sábado, 5 de junho de 2010

Kazimir Malevitch





















(...) A noção fundamental de elevação de um objeto cotidiano comum a obra de arte em Malevitch é que ser uma obra de arte não é uma propriedade inerente ao objeto; é o próprio artista que, ao apropriar-se do ( ou antes, de qualquer) objeto e colocá-lo em determinado lugar, transforma-o em obra de arte _ ser uma obra de arte não é uma questão de "por que", mas de "onde". E o que a disposição minimalista de Malevitch faz é simplesmente transformar-isolar- o lugar em si, o lugar vazio (ou muldura)com a propriedade protomágica de transformar qualquer objeto que se encontre em sua esfera em obra de arte. Em suma, não há Duchamp sem Malevitch: somente depois de o exercício da arte isolar o local/a moldura em si, esvaziar todo o seu conteúdo, é possível entregar-se ao ready-made. Antes de Malevitch, o urinol ainda seria um urinol, mesmo que fosse exposto na mais destacada galeria de arte.

Trecho extraído do ensaio: Matrix ou os dois lados da perversão. In: Slavoj Zizek op.cit. em postagens anteriores.

5 comentários:

Stela Borges de Almeida disse...

Caro wagner, estou atachando seu comentário ( sobre a entrevista de godard) porque acabo de ler a posição da Carta capital sobre Gaza, que considero de base, ou seja, com dados mais precisos e de análise. Atacho no espaço a seguir, aceitando seu convite a falar sobre Gaza. att. stela

olá. não conhecia ainda o seu blogue, mas digitando, "film socialism" no google, ele me apareceu em português. achei interessante poder ler o q as pessoas andam falando sobre o filme no brasil, visto q por aqui (digo paris, ou mesmo depois de cannes), o filme, ou mesmo godard, caíram no lugar do fetichismo, para ser visto, para ser “entendido”: "ah, sim, esse é mais um filme do godard". a partir daí, toda a seriedade que o diretor aporta na construção política de seu filme perde sua força social. acho isso uma pena, mas acho também q representa fielmente a cultura de nossa sociedade, dita contemporânea: q não está muito aí para as questões políticas e, sim, para o divertissement.

quanto ao livro e à entrevista, acho o sr. baecque um intriguista quase profissional. faltou fazer uma biografia com menos páginas e mais fotografias, para ser menos cínico e popular. com certeza isso é de interesse ao público q assiste "film socialism" comendo m&m's (fazendo uma alusão a um casal que estava sentado ao meu lado durante a sessão).

enfim, vamos falar sobre gaza, pq esse assunto anda matando. cinema ainda é tomado pelo geral como objeto inofensivo.

w.

Stela Borges de Almeida disse...

Gaza: bloqueio aos direitos humanos

Por trás da transformação de Gaza em campo de concentração está uma estratégia de isolamento do Hamas. O objetivo desta política de encarceramento, que tem o condão de punir coletivamente a população local, é tornar a vida insuportável atribuindo a responsabilidade pela crise ao grupo. Para o direito internacional, isto configura crime contra a humanidade. O ocidente, embora sempre pronto a condenar as violações do direito internacional e dos direitos humanos pelos países árabes ou muçulmanos, mantém um silêncio ensurdecedor diante do bloqueio de Gaza. O artigo é de Larissa Ramina.

Larissa Ramina

Dessa vez, a condenação da comunidade internacional foi unânime. O ataque israelense contra a frota de ajuda humanitária que tentava furar o bloqueio da Faixa de Gaza, em águas internacionais, provocou perplexidade ao redor do mundo.

Equivocaram-se os analistas que, num primeiro momento, discutiram o caso a partir da aplicabilidade ou não da legítima defesa por parte de Israel. Quaisquer explicações revelaram-se injustificáveis. Rapidamente, o foco concentrou-se no cerne da questão, que está na inaceitabilidade do bloqueio da Faixa de Gaza, imposto por Israel em 2007 depois que o Hamas, partido que venceu as eleições de 2006 sobre o Fatah, assumiu o poder no território.

A Faixa de Gaza consiste em um gueto de 352 km2, que abriga mais de um milhão e meio de palestinos, revelando uma densidade demográfica dramática. Cerca de dois terços são refugiados e descendentes de refugiados do conflito árabe-israelense de 1948.

Em 1940, após a invasão da Polônia em 1939, os nazistas encarceraram meio milhão de judeus no Gueto de Varsóvia. Muitos morreram de fome e em conseqüência de doenças. De maneira estranhamente similar, Israel encarcera mais de um milhão e meio de palestinos na Faixa de Gaza, em situação que faz lembrar aquela do Gueto de Varsóvia. Gaza é igualmente cercada de um muro, mas também conta com instrumentos de repressão como cercas eletrificadas e torres de controle.

O severo bloqueio mantém em poder de Israel o controle do espaço aéreo, das águas territoriais, do tráfego de mercadorias e do movimento da população. O único acesso de bens para Gaza são os diversos túneis de contrabando escavados abaixo da fronteira com o Egito. Desde a imposição do bloqueio, Gaza mereceu a trágica qualificação de um dos maiores campos de concentração a céu aberto existentes na atualidade. A absoluta maioria da população sobrevive graças ao apoio internacional. Os palestinos não são autorizados a viajar, a procurar trabalho em Israel, a pescar a certas distâncias da costa.

Por trás da transformação de Gaza em campo de concentração está uma estratégia de isolamento do Hamas. O objetivo desta política de encarceramento, que tem o condão de punir coletivamente a população local, é tornar a vida insuportável atribuindo a responsabilidade pela crise ao grupo. Para o direito internacional, isto configura crime contra a humanidade. O ocidente, embora sempre pronto a condenar as violações do direito internacional e dos direitos humanos pelos países árabes ou muçulmanos, mantém um silêncio ensurdecedor diante do bloqueio de Gaza.

De nada servirá atentar contra a população civil palestina ou atirar contra humanitários internacionais. O Hamas, produto do desespero, da humilhação, da privação dos direitos humanos impostos à população palestina e símbolo da resistência, persistirá.

Stela Borges de Almeida disse...

Amós Oz, intelectual israelense que representa a esquerda engajada, declarou com razão que o bloqueio da Faixa de Gaza origina-se da errônea suposição de que o Hamas pode ser derrotado pela força das armas, ou que o problema palestino pode ser esmagado, em vez de solucionado. Entretanto, a única maneira de remover o Hamas é chegar a um acordo para a criação de um Estado independente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, conforme as fronteiras definidas em 1967, com capital em Jerusalém Oriental. A paz só retornará de mãos dadas com a dignidade do Estado palestino, sem muros nas fronteiras. Muros, guetos, racismo, apartheid, deveriam ficar todos esquecidos no século XX.

Larissa Ramina, Doutora em Direito Internacional pela USP, professora da UniBrasil e da UniCuritiba.

Jonga Olivieri disse...

Pouco conheço deste autor que além de criar um movimento na arte moderna, pintou um quadrado dentro de outro (não sei se preto no branco ou vice-versa)... Mas algo assim! De qualquer maneira será que a ordem dos fatores alteraria o produto? Talvez até sim, pois como bem disseste "antes dele o urinol ainda seria um urinol" (sic), o que vem a ser uma realidade, pois o olhar humano tem a capacidade de criar situações e saídas por vezes absurdas.
Falar nisto, vi "Matrix" e achei muito interessante. Apesar dos 'clichês'; ou será que são propositais? Depois fale um pouco sobre isto, já que é me parece uma 'expert' na série e eu vi apenas o primeiro... Somente agora!

Stela Borges de Almeida disse...

Bem, falar com expert em História da Arte gera essas confusões. Não conheço o assunto, desculpe. Aliás o "Quadrado negro sobre fundo branco" não está ao lado do texto citado nesta postagem, extraído do livro Ensaios sobre o cinema moderno ( este devidamente citado nas postagens anteriores). Começo a me dar conta das limitações em querer adentrar-me por assuntos que exigem mais do que breves citações num espaço, literalmente, um quadrado branco da web. Mas, levanta uma possibilidade, trazer a obra de Kazimir Malevitch para a cena. Vai ao assunto quem se dispõe, nesse sentido a web democratiza, sim.

Mas, voltando a Matrix, tinha horror antes de conhecer o trabalho do Zizek, êle apresenta uma crítica irônica e deafiadora, inicia comentando sobre o espectador idiota ( claro, é sempre o Outro) que senta na poltrona ao lado ( exclama, assim como os devoradores de pipocas na obra setariana que não estão ligados na obra,"meu deus, não existe realidade" ) mais isso dá um longo texto e é um assunto recente na minha estante. Ví sim a trilogia, quase que como um dever de ofício, ou seja, entender os dois lados da perversão.

Gostou do filme?