quinta-feira, 6 de novembro de 2008

De Münsterberg a Emigholz: uma iniciação.











Série da obra de Heinz Emigholz. A intenção da série parece ser a de propor uma experiência perceptual, de conhecimento.



Nunca tinha ouvido falar em Hugo Münsterberg. Consultando a estante de livros de cinema na Biblioteca da Universidade Federal da Bahia, há pouco tempo atrás, localizei a antologia A experiência do cinema, organizada por Ismail Xavier. Folheando numa leitura diagonal, achei que esta antologia deveria compor a pilha de livros em consulta que, pacientemente, tenho tentado percorrer, ainda que saiba uma missão ad eternum (1)

Todos os outros autores citados, Béla Balázs, Maurice Merleau-Ponty, André Bazin, Edgar Morin, Serguéi Eisntein e outros, indicados no índice desta antologia publicada em 1983, fazem parte do repertório que aos poucos tento construir sobre cinema. Estes autores embora consultados, não eram trazidos como primazia num objeto de estudo mais recentemente focado, ou seja, na compreensão da linguagem cinematográfica em suas dimensões sintática e semântica.

Considerado pioneiro, Hugo Münsterberg, psicólogo alemão, professor da Universidade de Harvard, escreveu Photoplay: a psychological study, que segundo I.Xavier, antecipa idéias que iremos encontrar em Rudolf Arnheim (em O cinema como Arte), idéias relativas à psicologia do “fotodrama” e dos princípios gerais de sua estética. Estudo que examina as ilusões de profundidade e movimento contínuo criadas a partir de projeções descontínuas de fotografias estáticas. A aparência de profundidade é aceita pelo espectador que se envolve no “como se” da ficção, mostrando que o espectador não é um elemento passivo, é alguém que usa de suas faculdades mentais para participar ativamente do jogo, preenchendo as lacunas do objeto com investimentos intelectuais e emocionais.

Diz Xavier, expandido as idéias de Münsterberg, o espectador é alguém que usa de suas faculdades mentais para participar ativamente do jogo. Esta concepção estética confere portanto uma posição privilegiada pois o mundo exterior se reveste de formas da consciência. Mais ainda, o cinema supera as formas do mundo exterior e ajusta os eventos às formas do mundo interior numa exaltação da “vitória da mente sobre a matéria”. Neste mundo interior, a atenção, a memória, a imaginação e a emoção ganham relevo especial.

As bases que fundamentam esses princípios são encontradas em Kant, também trazidas por J. Dudley Andrew em As principais teorias do cinema, este, outro livrinho que se encontra na pilha a que me referia anteriormente (2). Interessante verificar como este pioneiro que pensou o cinema indica um ponto de partida para verificarmos em que medida as relações entre a organização das imagens e o movimento da subjetividade operam. Se este princípio mantém-se ativo, ainda hoje, a despeito de uma revolução tecnológica que opera na engrenagem fílmica, é possível perceber a multiplicidade de transformações da subjetividade sob o predomínio das imagens. Ou não? Estou me referindo a uma série de filmes que tive oportunidade de assistir nos Seminários On Line, principalmente os de Heinz Emigholz (3).


Notas:
1. Há vários volumes para consulta. Cf. A experiência do cinema: antologia/Ismail Xavier org. Rio de Janeiro: Edições Graal: Embrafilmes, 1983.
2. Este livrinho trouxe-me de presente, J. Dudley Andrew. As principais teorias do cinema: uma introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2002.
3. As aulas dos Seminários On Line foram reproduzidas e consultadas em 2007/2008. A aula que me refiro, especificamente, intitulada A Região Central de Movimento. Heinz Emigholz e a Imagem-Percepção fizeram parte do quinto seminário.