitos que (para implementar-se entre as diferentes nações) requeriam, entre outras coisas, a criação de um organismo como a Organização das Nações Unidas (ONU) que deveriam ajudar neste processo de desenvolvimento social e humano.

Se vamos avaliar (depois de décadas e décadas de existência) o desenvolvimento histórico do capitalismo e da ONU, desde a perspectiva da distribuição dos direitos humanos entre as nações ricas e pobres, chegaremos à triste conclusão de que o resultado é sumamente negativo: nunca a situação dos direitos humanos (decorrente dos valores burgueses da “Liberdade”, “Igualdade” e “Fraternidade”) estiveram em pior situação histórica dentro do sistema e a ONU se converteu predominantemente num instrumento de apoio da globalização imperialista que não respeita os direitos humanos dos pobres: cada dia que passa, presenciamos o aumento da falta de emprego, de ingresso, de educação, de saúde e vivenda para bilhões de seres humanos que habitam miseravelmente este planeta. Nesta perspectiva não existe luz no final do túnel e dentro da loucura capitalista para obtenção dos lucros econômicos, estamos caminhando inexoravelmente para o colapso total, para a decadência e para a destruição da civilização ocidental.

Não há novidade neste processo. Desde o século XIX, Marx escreveu no livro I de O Capital que a extensiva e intensiva exploração da classe trabalhadora (“a galinha dos ovos de ouro”) pelos capitalistas ingleses para produzir lucros (mais valia absoluta e relativa) era de tal magnitude que conduzia às deformações e a diminuição do tamanho físico dos trabalhadores. Esta e outras deformações físicas obrigou o governo inglês a colocar inspetores nas fabricas para fiscalizar o assombroso número de horas da jornada laboral que se usava para superexplorar os trabalhadores. Foi através da legislação da jornada laboral que o Estado burguês conseguiu evitar a depredação absoluta e a morte total e completa da “galinha dos ovos de ouro”. Marx demonstrou que:

“La producción capitalista, que es esencialmente producción de plusvalía, absorción de plustrabajo, produce, pues, con el alargamiento de la jornada de trabajo, no sólo la atrofia de la fuerza de trabajo humana -a la que se arrebatan sus condiciones normales, morales y físicas, de desarrollo y actuación-, sino también el agotamiento y la muerte de la misma fuerza de trabajo. Prolonga el tiempo de producción del trabajador durante un plazo dado mediante el acortamiento de su tiempo de vida” (El Capital, I. Cap. VIII, 287; OME 40) (1)

Marx também escreveu no livro I de O Capital que todo desenvolvimento (progresso) capitalista está baseado na depredação do trabalhador, da terra e de suas fontes de vida. Ele demonstrou que:

"todo progreso de la agricultura capitalista es un progreso no sólo del arte de depredar al trabajador, sino también y al mismo tiempo del arte de depredar el suelo; todo progreso en el aumento de su fecundidad para un plazo determinado es al mismo tiempo un progreso en la ruina de las fuentes duraderas de esa fecundidad". "La producción capitalista no desarrolla la técnica y la combinación del proceso social de la producción más que minando al mismo tiempo las fuentes de las que emana toda riqueza: la tierra y el trabajador." (El Capital, I. Cap. XIII, seccion 10 ; OME 40) (2)

Desde este ponto de vista, não deveríamos esquecer que na primeira conferencia Rio-92 o ex-presidente George Bush (que invadiu o Panamá e realizou a primeira Guerra contra o Iraque) tratou de propagar a “Nova Ordem Mundial” capitalista, afirmando arrogantemente que “o estilo de vida estadunidense (the American way of life) não está aberto a negociações”

Durante essa conferencia, Fidel Castro, em nome de Cuba e das nações pobres e em vias de desenvolvimento, confrontou Bush questionando e denunciando o modelo de desenvolvimento imperialista da “Nova Ordem Mundial, avisando-nos dos perigos das intermináveis guerras imperiais.

«Si se quiere salvar a la humanidad de esa autodestrucción, hay que distribuir mejor las riquezas y tecnologías disponibles en el planeta. Menos lujo y menos despilfarro en unos pocos países para que haya menos pobreza y menos hambre en gran parte de la Tierra. No más transferencias al Tercer Mundo de estilos de vida y hábitos de consumo que arruinan el medio ambiente. Hágase más racional la vida humana. Aplíquese un orden económico internacional justo. Utilícese toda la ciencia necesaria para un desarrollo sostenido sin contaminación. Páguese la deuda ecológica y no la deuda externa. Desaparezca el hambre y no el hombre».

Hoje, 20 anos depois da Rio-92, ficou demonstrado que Fidel Castro tinha razão quando denunciou que a “Nova Ordem Mundial”, baseada na expansão neoliberal do capitalismo, era um modelo ainda mais opressivo e depredador do que antes pois colocava a espécie humana sob o perigo de extinção.

Não tenho a menor dúvida que a intervenção de Fidel, passou a ser um dos elementos que tem servido para alertar a parte da humanidade e tem estimulado e incrementado a luta de resistência contra o imperialismo e o colonialismo das nações ricas, sobretudo dos EUA.Afortunadamente, hoje já existe um conjunto de movimentos e de organizações políticas de resistência mundial ao capitalismo que lutam para apresentar propostas alternativas que sirvam para invalidar a proposta burguesa da “economia verde”. Eles se encontram reunidos atualmente no Rio de Janeiro, realizando a “Cúpula dos Povos”(3) uma conferência paralela à conferência oficial Rio+20, dos chefes de estado e corporações transnacionais, e apresentarão propostas com soluções democráticas e anti capitalistas para resolver os problemas que depredam a humanidade e seu meio ambiente.Assim,contra esse discurso verde, os movimentos da sociedade civil como um todo, estão enfrentando o desafio de mostrar ao mundo que há saídas reais, efetivas que estão sendo construídas pelas comunidades e várias organizações políticas de resistência da América Latina e do Caribe, África, Ásia, da Europa e dos Estados Unidos. As alternativas produtivas, sociais e de gestão econômica que foram criadas tem sido realizadas com sucesso por cooperativas, associações de bairro, movimentos sociais, povos indígenas e minorias étnicas, sexuais, religiosas. Todos estes modos de construção coletiva, apontam na “Cúpula dos Povos” para a construção de um novo mundo, de uma nova sociedade (anti capitalista, verdadeiramente democrática, e revolucionária) que esperamos será realizável num futuro próximo. Que sejam bem vindos.

NOTAS


1) Karl Marx, El Capital I, tradução para o espanhol de Manuel Sacristán Luzón, Editorial Grijabo.


2) Karl Marx, El Capital I, tradução para o espanhol de Manuel Sacristán Luzon, Editorial Grijabo.

Consulte os escritos de Manuel Sacristán Luzón sobre temas marxistas, ecológicos, pacifistas e feministas contemporâneos na revista espanhola Mientras Tanto, fundada por ele, sua esposa Giulia Adinolfi e um conjunto de pensadores marxistas espanhóis.

Sobre a problemática, veja também os escritos de Sacristãn nos livros, Pacifismo, ecología y política alternativa, 1987, Icaria, Barcelona; e Seis conferencias sobre la tradición marxista y los nuevos problemas, 2005, El Viejo Topo, Barcelona..


3) Para obter mais informação (auditiva, escrita, visual) sobre “A Cúpula dos Povos, veja o link: http://tv.cupuladospovos.org.br/.

Devido a realidade de que os meios de informação oficiais (a grande imprensa e a mídia corporativa) excluem as informações e as vozes dos seus representantes, a “Cúpula dos Povos” criou esta nova forma alternativa de comunicação para informar a sociedade. Sabe-se que foram muitos os protestos e manifestações durante o evento no Rio de Janeiro, todos duramente reprimidos pela forças policiais.

Postado por Jonga Olivieri às 00:53 2 comentários:

Via Campesina

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              Foto: Via Campesina em passeata na Rio+20
                                                                     Junho/2012



sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sistema Público de Radiodifusão

(clic na imagem para ampliar)

Considerações acerca do sistema público de radiodifusão (1)



O sistema público de radiodifusão aparece na Constituição Federal de 88 ao lado dos antigos sistemas privado e estatal, dos quais temos referência nas constituições anteriores, nas leis ordinárias, decretos, normas, editais e outros procedimentos administrativos. O Brasil, a partir de então, organiza seu modelo de radiodifusão em três sistemas distintos em características e funções sociais. Porém, supõe-se harmoniosamente reunidos, se complementando, de modo que a natureza pública da comunicação prevaleça indistintamente e lhes dê sentido. Este novo sistema é em essência oposto ao privado, porém, distinto do estatal.

Há quem afirme com propriedade, que em razão da natureza e modo de produção social capitalista, sob os quais a sociedade brasileira historicamente se estrutura, as políticas públicas e as ações do Estado tendem a ser modeladas por valores e interesses privados, sejam econômicos, políticos ou religiosos. Assim, a natureza pública da comunicação e a regulação dos sistemas público-estatal e público societário, instituídos na Constituição de 88, tendem a ser desfigurados, incorporando mecanismos burocráticos e políticos que impedem a sua execução, e as poucas emissoras públicas são pressionadas a adotarem práticas privadas. Após 18 anos da promulgação da Constituição Brasileira, ainda não foram regulados os sistemas estatal e público. Entretanto, as legislações do sistema privado são atualizadas, ampliando privilégios, mantendo monopólios e oligopólios, inclusive premiando as empresas e instituições detentoras das concessões analógicas de televisão com a outorga de canais digitais.

Sabemos que a comunicação é um bem público – em tese, para uso universal pelas populações das comunidades e do território nacional – um dever do estado e direito de todos. Mas a noção histórica de público após 88 ganha uma nova vertente: a instituição do sistema público distinto do estatal. Públicos em natureza, propriedade, gestão e conteúdos, estes sistemas se diferenciam. No sistema público não estatal, as ondas de rádio de sons e imagens, entendidas como bem público universal, são de propriedade e gestão do conjunto dos indivíduos, grupos e instituições da sociedade. Já no sistema estatal, tradicionalmente consagrado como público, destinado a todos indistintamente, a gestão deste e de todos os seus serviços deve ser democrática, onde União, Estados e Municípios partilham com instituições da sociedade civil a condução das políticas, respeitando os beneficiários como cidadãos, jamais como clientela. Não se concebe como eticamente legítima a transferência da gestão de uma instituição pública, mantida pelo estado, nem mesmo na forma de fundação de direito privado (terceirização da gestão administrativa), praticada pelos dirigentes neoliberais nas últimas décadas, no país, na área da radiodifusão educativa. O mundo dos negócios faz parte do sistema privado da comunicação, jamais dos sistemas estatal de gestão democrática ou do público de gestão comunitária.

Seja nos tempos do regime de força de Getúlio ou dos militares de 64, na transição democrática de Sarney, na fase neoliberal de Collor a Fernando Henrique ou populista de Lula, grupos privilegiados dominantes se utilizam dos mecanismos do poder de estado para a legitimação de seus atos, interesses ou um grande negócio como se nada de anormal ocorresse. O Estado sempre esteve pronto para reproduzir o sistema privado de radiodifusão. A primeira TV no país – a Nacional –, em 1950, logo se desfez para que os Diários Associados, o “pioneiro”, inaugurasse em 1951 uma televisão privada.


No início dos anos 80, o modelo de estado configurado na ditadura militar dava sinais de crise. A presença dos militares no poder como mecanismo de controle sobre a maioria da sociedade entrava em conflito com os anseios das oligarquias políticas regionais e seus partidos. O regime do arbítrio não podia mais conter as greves operárias e as manifestações populares e da sociedade civil. As oposições partidárias cresciam nos estados e passavam a espelhar seus conteúdos na imprensa regional, apesar dos aparatos repressivos. Abria-se uma janela para que a luta pela democratização da sociedade e das estruturas de estado se espalhasse pelo país. As diretas já ganharam as ruas, pautaram a imprensa e as discussões acadêmicas e estimularam a formação de uma frente nacional por políticas públicas democráticas na área das comunicações. Ao assegurar no texto constitucional mecanismos de participação social e de elaboração de projetos de iniciativa popular, surgia o sistema público de radiodifusão, onde a propriedade, gestão e produção de conteúdos das comunidades eram concebidas como uma vertente nova da gestão pública do bem comum no campo da comunicação no país.

No contexto político atual, da passagem do primeiro para o segundo mandato do governo Lula, há uma quebra de braço com a chamada “grande mídia conservadora”. Mas as relações entre o governo e o mundo da mídia regional e nacional se restabelecem na continuidade do modelo de governabilidade adotado, fruto de uma conciliação de interesses entre estado, partidos e empresas. Constitui grande desafio para os movimentos sociais na luta pela democratização da comunicação, superar diferenças entre grupos e classes sociais, traçar uma compreensão clara do cenário político e então (re) definir estratégias e táticas para construir uma outra comunicação, fundada no estatuto da igualdade. Nesta perspectiva, devemos priorizar a regulação dos sistemas público e estatal de modo a garantir o exercício do direito coletivo e difuso da comunicação, com emissoras de rádio e televisão digitais societárias numa convergência técnica com as redes comunitárias sem fio de telefone e internet de acesso universal, públicas, gratuitas ou de baixo custo, numa complementaridade com um sistema estatal democratizado na sua gestão administrativa e política.


(1) Jonicael Cedraz de Oliveira. Professor de Comunicação da UFBA, Coordenador Executivo do FNDC-BA e da ABRAÇO-BA. Membro da coordenação colegiada da Sociedade Civil Acauã mantenedora da radio comunitária acauã. Presidente do COMPOP-Conselho de Comunicação e Políticas Públicas da Metrópole de Salvador. Autor de artigos diversos sobre comunicação.


P.S.

Sempre que encontro Jonicael, o tema das Rádios Comunitárias e do seu importante papel no sistema público da radiodifusão predomina na conversa. Buscando continuar o papo, propus então que ele me enviasse um texto sobre o tema, deste modo manteríamos o diálogo que tanto estimula e alimenta o trabalho deste militante ativista dedicado a causa.

O texto enviado, após nossa participação no 3º Encontro Nacional de Blogueiros, Salvador-Bahia em maio de 2012, mostra a necessidade de se priorizar a regulação dos sistemas público e estatal de modo a garantir o exercício do direito coletivo e difuso da comunicação, com emissoras de rádio e televisão digitais societárias, dentre outros. Tema que interessa a todos (as) que lutam pela democratização das mídias.

Adicionei uma foto nossa no 3º Encontro Nacional de Blogueiros. Estamos todos de frente para uma das mesas concorridas do evento, fiquei a anotar tudo através de um netbook e Jonicael ao lado falando pelos cotovelos. Valeu Joni!





domingo, 3 de junho de 2012

Pioneiros do Cinema Africano

Texto elaborado para debate no Seminário de História, abril de 2012.




SOULEYMANE CISSÉ e YEELEN, 1987 (1)



1. O espectador comum e a linguagem cinematográfica.

Souleymane Cissé representa uma geração dos primeiros filmmakers africanos e é, também, um dos mais celebrados realizadores africanos nos últimos tempos. Produziu uma filmografia que vem aos poucos sendo discutida pela vanguarda cultural contemporânea e principalmente, os organismos internacionais voltados para os direitos humanos. Yeelen, seu filme de 1987, recebeu prêmio no Festival de Cannes.

A importância da sua obra encontra-se registrada nos principais festivais internacionais de cinema, valendo destacar, o FESPACO_Festival Panafricain du Cinéma et de la Télèvision ( cf. Catalogue Officiel) os festivais internacionais Afrika Filfestival realizados na Bélgica( cf. Leuven www,afrikafilmfestival.be) e o Festival de Cinéma Africain em Tarifa, Espanha, dentre outros(2).

É bastante comum que a maioria das pessoas assista filmes apenas pela história da película, poucos estão voltados para o valor das imagens enquanto construção de narrativas que se expressam pela capacidade do realizador articular os elementos lingüísticos próprios da arte do filme. Cada película expressa uma linguagem que constrói uma narrativa imprimindo uma especificidade cinematográfica às imagens em movimento. O cinema, antes de tudo, é uma linguagem com semântica e sintaxe, elos de uma gramática cinematográfica.

Os elementos fundamentais deste processo_ e o realizador precisa saber articulá-los se quiser obter força expressiva na narrativa que pretende comunicar/transmitir na sua realização _são, dentre os principais: a planificação, os movimentos de câmera, a angulação e a montagem. A montagem foi no passado considerado como a expressão máxima da arte do filme. Há, portanto, uma arte no processo de criação cinematográfica, uma estética na constituição da obra cinematográfica (3).

No mundo moderno, ainda que não mais com a primazia do passado, podem-se observar as tomadas demoradas de câmara de Michelangelo Antonioni, a profundidade de campo de Orson Welles, a montagem dos filmes de Serguei Eisenstein_O Encouraçado Potemkin, Outubro_, para citar apenas estes_ e a fotografia como suporte que ajuda a compor e definir o estilo. Em Bernardo Bertolucci, por exemplo, o diretor e o iluminador trabalham numa co-autoria que transforma o filme numa peça literária. A cenografia, a parte sonora, os ruídos, os diálogos, a música, são determinantes na expressão cinematográfica, criando uma linguagem de força e definição do estilo. Em tempos de mundialização, globalização, estas escolas e estilos passaram por permanentes e demolidoras transformações da arte cinematográfica moderna.

Para a literatura, a expressão se faz pelas palavras, pelos signos, para o teatro, além do texto a presença física dos atores, a cenografia e os efeitos de iluminação compõem o cenário, para o cinema, os recursos do teatro e da literatura são importantes, ainda há um recurso próprio de grande importância que é a variação do ponto do espaço onde são fotografadas as imagens exibidas na tela. Toda cena de um filme é formada por muitos instantâneos vistos de diferentes perspectivas que são denominados de planos. Chama-se variação do ângulo visual essa particularidade do cinema, esta é a base da linguagem e determina a sua especificidade.

No cinema, diferentemente do teatro, o espectador vê a cena de muitos modos diferentes porque a câmera cinematográfica se encarrega de mudar de ângulo, de lugar, o que significa dizer que o espectador vê o filme por intermédio da câmara. Tudo que ele vê na tela –no enquadramento- é o que se encontra no campo visual abarcado pela objetiva da câmara. As tomadas de cena são escolhas de fragmentos da realidade recortadas através de enquadramentos, fixando uma parcela maior ou menor no quadro visual. No filme, o quadro fílmico é a área do fotograma.

“(...) Na operação de filmagem, o campo da objetiva e, na projeção, a superfície da tela, conforme a câmera fique mais próxima ou mais distante ou mais inclinada ou mais à direita, têm-se, no seu visor e depois na tela diferentes aspectos ou realidades profílmica. A mais simples das cenas é vista como uma articulação de diversos instantâneos, filmado de diversos ângulos e mostrando aspectos da realidade profílmica, instantâneos que são, precisamente, os planos, os quais possibilitam a extraordinária variedade de pontos de vista oferecida pelo cinema.” in: Escritos sobre Cinema.

Em Souleymane Cissé, especificamente em Yeelem, há uma intenção de nos aproximar de um legado da cultura africana em que a realização de uma narrativa sobre uma imagética construída sobre a África subsaariana, além de nos oferecer uma concepção inventiva, que nos evoca ao domínio construído pelo realizador africano, cria condições de participação do seu universo onírico e emblemático. A câmara trabalha em planos panorâmicos e algum close dos personagens em cena demonstra que não há pressa nos movimentos, seus gestos, expressões, dizeres em linguagem bambara, parece nos querer aproximar desta cultura. Há uma ênfase grande em símbolos e figuras emblemáticas bambara que nos leva a querer conhecer mais da cultura e vida africana. O fogo, a água, a terra, o sol, elementos que compõem o universo de imagens e que se dispõe a comunicar e transmitir uma mensagem. Baseado numa história milenar, o autor busca mostrar o processo de iniciação de um jovem que amaldiçoado pelo pai pretende encontrar seu caminho.



2. SOULEYMANE CISSÉ e Yeelen

A filmografia de Souleymane Cisse encontra-se, ainda, em construção. Há possibilidade de consulta aos seus mais conhecidos filmes, principalmente no youtube, e em grande parte, nos sites das distribuidoras de filmes. Entre outros, por exemplo, a Amazon oferece um cardápio para aquisição de alguns dos seus filmes. As consultas requerem o domínio da língua inglesa e francesa, embora os filmes apresentem legendas em cinco línguas do vernáculo, inclusive português. Da enciclopédia livre, a Wikipédia, aos sites de distribuições de filmes dentre os quais os mais completos bancos de dados sobre cinema - por exemplo, o movie database IMDb -, o trabalho de Souleymane Cissé, tem merecido elogiosas referências.

Sua biografia apesar de encontrar-se na maioria dos sites que foram consultados, oferece dados sumários sobre a sua origem, formação e filmografia básica. Souleymane Cisse nasceu em 21 de abril de 1940, em Bamako, Mali. Sua paixão pelo cinema desde a infância é um dado recorrente em quase todos os dados encontrados. Estudou Filosofia e Cinema na escola de cinema de Moscou. De volta a Mali trabalhou no Ministério da Informação e realizou vários filmes com temáticas da atualidade e alguns documentários. De uma maneira geral, essas informações disponibilizadas aos leitores não acrescentam mais, além de algumas poucas fotos, geralmente em eventos internacionais. Souleymane Cissé tem hoje 72 anos e produziu mais de doze filmes, alguns dos quais mereceram prêmios em festivais, sendo o mais conhecido no Festival de Cannes, em 1987.

Para maior visibilidade de sua produção, o quadro a seguir oferece dados ainda que incompletos. Para maior detalhamento, pode-se contar com referências da enciclopédia de cinema, cf. http://cinema.encyclopedie.

1968 L’Aspirant (short film)

1968 Source dinspiration (short film)

1970 Degal à Dialloubé

1971 Fête du Sanké

1972 Cinq jours d’une vie ( Five days in a Life)

Premiado em Carathage Film Festival. Tema da juventude e da vagabundagem.

1975 L’homme et ses idoles ( short film)

1975 Den muso(La Fille/The Girl).

Seu primeiro longa-metragem em língua bambara, primeiro no festival internacional de Carthage, interditado pelas autoridades. Foi banido pelo Malian Ministre of Culture por ter aceitado French foundations.

1975_1978 Baara (Le Travail/Work)

Recebeu prêmio FESPACO

1978 Chanteurs traditionnels des lles Seychelles

1982 Finye( Le Vent)

1987 Yellen(La Lumiére/Light).

Recebeu o Jury Prize no Cannes Film Festival.

1987_1995 Waati (Time). Recebeu a Palme d’Or em Cannes Film Festival.

2009 Tell me who are you

Fonte: Levantamento em sites na internet  acessados em abril de 2012 e obras sobre cinema africano. Ver relação de endereços nas notas finais.



Como assinalamos anteriormente, Cissé é, sobretudo, um grande poeta e um extraordinário contador de histórias, que vem apresentando um papel no reconhecimento da África pela via do cinema. A maioria dos sites internacionais consultados, principalmente os organismos voltados para os direitos humanos (UNESCO, entre outras) e outras organizações voltadas para a difusão e divulgação da cultura, mencionam o valor e importância das suas realizações no mundo contemporâneo.


3. YELLEN (La Lumiére, 1987; A Luz, 1987)

A ficha técnica oferecida por um dos mais consultados bancos de dados da internet IMDb, informa que Yellen foi produzido com apoio dos seguintes países: Mali/Burkina Faso/França/Alemanha Oriental/Reino Unido. A intensidade e variedade do apoio são informações ainda não encontradas. Contudo, pela quantidade de sites e eventos promovidos no âmbito dos países francófonos podemos supor de que a França tem relevo. Tem como tempo de duração, 01h45min minutos. As sinopses encontradas assinalam a temática em foco, com algumas variações de ênfase e leituras consideradas básicas(4).



1. Um olhar sobre A LUZ.

A abertura do filme emite um enunciado que requer atenção, acompanhado de uma trilha sonora especial, lê-se:
o calor

faz o fogo

e os dois mundos ( terra e céu)

existem na luz

YEELEM (A LUZ)

o Komo é para os bambaras

a encarnação do saber divino

seus ensinamentos estão baseados

no conhecimento dos signos

e dos tempos e dos mundos

abarca todos os campos da vida e de saber

o Kore é a sétima e última sociedade de iniciação bambara

seu símbolo é o abutre sagrado

ave de espaços abertos, da casa, da guerra, do saber e da morte

seu emblema é o carvalho de madeira

símbolo da diligência do espírito humano

seu centro, uma tábua lavrada chamada Kore “Kaman”

ou a asa do Koré

o Kolonkallam ou o martelo mágico serve para encontrar o que se perdeu

a asa do Koré é usada em Mali há milhares de ano

Os signos e os símbolos são recorrentes: o galo em sacrifício, a criança e a cabra, o banho em leite na lagoa, o fetiche no pescoço, e muitos e muitos outros, apresentados no filme.

Os planos do filme estão repletos de significados e símbolos, entre eles: o feiticeiro e suas invocações_ visões que aparecem na água_ os pedidos de proteção para o filho_ aparições que prognosticam um bom destino_ os poderes e forças da magia_ os seres da mata_ a imitação do canto dos pássaros e berros da cabra_ são, entre outros planos do filme eivados de significados e interpretações.

O filme enuncia uma evocação à cultura Mali de milhares e milhares de anos. Filme instigante e provocador que requer várias sessões para uma possível aproximação da cinematografia de um africano da dimensão de Souleymane Cissé.

Notas:

1. Breves comentários para discussão após a sessão do filme Yeelen (A Luz), 1987. Seminário Temático em História. FFCH/UFBA. Prof. Valdemir Zamparoni. Abril de 2012. Por: Stela Borges de Almeida http://www.stelalmeida.blogspot.com/

2. FESPACO. Festival Panafricain du Cinéma et de la Télévision de Ouagadougou. Catalogue Officiel; Festival de Cine Africano, Tarifa –Cádiz, España; Festival Cinema Africano D’Asia e America Latina, Milano; Afrika Filmfestival, Leuven. Os catálogos destes festivais foram cedidos pela Jornada Internacional de Cinema da Bahia para consulta e pesquisa.

3. Para detalhamento, consultar: Escritos sobre cinema: trilogia de um tempo crítico. Salvador: EDUFBA: Azouge Editorial, 2010.

4. Sites visitados para consulta, acessados em abril de 2012.

http://en.wikipedia.org/wiki/Souleymane_Ciss%C3%A9

http://www.imdb.com/title/tt0094349/

http://www.fipresci.org/world_cinema/south/south_english_african_cinema_souleymane_cisse.htm

http://www.forum-avignon.org/en/who-souleymane-cisse

http://www.unesco.org/en/2010-international-year-for-the-rapprochement-of-cultures/high-panel-on-peace-and-dialogue-among-cultures/composition-of-the-high-panel-of-18-february-2010/souleymane-cisse/

http://hcl.harvard.edu/hfa/films/2001novdec/cisse.html

http://cinema.encyclopedie.personnalites.bifi.fr

Salvador, abril de 2012.
Stela Borges de Almeida stelaborges@uol.com.br.



















quarta-feira, 9 de maio de 2012

Iêda Marques: lembranceiras, imaginário e realidade.


O livro da fotógrafa Iêda Marques lançado ontem, em noite de autógrafo, no Foyer do Teatro Castro Alves, Salvador-Bahia ao som de cantoria do Grupo Reisado Terno de Ciganas de Caeté-Açu. Um trabalho de longa caminhada pelo Cerrado e Caatinga, Chapada Diamantina-Bahia, retratando comunidades e suas riquezas através de um olhar de sensibilidade, delicadeza e de quem tem um sorriso como marca para enfrentar com coragem e disposição os desafios que atravessam as populações rurais.

Conheci Iêda nos anos oitenta, quando num trabalho de extensão universitária em comunidade periférica de Salvador, tentávamos encontrar melhores acessos e inclusões destas populações. Iêda nos acompanhou em várias reuniões e retratou um grupo de alunos(as) que receberam suas fotos como um presente. Sabiam desde então, que estavam convivendo com um olhar cuidadoso das suas experiências de vida.

Obrigada Iêda pelo convite, pelo prazer do abraço e da amizade e pela chance de compartilhar com as "meninas mambaças" neste encontro dos retratos que mostra a singularidade/diversidade das culturas do sertão, tão aviltadas mas que seguem caminhando.

Iêda Marques: Lembranceiras, imaginário e realidade. Lauro de Freitas: Solisluna Editora, 2012
http://www.iedamarques.com/

sábado, 5 de maio de 2012

Oficina Educação Digital - NEPEA/UFBA


Oficina Experimental de Educação Digital realizada no Espaço Cultural Pierre Verger, abril de 2012. Grupo de professores e alunos em aprendizagem e ensino: Albenia Fonseca, Almir Requião, Isabelle Blengini (Nepea/Ufba), Luciana Oliveira ( Coord. Oficina), Getúlio de Menezes, Stela Borges de Almeida e participantes do Espaço Cultural Pierre Verger.

Nota: O vídeo é experimental e encontra-se ainda sem edição, mostra, entretanto, a disposição do grupo para o trabalho. Para mais informação, consultar site do  Espaço Cultural Pierre Verger.

domingo, 22 de abril de 2012

http://cadernodecinema.com.br/blog/ponto-final/



PONTO FINAL DA JORNADA INTERNACIONAL DE CINEMA DA BAHIA


Por Guido Araújo


Atendendo ao convite de Jorge Alfredo para escrever uma matéria para o primeiro número da revista Caderno de Cinema, achei que era oportuno e o melhor espaço para explicar porque estamos chegando ao fim da Jornada Internacional de Cinema da Bahia, após praticamente quatro décadas de existência.

Acredito que a Jornada na sua longa trajetória cumpriu o seu papel como espaço independente de promoção de um cinema cultural, que tinha como destaque principal os valores positivos do ser humano. Apesar de continuar acreditando nos mesmos ideais de chegar um dia, através da luta e trabalho, a um mundo mais humano, mais justo e democrático para todos, acho que cabe agora aos mais jovens prosseguir a caminhada, observando os atuais anseios da sociedade baiana.

Surgida em 1972, num momento difícil da realidade brasileira com o Governo Médici à frente da Ditadura, a Jornada, ainda denominada Baiana de Curta Metragem, chegou despretensiosa, mas já com o espírito de luta como espaço de resistência e promoção do cinema baiano e brasileiro.

Cumprindo o seu primeiro papel ao tirar o meio cinematográfico baiano de estado de letargia de então, um ano depois a Jornada já voltava nordestina, mas com dimensão nacional, para dar início a uma trajetória histórica do cinema brasileiro, com a criação da Associação Brasileira de Documentaristas-ABD, que surgia como primeira entidade cinematográfica brasileira de âmbito nacional. Também tinha início a retomada do movimento cineclubista brasileiro, esmagado pela Ditadura, desde o ano de 1969.

A partir daí, a Jornada foi num crescimento constante, fortalecendo o seu ideário de luta, resistência e promoção do cinema independente internacional, sobretudo da América Latina e das cinematografias dos países que lutavam pela sua afirmação e independência e que, normalmente, não chegavam até o público brasileiro por causa da censura ditatorial.


Finalmente, em 1985, por ocasião da 14ª edição, a Jornada passa a se chamar Internacional de Cinema da Bahia, tendo sido inaugurada no dia 09 de setembro pelo primeiro Ministro da Cultural do Brasil, Prof. Aluísio Pimenta. Naquele momento a Jornada ganhava também o reconhecimento oficial pela sua identidade, o que levaria o cineasta Tuna Espinheira a declarar: “A Jornada é o único festival de cinema do Brasil onde a vedete no ‘set’ de debates é a perspectiva de saída do filme cultural. A Jornada de Cinema da Bahia, hoje transformada em evento internacional do Terceiro Mundo, permanece fiel ao seu lema de sempre POR UM MUNDO MAIS HUMANO.”


Ao longo de todos estes anos, a Jornada trouxe à Bahia grandes mestres do cinema brasileiro e internacional e contou com a expressiva participação dos cineastas baianos. Por ocasião do evento foram no decorrer dos anos mostrados ao público participante novas produções baianas e brasileiras, assim como inúmeros filmes emblemáticos da cinematografia mundial, além de exibir, pela primeira vez no país, algumas produções marcantes de várias partes do mundo. As Jornadas ofereceram também a todos os interessados várias mostras informativas, seminários internacionais, debates e exposições. A partir da 6ª Jornada (1977) começou a ser editado o Jornal da Jornada, uma rica fonte de informações e comentários sobre o evento e sobre a produção independente cinematográfica. Cada Jornada teve o seu Catálogo, informando a programação do Concurso que, na primeira edição foi para os filmes produzidos na Bahia, na segunda os filmes feitos no Nordeste ou sobre o Nordeste, na terceira a produção brasileira que se estendeu a toda a América Latina, ampliando depois o leque das inscrições para o concurso também para os países lusófonos e para os países da língua espanhola, resultando no concurso Afro-ibero-latino-americano. A evolução das tecnologias de comunicação trouxe novos suportes digitais e, ao lado do tradicional concurso de filme, foi criado o concurso de vídeo. O material publicado desde 1972 até 2011 (Jornal da Jornada, Catálogos da programação, Publicações dos seminários em forma de livros ou anais, Catálogos das exposições e registros cinematográficos e digitais) está aí esperando para ser analisado e avaliado pelos pesquisadores interessados em resguardar a memória de um evento que faz parte da história cultural da Bahia e do Brasil.


Do ponto de vista de recursos, a Jornada sempre enfrentou grande dificuldade financeira, em virtude da sua característica de evento independente e eminentemente cultural, mostrando-se avessa aos aspectos comerciais, badalativos e característicos da mediocridade mediática. No período trágico do Governo Collor, o festival esteve seriamente ameaçado, como de resto todo o cinema brasileiro. Nos anos de 1989 e 1990, a falta de recursos levou durante dois anos consecutivos à suspensão da Jornada, o mais antigo evento cinematográfico nas regiões Norte e Nordeste. A organização da Jornada decidiu nesses dois anos substituir o festival por um acontecimento mais simples, mas curto e mais barato: O Simpósio Internacional do Cinema na Defesa do Meio Ambiente. Os filmes exibidos, as palestras e os debates (a grande estrela foi o cacique Raoni, acompanhado do seu sobrinho Megaron) destas duas “pequenas jornadas” mostraram claramente que o cinema é um forte meio de comunicação para denunciar e também para conscientizar a população de todas as faixas etárias dos efeitos danosos que a devastação da natureza pode causar ao nosso planeta.

Contudo, foi dada a volta por cima e desde o início da década 90 do século passado, a Jornada voltou, focalizando assuntos de grande atualidade, como diversas questões ligadas ao meio ambiente (a destruição da camada de ozônio, ameaça da falta de água, o perigo dos agrotóxicos, etc), a problemática dos índios brasileiros, Nordeste e Euclides da Cunha, o caos das cidades, direitos humanos e cidadania. Todos estes temas bastante interessantes para os alunos de vários níveis, desde o primário até o superior. Neste contexto, a Jornada inclusive fez várias programações e exibições acompanhadas de debates em escolas públicas da capital baiana e do interior, assim como nas comunidades de bairro. Houve também apresentação das mostras dos filmes premiados da Jornada tanto na Bahia como em outros estados brasileiros e mesmo no exterior.

Não cabe aqui fazer todo um histórico destes 40 anos da Jornada com suas conquistas, dificuldades, acertos e erros. Manter a Jornada por tanto tempo foi possível graças a algumas instituições e, sobretudo, a várias pessoas, cineastas, críticos, artistas plásticos, pesquisadores, estudantes, professores e componentes da equipe da organização do festival. É o momento de agradecer a esta legião de amigos da Jornada que apoiaram o evento e expressar a profunda saudade pelos inúmeros companheiros que já partiram, mas que estarão sempre presentes na memória de um evento que começou modestamente como baiano e terminou internacional, com forte repercussão sobretudo na América Latina e nos países africanos de fala portuguesa.

Vale a pena ressaltar que em junho próximo o espírito da Jornada será levado ao RIO + 20, apresentando a mostra dos filmes sobre o perigo dos venenos que o Brasil consome através dos agrotóxicos (“O Veneno está na Mesa” de Sílvio Tendler, “Our Daily Poison” de Marie-Monique Robin e “Em busca da Terra sem Veneno” de Noilton Nunes). Estes filmes foram exibidos no ano passado durante a 38ª Jornada, acompanhados de palestras e animadíssimos debates, tendo incentivado o movimento contra o uso exagerado de defensivos agrícolas. O modesto festival baiano poderá mais uma vez contribuir nas ações ligadas às tentativas de garantir a continuidade da existência do nosso Planeta Azul e a humanidade em geral.

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