segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Conversas Sobre Cinema: Pensatas
















Temos o imenso prazer de postar hoje um bate-papo sobre cinema.
Escolhemos o Jonga Olivieri http://jongas.blogspot.com/ que foi-nos apresentado através do blog do Andre Setaro. Jonga, de forma simpática e bem-humorada, tem escrito suas opiniões e idéias sobre as postagens que venho fazendo sistematicamente aqui neste blog, contribuindo para melhor estudo das relações entre cultura e política tomando como referência o cinema.

Enviei as perguntas e êle gentilmente as respondeu, antes porém disse: Na verdade, o André sabe muito mais de cinema do que eu. Nem se compara! Sou um curioso. Uma formiguinha diante dele. Sei alguma coisa e pesquiso sobre o assunto. Amo mesmo o assunto. Mas é que o Setaro é uma das pessoas que mais conhecem (e compreendem) cinema em toda a sua extensão neste país. Eu sempre digo pra ele, que ocupou a (competente) cadeira de Walter da Silveira. Você é feliz de estar freqüentando esta Oficina por ele organizada. Garanto que vai sair de lá sabendo muito mais que eu...

Um novo cinema, é possível? Escrevendo um ensaio em 1995, Susan Sontag, diz: Os cem anos do cinema parecem ter a forma de um ciclo de vida: um nascimento inevitável, o contínuo acúmulo de glórias e, na última década, o início de um declínio irreversível e degradante. Mas, profecia (...) se o cinema puder ser reestruturado, o será apenas mediante o nascimento de um novo tipo de amor ao cinema.

Pensar o cinema hoje, dialogar para encontrar as possibilidades de sua reestruturação, sem pretensão de encontrar todas as saídas para os labirintos em que está submerso, porém buscando dialogar, pelo menos isso, com os que dizem amar a sétima arte.

Blog: O que significa cinema para você?

Pensatas: Cinema é arte, entretenimento. Cinema é cultura, antes de mais nada. Conhecer cinemas de outros países é conhecer como vivem, o que pensam. É uma expressão universal de fácil assimilação.

Blog: Quais os seus melhores filmes ? eles influenciaram suas idéias?

Pensatas: São tantos e tão difíceis de enumerar e citar. “Cidadão Kane”, poderia ser um que foi muito marcante. O lado emocional infuencia, e muito. Quando assisti “O cão andaluz” e “A idade do ouro” em uma sessão única no MAM do Rio de Janeiro, foi uma emoção tão forte, que somente quando os revi, anos depois, pude observar detalhes com mais atenção. Mas, autores são determinantes. Fellini, Resnais, Glauber, Visconti, Bergman, são diretores que deixaram marcas, não só em mim, mas em todos os que gostam da sétima arte.
Quanto a influenciar idéias, sempre ajudam. Todos esses autores são humanistas, todos pensam (ou pensavam) na intimidade, no social. Cada um a seu modo, mas pensavam. Tiveram que deixar alguma contribuição ao pensamento. Sem dúvida nenhuma.

Blog: Qual a função do cinema na contemporaneidade ? A sétima arte tem um papel importante no mundo? Qual?

Pensatas: O cinema atravessa um período de crise. Uma crise de entressafra. Capito? A tecnologia, o computador, certas facilidades o estão colocando contra a parede. Muito de sua linguagem e gramática, estão sofrendo uma ruptura. Será bom? Será ruim? Só o tempo pode dizer. Aquilo que para mim é “subversivo”, posso estar achando porque não estou conseguindo assimilar mudanças muito rápidas e radicais.
O ser humano tem a tendência de estabelecer critérios que podem lhe ser uma limitação. Mais ainda: uma camisa de força. Por isso, ao ver toda esta mudança no cinema eu paro pra pensar, observar. E, por enquanto não concluir nada. Mais uma vez, só o tempo poderá depurar, filtrar o que é bom e o que é ruim do que está acontecendo.
Quando você pergunta sobre a importância do cinema no mundo, eu digo que é só olhar ao nosso redor. Está certo que a televisão hoje, até mais do que o cinema nos leva a qualquer lugar, naquele instante, ao vivo e a cores. Mas o cinema tem uma nobreza que a TV ainda não tem. Digo ainda, porque a HDTV vai transformar muito este cenário. Lembro-me de ter lido, há mais de quinze anos atrás, que no “futuro” íamos assistir filmes transmitidos por satélites simultaneamente para todo o mundo. Na época eram palavras que soavam a um visionário. E hoje? Alguém duvida?

Blog: Quais os principais problemas do cinema hoje?

Pensatas: Exatamente, como disse um pouco na resposta anterior. Tem que evoluir. Tem que depurar. Tem que filtrar o que é bom e o que não é nas inovações tecnológicas que vão aparecendo. Foi assim com o advento do som. Foi assim com a cor, com o cinemascope. É assim com a tecnologia digital. No início tem o deslumbramento da descoberta. O exagero dos modistas. Agora, sem sombra de dúvida um problemaço é o desaparecimento de grandes diretores sem que apareçam outros tão bons quanto eles. É necessário que surjam. É premente que apareçam. E eu não os vejo... isto é preocupante demais.

Blog: O que você considera os maiores perigos e as maiores possibilidades da indústria cinematográfica hoje?

Pensatas: Cair na tentação do “tecnicismo” barato. Enveredar pelos caminhos mais simples do simplesmente apertar botões. Não renovar sua “inteligentsia”, acomodando-se no marasmo de produções tolas, idiotas, barulhentas e vazias. O cinema é um fenômeno da cultura de massas. Ou foi. Porque hoje, as salas são cada vez menores, o público cada vez mais desatento à função real da cinematografia. Fruto da alienação predominante no capitalismo ‘pós-moderno” em que vivemos.


P.S. Continuaremos o diálogo com estudiosos(as) da sétima arte, iniciado nos seminários on line e pretendendo continuidade, com mais sistemática e seriedade, sem distinção de escolas e vertentes, com os que amam e se interessam pela linguagem e produção cinematográfica.
Salvador, outubro de 2007.

7 comentários:

André Setaro disse...

Jonga, por ser meu primo - é filho de um irmão de minha mãe -, em meados do decurso dos 60, fugindo dos militares golpistas de 64, porque considerado subversivo, veio a se instalar em Salvador, onde, aliás, nasceu, embora carioca de vivência e mineiro por osmose (sua esposa é de Beagá). Quando o responsável pelo versátil 'Pensatas' aqui esteve, na Bahia, tinha 16, 17 anos, jovem, mas já amante do cinema. Jonga ajudou a me orientar no sentido de ver os filmes essenciais, destacando, naquela época, os de Glauber Rocha e Luis Buñuel. Conversávamos muito sobre cinema, íamos muito às livrarias comprar e ler obras que refletissem sobre a natureza da arte do filme, formamos um grupo de cinema que deu origem a um curta metragem, 'Perâmbulo', etc. Poderia dizer que a presença de João Carlos Alves Olivieri ou, simplesmente, Jonga, em Salvador, naqueles difíceis anos, logo após o golpe militar, foi um elemento deflagrador de animação na incipiente cultura cinematográfica
local. Pena que passou muito pouco tempo, seis meses - antes ficara quase o mesmo tempo escondido numa fazenda perto de Canudos, pois em junho de 1967 retornou ao Rio, onde sempre morou (exceto os interregnos belorizontinos e portugueses), deixando uma certa lacuna. Marxista convicto, era, naquela época, um tanto sectário, radical, mas o tempo ajudou a flexibiliar o seu pensamento. Atualmente é um pensador sensato, ainda que nunca tenha abandonado seu 'radicalismo genético', pois pessoa sempre revoltada com as injustiças do mundo e a favor da paz entre os homens de boa vontade.

PIXOTE disse...

Eu tenho a sorte de ter Jonga como irmão. Um homem inteligente e com uma conversa que temos que prestar atenção pois estamos sempre aprendendo alguma coisa!!!! minha enciclópedia é ele!!! rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrrssrsrsrss
Muito inteligente, tudo que aprendeu foi lendo, pesquisando!!! Parabéns irmão, continue assim, sempre pesquisando, estudando!!!
Beijosssssssssssss

Stela Borges de Almeida disse...

Cecé, bem-vinda à nossa conversa sobre cinema. Lembrei-me do filme de Luchino Visconti " Rocco e seus irmãos" e dos comentários que transcrevo abaixo: Mas, antes de ler o filme por intermédio da concepção marxista, com a vitória do trabalho, representada pelo operário da Alfa Romeo, enquanto síntese do conflito entre o capital modernizante e as tradições da Itália arcaica, Visconti prefere concluir Rocco e Seus Irmãos se voltando para Lucca que, como o doce vagabundo de Charles Chaplin, afasta-se da câmera, pela rua, rumo ao horizonte: de todos os valores, novos ou antigos, absolutamente contingentes e passageiros, o único que perdura é a esperança.

Bom mesmo são nossos irmãos enciclopédias, seus entusiasmos e suas esperanças, não é emso?

Stela Borges de Almeida disse...

mesmo...leiam mesmo.

Jonga Olivieri disse...

Fiquei muito feliz de poder participar do seu blog com a entrevista.
Quero também agradecer ao André Setaro pelas palavras com que se referiu a mim. Principalmente pela gentileza em dizer que deixei uma “certa lacuna” (sic) ao sair de Salvador.
Aproveito para acrescentar um trecho à última questão da entrevista, quando pergunta “(...) e as maiores possibilidades da indústria cinematográfica hoje?”, pois fiquei atento aos perigos (que tanto afligem) e não a completei.
As maiores possibilidades estão, contraditoriamente no próprio caminho digital que é o seu maior risco. Uma nova fronteira pode se abrir. O fio que separa os perigos das possibilidades reais está no surgimento de realizadores consistentes e embasados de uma carga humanista. Ponto que caracterizou o grande cinema pré-computadorizado do século XX. A carga de um Chaplin, o intimismo de um Antonioni, a sagacidade inventiva de um Fellini, a sensibilidade crítica de um Buñuel. Não que surjam outros iguais, mas que possam ocupar sua falta. Já vimos um Krzystof Kielowski e sua trilogia Bleu, Blac e Rouge. O que nos deixa otimistas de que outros à sua altura possam surgir.

Anônimo disse...

Cinema é uma forma de ver e expressar a vida, as relações entre as pessoas e entre as pessoas e as coisas, em termos reais ou ficticios.
Filmes que marcaram: E o Vento Levou, Cenas de um Casamento, O Grito, A um Passo da Eternidade,Interludio, Juventude Transviada, O Santo Guerreiro, Casablanca., são filmes que ficaram em minha mente, entre outros que não lembro o nome, além de enormes documentários também, inclusive latino americanos e brasileiros.
A função do cinema é transmitir a propria realidade ou a imaginada, tanto quanto oferecendo uma ou mais mensagens, melhor.
Problemas: Primeiro, a mercantilização de tudo que diz respeito ao cinema, que reduziu muito a qualidade da produção cinematografica industrializada. Salvo as
exceções atuais nesse campo, o que nos salva são os cinemas alternativo e independente. Em segundo lugar, a concorrencia do video, do DVD, da televisão, da
internet etc.
Perigo: O perigo é se o sistema cinematográfico não souber posicionar-se no munto atual, entre os diversos mecanismos de captação, interpretação e criação
em torno da representação sobre a realidade da vida e a imaginação sobre ela, em geral.
Esperança: Há muita coisa fertil em meio ao mundo do cinema atual, tanto em termos de produtores, cineastas, diretores, quanto de pessoal tecnico e
artistico das diversas areas envolvidas pela cinematografia, sobretudo a independente e alternativa, que nos permite manter a esperança de que o cinema continuará garantindo o seu espaço, enquanto invenção cultural humana das mais significativas.

São opiniões de leigo às perguntas que você anda fazendo a experts. Achei que era a melhor maneira de opinar sobre o seu blog cultural cinematografico.

Beijo, Pedro

Anônimo disse...

Tia, visitei sua página e pra falar a verdade não lí tudo não mas achei muito legal!!! Tenho orgulho de você!!!
Beijinhos
Ananda Lila