domingo, 28 de novembro de 2010

5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul

Salvador
De 03 a 09 de dezembro


Em 2010, a Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul completa cinco anos. Criada em 2006 para celebrar o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos a Mostra vem se firmando como um espaço de reflexão, inspiração e promoção do respeito à dignidade intrínseca da pessoa humana.
O Brasil tem buscado fortalecer a educação e a cultura em Direitos Humanos, visando à formação de uma nova mentalidade para o exercício da solidariedade, do respeito às diversidades e da tolerância. Como expressão artística, o cinema possui uma linguagem própria, capaz de tocar pessoas, despertar sentimentos, sensibilizar olhares e construir identidades comuns. Desta forma, a arte permite conhecer e interagir.
Inicialmente exibida em quatro cidades, a Mostra veio crescendo a cada ano. Esta quinta edição estará presente em 20 capitais brasileiras, percorrendo as cinco regiões do Brasil. No ano passado, registrou um público superior a 20 mil pessoas, em 16 cidades. A estimativa para este ano é que este número seja duplicado, pelo aumento no número de cidades participantes e pelo reconhecimento que o evento já conquistou.
A 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul é uma realização da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, com produção da Cinemateca Brasileira, patrocínio da Petrobras e apoio do SESC-SP, da TV Brasil e do Ministério das Relações Exteriores. Com todas as sessões gratuitas, sempre em salas acessíveis para pessoas com deficiência, a Mostra é um convite ao olhar e à sensibilidade cinematográficos, que traduzem temas atuais de Direitos Humanos e despertam a reflexão e a construção de identidades na diversidade.
Prevista no eixo Educação e Cultura em Direitos Humanos do Programa Nacional de Direitos Humanos/PNDH-3, que foi apresentado pelo presidente Lula em 2009, a realização da Mostra possibilita que o cinema seja reconhecido como importante instrumento para o debate, a promoção e o respeito aos direitos fundamentais. Em sua quinta edição, a Mostra já pode ser vista como um marco consolidado no calendário anual dos Direitos Humanos em nosso País. Ela está destinada a prosseguir e se ampliar sempre mais nos próximos anos.
Participe você também desta edição comemorativa!


MAIS INFORMAÇÕES EM:
http://www.cinedireitoshumanos.org.br/2010/salvador.

Programação
03/12 - SEXTA-FEIRA


19h – Sessão de Abertura
VIDAS DESLOCADAS - João Marcelo Gomes (Brasil, 13 min, 2009, doc)
PERDÃO, MISTER FIEL - Jorge Oliveira (Brasil, 95 min, 2009, doc)
Classificação indicativa: 14 anos


04/12 - SÁBADO
13h
A VERDADE SOTERRADA - Miguel Vassy (Uruguai/ Brasil, 56 min, 2009, doc)
ROSITA NÃO SE DESLOCA - Alessandro Acito, Leonardo Valderrama (Colômbia/ Itália, 52 min, 2009, doc)
Classificação indicativa: 12 anos

15h
GROELÂNDIA - Rafael Figueiredo (Brasil, 17 min, 2009, fic)
MUNDO ALAS - León Gieco, Fernando Molnar, Sebastián Schindel (Argentina, 89 min, 2009, doc)
Classificação indicativa: 12 anos

17h
A BATALHA DO CHILE II – O GOLPE DE ESTADO - Patricio Guzmán (Chile/ Cuba/ Venezuela/ França, 90 min, 1975, doc)
Classificação indicativa: 12 anos

19h
ABUTRES - Pablo Trapero (Argentina/ Chile/ França/ Coréia do Sul, 107 min, 2010, fic)
Classificação indicativa: 16 anos


05/12 – DOMINGO
13h – Audiodescrição
AVÓS - Michael Wahrmann (Brasil, 12 min, 2009, fic)
ALOHA - Paula Luana Maia, Nildo Ferreira (Brasil, 15 min, 2010, doc)
CARRETO - Marília Hughes, Claudio Marques (Brasil, 12 min, 2009, fic)
EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO - Daniel Ribeiro (Brasil, 17 min, 2010, fic)
* Sessão com audiodescrição para público com deficiência visual.
Classificação indicativa: 12 anos

15h
HÉRCULES 56 - Silvio Da-Rin (Brasil, 94 min, 2006, doc)
Classificação indicativa: 12 anos

17h
DIAS DE GREVE – Adirley Queirós (Brasil, 24 min, 2009, doc)
PARAÍSO - Héctor Gálvez (Peru/ Alemanha/ Espanha, 91 min, 2009, fic)
Classificação indicativa: 12 anos

19h
CARNAVAL DOS DEUSES - Tata Amaral (Brasil, 9 min, 2010, fic)
MEU COMPANHEIRO - Juan Darío Almagro (Argentina, 25 min, 2010, doc)
LEITE E FERRO - Claudia Priscilla (Brasil, 72 min, 2010, doc)
Classificação indicativa: 16 anos


06/12 – SEGUNDA-FEIRA
13h – Audiodescrição
PRA FRENTE BRASIL - Roberto Farias (Brasil, 105 min, 1982, fic)
* Sessão com audiodescrição para público com deficiência visual.
Classificação indicativa: 14 anos

15h
A CASA DOS MORTOS - Debora Diniz (Brasil, 24 min, 2009, doc)
CLAUDIA - Marcel Gonnet Wainmayer (Argentina, 76 min, 2010, doc)
Classificação indicativa: 14 anos

17h
ALOHA - Paula Luana Maia / Nildo Ferreira (Brasil, 15 min, 2010, doc)
AVÓS - Michael Wahrmann (Brasil, 12 min, 2009, fic)
CINEMA DE GUERRILHA - Evaldo Mocarzel (Brasil, 72 min, 2010, doc)
Classificação indicativa: 12 anos

19h
KAMCHATKA - Marcelo Piñeyro (Argentina/ Espanha/ Itália, 103 min, 2002, fic)
Classificação indicativa: livre


07/12 – TERÇA-FEIRA
13h
DOIS MUNDOS – Thereza Jessouroun (Brasil, 15 min, 2009, doc)
AMÉRICA TEM ALMA - Carlos Azpurua (Bolívia/ Venezuela, 70 min, 2009, doc)
Classificação indicativa: 12 anos

15h
VLADO, 30 ANOS DEPOIS - João Batista de Andrade (Brasil, 85 min, 2005, doc)
Classificação indicativa: 14 anos

17h
A HISTÓRIA OFICIAL - Luis Puenzo (Argentina, 114 min, 1985, fic)
Classificação indicativa: 12 anos

19h
XXY - Lúcia Puenzo (Argentina/ França/ Espanha, 86 min, 2006, fic)
Classificação indicativa: 16 anos


08/12 – QUARTA-FEIRA
13h
MÃOS DE OUTUBRO - Vitor Souza Lima (Brasil, 20 min, 2009, doc)
JURUNA, O ESPÍRITO DA FLORESTA - Armando Lacerda (Brasil, 86 min, 2009, doc)
Classificação indicativa: 12 anos

15h
HALO - Martín Klein (Uruguai, 4 min, 2009, fic)
ANDRÉS NÃO QUER DORMIR A SESTA - Daniel Bustamante (Argentina, 108 min, 2009, fic)
Classificação indicativa: 12 anos

17h
MARIBEL - Yerko Ravlic (Chile, 18 min, 2009, fic)
O QUARTO DE LEO - Enrique Buchichio (Uruguai/ Argentina, 95 min, 2009, fic)
Classificação indicativa: 14 anos

19h
O FILHO DA NOIVA - Juan José Campanella (Argentina/ Espanha, 124 min, 2001, fic)
Classificação indicativa: livre


09/12 – QUINTA-FEIRA
13h
ENSAIO DE CINEMA - Allan Ribeiro (Brasil, 15 min, 2009, fic)
108 - Renate Costa (Paraguai/ Espanha, 91 min, 2010, doc)
Classificação indicativa: 12 anos

15h
CARRETO - Marília Hughes, Claudio Marques (Brasil, 12 min, 2009, fic)
BAILÃO - Marcelo Caetano (Brasil, 17 min, 2009, doc)
DEFENSA 1464 - David Rubio (Equador/ Argentina, 68 min, 2010, doc)
Classificação indicativa: 12 anos

17h
O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS - Cao Hamburger (Brasil, 110 min, 2006, fic)
Classificação indicativa: 10 anos

19h
EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO - Daniel Ribeiro (Brasil, 17 min, 2010, fic)
IMAGEM FINAL - Andrés Habegger (Argentina, 94 min, 2008, doc)
Classificação indicativa: 12 anos

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

arca russa

Assisti recentemente Arca Russa. O filme traz questões que requer atenção. Uma discussão fundamentada sobre a História Cultural Européia, dentre outras. No impedimento de realizar uma reflexão merecida ao trabalho de Aleksandr Sokúrov, transcrevo artigo do site contracampo, devidamente endereçado, um começo. Penso que funcionará para mim própria como um lembrete na difícil tarefa que me encontro de retomar anotações, articulá-las e criar focos temáticos. Lê quem quer, ainda bem.

Arca Russa,
de Alexandr Sokurov


Ruski kovcheg, Rússia, 2002

http://www.contracampo.com.br/43/arcarussa.htm

O vagar do personagem começa após um "acidente não especificado" - uma ruptura histórica? - que esvazia parte de sua identidade e de sua memória. Ele é apenas uma voz sussurante e sem imagem, como a dos narradores fantasmagóricos de Aleksandr Sukúrov, sempre no limbo entre o "ter sido" e o "continuar sendo", sem noção de seus lugares no mundo, sem consciência de si próprios e de seus contextos, perdidos em uma existência sem sentido. Assim começa Arca Russa. Com um personagem perdido, em estado de confusão, sem classe definida, sem ideologia aparente, apenas um ser sem imagem.

"Abro os olhos e não vejo nada", diz o narrador, cujo ponto de vista será sempre o da câmera. "Onde estou?", pergunta-se. Pela roupa dos oficiais, crê estar no século XIX. Ela vaga pelos corredores do Museu L´Hermitage, em São Petersburgo, e se perde nos s labirintos da História, em uma memória coletiva criada pela classe dominante, a czarista, na qual não sabe qual é seu papel naquela encenação. História como um teatro, representação/recorte da realidade. O narrador interage com os quadros ali expostos, como se fossem seres vivos (não são?), de modo a construir, pela soma dos fragmentos pictóricos, um processo artístico-histórico, ensaiado, em registro mais metafísico, em Elegia de Uma Viagem.

Entremos logo na questão do uso do plano-sequência de mais de hora e meia de duração, viabilizado por uma tecnologia digital especialmente elaborada para isso. São mais de 300 anos de História e de Arte – sem fronteiras entre uma coisa e outra - sintetizada em 30 e tantas salas do L´Hermitage. O museu torna-se um divã de um país. Todos os tempos convivem em único espaço, no qual o passado faz parte do presente, pois eternizado pela Arte e pela História, mais uma vez sem fronteiras entre uma e outra. Daí a opção pelo plano-sequência, pela imagem sem cortes, pelo fluxo contínuo, pois, por trás do impressionante e bem executado desafio técnico, existe uma pertinência estética, em sintonia com um conceito anterior à forma: a da convivência dos tempos em todos os tempos.

Há quem veja nesse procedimento algo de reacionário e manipulador. Planos sem cortes revelariam apenas um ponto de vista. Mas o corte é menos manipulador e tendencioso? Para além do conceito, a prática, tecnicamente, resulta primorosa. A iluminação varia de acordo com o ambiente. As imagens alteram a percepção de profundidade e perspectiva, ora aproximando o fundo da cena, ora distanciando-o do nosso olhar. Muito se questiona se não é mesmo um único plano-sequência, se quando a câmera fecha em uma luva, ou passa por trás de uma pilastra, não haveria um corte. Importa mesmo? Não é o efeito que vale ser avaliado? Pois a fotografia de Tillman Butner, com ou sem corte, gera efeitos interessantíssimos. E em sintonia com a proposta.

Arca Russa é coerentíssimo na obra de Sukúrov. A eternização do passado pode ser identificada, em uma chave mais espiritual e menos político-factual, também em vários outros momentos sokurovianos. A morte permanece vida, na lembrança e na dor dos que permanecem vivos, em Dolce e Mãe e Filho. Em Elegia Oriental, filma-se a morte, por meio de uma alma desgovernada (como todo narrador típico do cineasta), mas se especula, essencialmente, sobre o sentido da vida. Tudo é vida em Sokurov. Dos museus aos fantasmas. Seu conceito de História - e não custa lembrar que o diretor era professor da disciplina - é banhado na metafísica.

Não parece ser casual que, com sua formação e a paixão pela literatura, optou por se expressar no cinema. Em vez de apenas dizer, ou analisar, ou concluir, como nos livros (históricos ou de ficção), deixa questões em aberto. Exibe pelo que está fora do quadro, fala pelo silêncio, revela pela omissão e conclui com ausência de conclusão. O cinema é sim a arte da superfície, mas também pode, ao passar pela superfície da imagem, vislumbrar o invisível e o indizível. Até porque, em vez de explicar, Sukurov especula. Sua opção é pela sombra, não pela luz. Isso talvez explique a prática habitual de recolher as cores – em vídeo ou película – para acentuar o que está por trás delas.

E a plasticidade é algo muito comentado quando se fala de Sokurov. Seu fascínio pela pintura, às vezes, rende certa confusão. Tende-se a vê-lo como cineasta pictórico. Não. Sokurov não transforma o cinema em pintura, como algumas retrógadas experiências estéticas, mas sim a pintura em cinema. Há uma larga diferença nisso. A pintura é fragmento de vida para o diretor. É História. Eternização de um momento, síntese de um mundo. Algo vivo, a ser questionado, com o que se dialoga. No cinema, ela se move. Faz o tempo se tornar personagem, fala e indaga sobre qual a razão de tudo. Sem respostas

Voltemos à Arca Russa. Apenas um homem enxerga o narrador e vem conversar com ele. Fala russo, mas é francês, aparentemente. Esse personagem ataca a mitificação dos tiranos russos, em especial Pedro, O Grande, mas também é fascinado por essa tirania. O russo-francês será um guia pela excursão pela Rússia pelo L´ Hermitage. Sua binacionalidade é metafórica. Ele representa o conflito de identidade da aristocracia e da arte russa, com um pé na tradição local e outro nos ventos soprados da Europa. Essa obsessão por fazer parte do universo europeu, sem deixar de lado a xenofobia, é um traço russo muito abordado pela literatura do país, principalmente por Turgueniev, com sua investigação sobre o caráter nacional, a tal russalidade. O guia insiste: "os russos estão sempre a copiar, não têm idéias próprias". A russalidade aristocrática seria um híbrido esquisofrênico, que busca sua identidade nas identidades dos outros. Pois intereressa-lhe pertencer ao universo aristocrático, não aos limites culturais de um país à margem do centro civilizado.

Mas este é um filme que cultiva as dúvidas. A História é turva. Vê-la com nitidez seria manipulação e reducionismo. A câmera subjetiva assume a condição de um ponto de vista, de uma verdade subjetiva, anti-platônica, quase nietzschiana, que busca uma perspectiva, não um núcleo de verdades absolutas que faz tudo caber em um molde. O tom de lamento ao se olhar para a pompa czarista perdida talvez diga menos de um espírito saudoso e mais de uma reação ao cenário cinzento do momento atual e aos anos pouco coloridos do sistema soviético. Não é um filme profundo, no sentido de seu mergulho vertical, mas tem longo alcance horizontal, abarcando uma série de campos. Arca Russa abre portas em vez de fechá-las. "Estamos condenados a navegar sempre", conclui o narrador ao final. Como em boa parte do cinema sokuroviano, fala de um navegar sem ter bússola como parâmetro, pois o passado, induz o diretor, não é necessariamente farol para o futuro.
Cléber Eduardo

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

relatos de experiências



















Há na internet considerável relatos de viagens, experiências únicas para os que tiveram a sorte de aventurar-se em descobertas. Bem verdade que revelam inusitados gostos e estilos, alguns bastante simples, outros sofisticados e alguns inteiramente desprovidos de gosto. Para uns fontes de conhecimento, para outros fonte de consumo, novos rumos, novos destinos, para outros jeito de passar o tempo do tédio. Há também os que viajam com a imaginação. A seguir transcrevo uma postagem encontrada na internet lembrando que fui convidada para um chá de rosas turcas antes de viajar, aproveito para agradecer a oportunidade que tive de apreciar a sofisticação e elegância do ritual. Para quem quiser, o enderêço do blog consultado e copiado está no final do post. Um excelente chá de rosas.


Rosas turcas
As montras das pastelarias de Istambul iluminadas ao fim da tarde são irresistíveis porque é nessa hora que as baclava e os lokum brilham mais dourados e luminosos. Quase a chegar à ponte Gálata, parámos para olhar as doces geometrias numa montra e quando nos preparávamos para tirar mais uma fotografia da doçaria bem encenada, alguém vem de dentro e oferece-nos dois lokums róseos: “Provem rosas turcas!”. Apesar daquele não ser o melhor aperitivo para o jantar que se aproximava, não resistimos ao convite daquele homem que esperava expectante pela nossa opinião. A massa de açúcar foi-se desfazendo lentamente na boca e, pela primeira vez, provámos rosas que juraríamos ser vermelhas. Alguma coisa naquele sabor perfumado nos remetia para a cor forte de veludo macio.

O homem não nos queria vender delícias turcas. Pensamos que, ao ver-nos disponíveis por detrás do vidro da montra a admirar os doces patamares, lhe apeteceu conversar. E assim aconteceu: ouvimos durante mais de vinte minutos um turco de meia idade a discorrer sobre as rosas da Turquia. Soubemos então que existem mais de vinte espécies nativas de rosas turcas e que algumas delas crescem até em dunas de areia. As gul (rosa em turco) são usadas para vários fins mas destaca-se pelo seu valor económico e cultural a produção de attar de rosas que em árabe quer dizer fragrância. Colhidas ao nascer do sol, as pétalas são destiladas para se separar a água dos óleos essenciais. Foram os turcos otomanos que desenvolveram este processo e o espalharam pelas várias províncias do seu império por mais de cinco séculos. Para se produzir um kg de óleo são necessárias quatro toneladas de rosas o que aproxima o preço deste produto do preço do ouro. Tem origem na Turquia mais de 60% do óleo produzido no mundo.

A conversa prometia futuro mas o nosso compromisso para o jantar apressou o fim. Prometemos voltar um dia para comprar lokums de rosas e continuar a ouvir as histórias das rosas turcas que se combinam com a História da Turquia.

A partir desse fim de tarde, passámos a dar mais atenção ao lugar das rosas na vida e na cultura turcas. Estão presentes nos tapetes, nos azulejos, nos ornamentos em pedra e gesso em casas e palácios, na cerâmica, nas roupas preciosas dos sultões, na joalharia, nas lajes dos cemitérios … Nos mercados, as pétalas de rosas combinadas sugerem chás perfumados, os óleos das massagens frescura e relaxamento, o perfume de rosas promete memórias persistentes.

Outros testemunhos conduziram-nos à culinária: as rosas são usadas em várias receitas, destacando-se a geleia de pétalas de rosas e o pudim de Noé. A receita da geleia, excelente no pão ao pequeno almoço, e a história do Noé seguem no atalho já a seguir!

O pudim de Noé, é um dos nomes que se dá ao asure. Segundo a lenda, Noé vendo que havia poucos mantimentos na arca, ordenou que se cozinhassem todos juntos. O resultado foi excelente e, assim, teria nascido o asure. Este pudim, para além da água de rosas, inclui uma longa lista de ingredientes: feijões brancos, nozes, leite, açúcar, amêndoas, uvas, grãos de romã, flocos de trigo, arroz e muito mais! É um pudim ainda muito apreciado entre os mais velhos, mas o trabalho que dá afasta este prato tradicional das cozinhas dos mais jovens.

Para evitar muito trabalho, segue a geleia que colocará as rosas, de forma fácil, na mesa…

Geleia de pétalas de rosas

650 gr de pétalas de rosas frescas; 2 kg de açúcar em pó ; sumo de um limão

2 chávenas e ½ de água mineral sem gás; 1 clara de ovo

Lavam-se as pétalas com água e retiram-se as suas bases esbranquiçadas. Numa taça colocam-se alternadamente as pétalas e metade do açúcar. Espalha-se o sumo de limão guardando-se duas colheres de chá. Cobre-se a taça com um pano e reserva-se.

Numa outra taça, colocam-se as bases esbranquiçadas das pétalas e deita-se sobre elas 2 chávenas e ½ de água a ferver. Cobre-se com um pano. Passados dois dias, côa-se o líquido onde repousaram as bases da pétalas e coloca-se num tacho que vai ao lume com o resto do açúcar e com a clara do ovo. Deixa-se ferver até ganhar ponto de xarope. Acrescenta-se o líquido das pétalas e deixa-se ferver até ficar dourado e depois as duas colheres de chá de limão. Retira-se do lume deixa-se arrefecer e guarda-se em frascos esterilizados..

fonte: http://istambul5dias.net/?p=658

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

memórias




















(...) Seu nome significava Rosa Negra em persa, mas até onde eu podia avaliar, ninguém nas margens das quais ela mergulhava feliz no mar, e nenhuma das suas colegas no liceu francês, sabia disso_ porque seus cabelos longos e brilhantes não eram negros, mas castanhos, e seus olhos um tom apenas mais escuros. Quando eu engenhosamente lhe disse isso, ela ergeu as sobrancelhas como sempre fazia quando ficava séria de repente e, projetando os lábios só um pouco, disse que era claro que ela sabia o que seu nome significava, e que no caso dela era uma homenagem à sua avó albanesa. (...) Da forma como observara outros fazerem, abracei-a, e depois puxei-a para perto, como que por instinto, e reparei que os seus cabelos cheiravam a amêndoa. Eu adorava os pequenos movimentos dos seus lábios quando ela comia e a maneira como ela ficava parecida com um esquilo quando alguma coisa a inquietava"

trechos transcritos do Primeiro Amor de orhan pamuk, livro: istanbul_memória e cidade, são paulo:companhia das letras, 2007

imagem reproduzida do arquivo ara güller, allah old mosque, edirne, 1956.