Kpomassé, Madri, Praga, Salvador e Porto Alegre estão entre as cidades que darão início às celebrações dos 10 anos do processo do Fórum Social Mundial em 2010. O calendário de eventos começará na Grande Porto Alegre, com o I Fórum Social e a I Feira Mundial de Economia Solidária, de 22 a 24 de janeiro, em Santa Maria. Logo depois, no dia 25, terá início o Fórum Social 10 anos Grande Porto Alegre. Na mesma região acontecerá também, de 26 a 28 de janeiro, o Fórum Mundial de Teologia e Libertação em São Leopoldo. Ainda no Brasil, Salvador receberá de 29 a 31 o Fórum Social Temático da Bahia.
Na cidade de Kpomassé, no Benin (África), acontecerá, de 28 a 31 de janeiro, o II Fórum Social Local do Atlântico, cujo tema será “os impactos das crises financeira e alimentar mundiais na agricultura africana: respostas e alternativas cidadãs”. Cerca de 1500 participantes são esperados. A primeira edição do evento reuniu 1200 pessoas, em 2008, na cidade de Allada. Dentre os objetivos principais do FSLA está “a defesa das posições e estratégias das diferentes organizações sociais para lutar contra os efeitos das políticas econômicas neoliberais, e a consolidação da articulação entre os movimentos sociais locais e o Fórum Social Africano para responder às expectativas do FSM 2011 em Dacar”.
No continente europeu, dois eventos irão acontecer em janeiro: de 28 a 31 será realizado o Fórum Social Mundial Madri 2010, no E.P.A. Patio Maravillas. Essa será a terceira edição do evento na capital espanhola. Entre os temas que serão discutidos estarão: crise e alternativas globais; meio-ambiente; energia e clima; Europa; América Latina; Ásia e África; economia social e comércio justo; educação; saúde; movimentos sociais; feminismo; migrações; lutas sindicais; Estado e lutas políticas; e memória histórica. Já na República Tcheca, três cidades irão receber o Fórum Social Tcheco, nos dias 29 e 30 de janeiro: Praga, Brno, e Usti nad Labem. A programação do evento inclui seminários, workshops, manifestações e eventos culturais durante a noite.
Ao longo de 2010, o processo do Fórum Social Mundial será realizado de maneira descentralizada com eventos e atividades ao redor do mundo. O objetivo principal dos eventos será acumular, a partir das análises e experiências das organizações e movimentos sociais da sociedade civil planetária, propostas para enfrentar a crise global em todas as suas dimensões – econômica, ambiental, política, alimentar, energética, cultural, etc. A convergência de todo esse processo irá acontecer em Dakar, no Senegal, durante o Fórum Social Mundial de 2011.
Serviço:
I Fórum Social de Economia Solidária e I Feira Mundial de Economia Solidária
Onde: Santa Maria e Canoas (Grande Porto Alegre) - RS - Brasil
Quando: 22 a 24 de janeiro (Santa Maria) e 25 a 29 (Canoas)
Contato: ecosol@fsmecosol.org.br
Site: http://www.fsmecosol.org.br
Fórum Social 10 Anos Grande Porto Alegre
Onde: Grande Porto Alegre - RS - Brasil
Quando: 25 a 29 de janeiro
Contato: fsm2010@yahoo.com.br
Site: http://www.fsm10.org
Fórum Mundial de Teologia e Libertação
Onde: São Leopoldo (Grande Porto Alegre) - RS - Brasil
Quando: 26 a 28 de janeiro
Contato: Secretaria Permanente do FMTL - permanentsecretariat@wftl.org
II Fórum Social Local do Atlântico
Onde: Kpomassé, Benin
Quando: 28 a 31 de janeiro
Contato: Yoro Bi Ta Raymond: forumsocialbenin@yahoo.fr / fosoloa@yahoo.fr
Site: http://fsla.outrenet.com/
Fórum Social Mundial Madri 2010
Onde: Madri, Espanha
Quando: 28 a 31 de janeiro
Contato: comunicacion@fsmmadrid.org
Site: http://www.fsmmadrid.org
Fórum Social Tcheco
Onde: Prague, Brno, Usti nad Labem - República Tcheca
Quando: 29 e 30 de janeiro
Contato: Marek Hrubec - marek.hrubec@gmail.com
Fórum Social Temático da Bahia
Onde: Salvador, Brasil
Quando: 29 a 31 de janeiro
Contato: grupofsmbahia@yahoo.com.br
Informações divulgadas sobre o Forum Social Mundial na internet.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
sábado, 19 de dezembro de 2009
Projeto Cinema de Artista_MAM

Paulo Lins, em romance de estréia, faz um painel das transformações sociais pelas quais passou o conjunto habitacional Cidade de Deus: da pequena criminalidade dos anos 60 à situação de violência generalizada e de domínio do tráfico de drogas dos anos 90. Para redefinir a situação do lugar onde cresceu, Lins usa o termo "neofavela", em oposição à favela antiga, aquela das rodas de samba e da malandragem romântica. O livro se baseia em fatos reais. Grande parte do material utilizado para escrevê-lo foi coletado durante os oito anos (entre 1986 e 1993) em que o autor trabalhou como assessor de pesquisas antropológicas sobre a criminalidade e as classes populares do Rio de Janeiro. Cidade de Deus foi saudado como uma das maiores obras da literatura brasileira contemporânea. Um dos principais críticos do país, Roberto Schwarz observou a capacidade do autor de transpor para a literatura uma situação social deteriorada, aliando em sua narrativa a agilidade da ação cinematográfica e o lirismo da poesia. Segundo Schwarz, "o interesse explosivo do assunto, o tamanho da empresa, a sua dificuldade, o ponto de vista interno e diferente, tudo contribuiu para a aventura artística fora do comum"
Release do livro editado pela Companhia das Letras em 2002.
Hoje no MAM, dentre as inúmeras perguntas realizadas por uma platéia de mais de cento e cinquenta atentos admiradores, Fernando Meirelles afirmou num tom sempre humorado e aparentemente simples, que o roteirista ao entregar sua obra para o realizador não tem mais qualquer controle sobre sua criação. Esta será encaminhada para a lata do lixo. Lamenta este fato, mas diz que é assim que acontece. Acrescenta que Cidade de Deus não trabalhou com os personagens criados por Paulo Lins, quase quatrocentos personagens que nasciam, viviam e morriam em cada capítulo. O filme, diz ele, centra em três deles: Buscapé, Zé Pequeno e Dadinho. Uma idéia provocadora, dentre muitas outras apresentadas.
Projeto Cinema do Artista. Abertura na Sala de Arte Cinema do MAM, 19 de dezembro de 2009.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Lançamento de Livro

JORGE AMADO NO ELEVADOR E OUTROS CONTOS DA BAHIA
de Carlos Pronzato
No dia 14 de dezembro, segunda feira, às 18 horas, acontece na Fundação Casa de Jorge Amado, no Largo do Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, o lançamento do livro Jorge Amado no elevador e outros contos da Bahia (84 páginas, Editora A, Rio de Janeiro) do escritor, diretor teatral e cineasta Carlos Pronzato, argentino radicado na Bahia há exatos 20 anos. A entrada é livre.
O livro é composto de onze contos que transitam no universo mágico da Bahia, perfazendo um itinerário literário que pretende também ser uma homenagem a um dos maiores escritores do Brasil, Jorge Amado, quem empresta o seu nome ao conto que dá titulo ao livro.
Carlos Pronzato completa vinte anos de “baiano” e para comemorar reuniu estes contos, a maior parte publicados no A Tarde cultural e na Revista do Gabinete Português de Leitura. Diretor Teatral, poeta e cineasta/documentarista, Carlos Pronzato tem se dedicado a retratar nos seus mais recentes filmes os atuais conflitos sócio-políticos latino-americanos, além de se debruçar sobre aspectos históricos fundamentais do continente (“Carabina M2, uma arma americana, Che na Bolívia”; “Buscando a Salvador Allende”; “Madres de Plaza de Mayo, memória, verdade, justiça”, etc). Também publicou, entre outros, “Canudos não se rendeu”, “Poesias contra o Império”, “Che, um poema guerrilheiro” e o mais recente, lançado em janeiro deste ano no Fórum Social Mundial em Belém, “Poemas sem Terra”.
Lançamento: Jorge Amado no elevador e outros contos da Bahia.
Data:14 de dezembro (segunda feira)
Horário: 18 horas.
Local: Fundação Casa de Jorge Amado (Pelourinho)
Entrada franca
Contatos: Carlos Pronzato/ 71 9214-4402/ cpronza8@yahoo.com.br
www.lamestizaaudiovisual.blogspot.com
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Fórum Social Mundial Temático-Bahia
Tempo de Curso de Cinema, em realização, com películas selecionadíssimas e chance de conversar com o crítico de cinema, André Setaro, que merece o título do ofício pois além de conhecer o métier é um apreciador original da sétima arte. Como não consegui ainda assistir todo o material selecionado deixarei para postar sobre o assunto mais adiante. Por hora, transcrevo a matéria de ontem da secção de tendências e debate da FSP. E aqui registro, também, minha perplexidade: nenhuma palavra e sobre a construção do Fórum Social Mundial Temático-Bahia, a ser realizado em 29,30 e 31 de janeiro de 2010.
TENDÊNCIAS/DEBATES
Fórum Social Mundial, 10 anos
ODED GRAJEW
--------------------------------------------------------------------------------
Ante as graves ameaças do nosso modelo de produção e consumo, "um outro mundo possível" é cada vez mais "necessário e urgente"
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NO ANO 2000, o neoliberalismo estava no seu auge. Dizia-se até que havíamos chegado ao fim da história. Teríamos encontrado o modelo ideal de sociedade, em que as forças do mercado, liberadas de qualquer controle governamental ou social, levariam o mundo à prosperidade, ao bem-estar e à paz.
O Fórum Econômico Mundial, o grande propulsor dessa ideologia, acolhia o ex-presidente argentino Carlos Menem com todas as honras e elegia suas políticas como exemplares a serem seguidas por todos os países em desenvolvimento. Os críticos do modelo eram tratados como retrógrados que só sabem criticar, sem apresentar propostas alternativas.
Foi nesse ambiente que tive a ideia de criar o Fórum Social Mundial (FSM) para, em contrapartida ao Fórum Econômico Mundial, denunciar os enormes riscos que o neoliberalismo representava para a humanidade, dar visibilidade a propostas alternativas e criar um espaço auto-organizado em que a sociedade civil, em nível local e global, pudesse se encontrar, promover atividades e se articular, ganhando força política e social para empreender suas ações.
Graças ao empenho de um grupo de militantes e organizações brasileiras e internacionais e com o apoio dos governos de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, viabilizou-se na capital gaúcha, em janeiro de 2001, o primeiro encontro mundial.
De lá para cá, muita coisa aconteceu. As sucessivas crises econômicas, a proliferação de guerras e conflitos, o aumento da concentração de renda e da desigualdade social e a degradação ambiental fizeram ruir a crença na ideologia neoliberal.
O lema adotado no FSM, "um outro mundo é possível", encheu de esperança milhões de pessoas que, movidas pelo desejo de mudança, conseguiram alterar o quadro político de muitos países, a começar pela América Latina e, recentemente, nos EUA.
A metodologia adotada no FSM propiciou a todas as organizações e pessoas que comungam com a carta de princípios a oportunidade de organizar livremente suas atividades e poder se juntar aos que se dispõem a declarações e ações conjuntas.
A promoção da diversidade, um dos pilares da carta de princípios, fez cada organização e cada cidadão se sentir valorizado. Ninguém é mais importante que o outro, nenhum tema tem a precedência. O "outro mundo possível", onde a solidariedade e a cooperação superam a competição e o conflito, foi aplicado na nossa metodologia.
Foi assim que o FSM ganhou o mundo. Fóruns globais e inúmeros fóruns locais, nacionais, continentais e temáticos se espalharam em todos os continentes.
Organizações sociais aproveitaram o espaço aberto e a metodologia para formar parcerias e criar redes, o que viabilizou inúmeras iniciativas políticas, sociais e ambientais. Os encontros, os fóruns, se tornaram momentos dentro de um amplo processo, o processo FSM, que se desdobra ao longo dos dias anteriores e posteriores aos eventos.
Para celebrar os dez anos do FSM, um grupo de organizações que participaram desde o início teve a ideia de realizar, em janeiro de 2010, um grande encontro para uma reflexão sobre essa última década, mas, principalmente, para elaborar propostas para o futuro do processo. Nada seria mais simbólico do que voltar ao berço do primeiro fórum: Porto Alegre.
Das conversas com as organizações sociais locais, que foram fundamentais na realização dos primeiros fóruns, nasceu a ideia de envolver as cidades da Grande Porto Alegre na realização do evento.
Foi assim que nasceu o Fórum Social 10 Anos, a ser realizado de 25 a 29 de janeiro de 2010 nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Campo Bom, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapiranga e Sapucaia do Sul. Além das atividades auto-organizadas que serão realizadas nessas cidades, haverá um grande seminário internacional que juntará lideranças sociais e políticas numa reflexão sobre o processo FSM.
Em 2000, o nosso desafio era desmistificar e denunciar o modelo neoliberal, mostrando que "um outro mundo é possível". Em 2010, diante das reais e graves ameaças representadas pelo nosso modelo de produção e consumo, pela imperiosa necessidade de implementarmos um desenvolvimento justo e sustentável, "um outro mundo possível" se torna cada vez mais "necessário e urgente". Esse é o desafio que está sendo colocado para nós e para todos os que estarão na Grande Porto Alegre durante o Fórum Social 10 Anos.
ODED GRAJEW, 65, empresário, é um dos integrantes do Movimento Nossa São Paulo. É também membro do Conselho Deliberativo e presidente emérito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq. Foi assessor especial do presidente da República (2003).
TENDÊNCIAS/DEBATES
Fórum Social Mundial, 10 anos
ODED GRAJEW
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Ante as graves ameaças do nosso modelo de produção e consumo, "um outro mundo possível" é cada vez mais "necessário e urgente"
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NO ANO 2000, o neoliberalismo estava no seu auge. Dizia-se até que havíamos chegado ao fim da história. Teríamos encontrado o modelo ideal de sociedade, em que as forças do mercado, liberadas de qualquer controle governamental ou social, levariam o mundo à prosperidade, ao bem-estar e à paz.
O Fórum Econômico Mundial, o grande propulsor dessa ideologia, acolhia o ex-presidente argentino Carlos Menem com todas as honras e elegia suas políticas como exemplares a serem seguidas por todos os países em desenvolvimento. Os críticos do modelo eram tratados como retrógrados que só sabem criticar, sem apresentar propostas alternativas.
Foi nesse ambiente que tive a ideia de criar o Fórum Social Mundial (FSM) para, em contrapartida ao Fórum Econômico Mundial, denunciar os enormes riscos que o neoliberalismo representava para a humanidade, dar visibilidade a propostas alternativas e criar um espaço auto-organizado em que a sociedade civil, em nível local e global, pudesse se encontrar, promover atividades e se articular, ganhando força política e social para empreender suas ações.
Graças ao empenho de um grupo de militantes e organizações brasileiras e internacionais e com o apoio dos governos de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, viabilizou-se na capital gaúcha, em janeiro de 2001, o primeiro encontro mundial.
De lá para cá, muita coisa aconteceu. As sucessivas crises econômicas, a proliferação de guerras e conflitos, o aumento da concentração de renda e da desigualdade social e a degradação ambiental fizeram ruir a crença na ideologia neoliberal.
O lema adotado no FSM, "um outro mundo é possível", encheu de esperança milhões de pessoas que, movidas pelo desejo de mudança, conseguiram alterar o quadro político de muitos países, a começar pela América Latina e, recentemente, nos EUA.
A metodologia adotada no FSM propiciou a todas as organizações e pessoas que comungam com a carta de princípios a oportunidade de organizar livremente suas atividades e poder se juntar aos que se dispõem a declarações e ações conjuntas.
A promoção da diversidade, um dos pilares da carta de princípios, fez cada organização e cada cidadão se sentir valorizado. Ninguém é mais importante que o outro, nenhum tema tem a precedência. O "outro mundo possível", onde a solidariedade e a cooperação superam a competição e o conflito, foi aplicado na nossa metodologia.
Foi assim que o FSM ganhou o mundo. Fóruns globais e inúmeros fóruns locais, nacionais, continentais e temáticos se espalharam em todos os continentes.
Organizações sociais aproveitaram o espaço aberto e a metodologia para formar parcerias e criar redes, o que viabilizou inúmeras iniciativas políticas, sociais e ambientais. Os encontros, os fóruns, se tornaram momentos dentro de um amplo processo, o processo FSM, que se desdobra ao longo dos dias anteriores e posteriores aos eventos.
Para celebrar os dez anos do FSM, um grupo de organizações que participaram desde o início teve a ideia de realizar, em janeiro de 2010, um grande encontro para uma reflexão sobre essa última década, mas, principalmente, para elaborar propostas para o futuro do processo. Nada seria mais simbólico do que voltar ao berço do primeiro fórum: Porto Alegre.
Das conversas com as organizações sociais locais, que foram fundamentais na realização dos primeiros fóruns, nasceu a ideia de envolver as cidades da Grande Porto Alegre na realização do evento.
Foi assim que nasceu o Fórum Social 10 Anos, a ser realizado de 25 a 29 de janeiro de 2010 nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Campo Bom, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapiranga e Sapucaia do Sul. Além das atividades auto-organizadas que serão realizadas nessas cidades, haverá um grande seminário internacional que juntará lideranças sociais e políticas numa reflexão sobre o processo FSM.
Em 2000, o nosso desafio era desmistificar e denunciar o modelo neoliberal, mostrando que "um outro mundo é possível". Em 2010, diante das reais e graves ameaças representadas pelo nosso modelo de produção e consumo, pela imperiosa necessidade de implementarmos um desenvolvimento justo e sustentável, "um outro mundo possível" se torna cada vez mais "necessário e urgente". Esse é o desafio que está sendo colocado para nós e para todos os que estarão na Grande Porto Alegre durante o Fórum Social 10 Anos.
ODED GRAJEW, 65, empresário, é um dos integrantes do Movimento Nossa São Paulo. É também membro do Conselho Deliberativo e presidente emérito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq. Foi assessor especial do presidente da República (2003).
terça-feira, 17 de novembro de 2009
domingo, 8 de novembro de 2009
ZORBA, O GREGO
Reproduzo, a seguir, o texto de Contardo Calligari publicado na Folha de São Paulo, 05 de novembro de 2009. A sugestão inspirada do Calligari para as furiosas turbas merece ser escutada por todas as instituições, especialmente as educativas. Uma sessão de Zorba_ o grego ( filme dirigido por Michael Cacoyannis que tem Antonhy Quinn como personagem central) com sua visão humanista, de respeito às diferenças, em direção à vida. Rever Zorba e não esquecer de contemplar a poética de uma narrativa que se mantém viva e atual.
A turba da Uniban
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As turbas têm um ponto em comum: detestam a ideia de que a mulher tenha desejo próprio
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NA SEMANA passada, em São Bernardo, uma estudante de primeiro ano do curso noturno de turismo da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) foi para a faculdade pronta para encontrar seu namorado depois das aulas: estava de minivestido rosa, saltos altos, maquiagem -uniforme de balada.
O resultado foi que 700 alunos da Uniban saíram das salas de aula e se aglomeraram numa turba: xingaram, tocaram, fotografaram e filmaram a moça. Com seus celulares ligados na mão, como tochas levantadas, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo tocar fogo numa perigosa bruxa.
A história acabou com a jovem estudante trancada na sala de sua turma, com a multidão pressionando, por porta e janelas, pedindo explicitamente que ela fosse entregue para ser estuprada. Alguns colegas, funcionários e professores conseguiram proteger a moça até a chegada da PM, que a tirou da escola sob escolta, mas não pôde evitar que sua saída fosse acompanhada pelo coro dos boçais escandindo: "Pu-ta, pu-ta, pu-ta".
Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um "justo" protesto contra a "inadequação" da roupa da colega. Difícil levá-los a sério, visto que uma boa metade deles saiu das salas de aula com seu chapéu cravado na cabeça.
Então, o que aconteceu? Para responder, demos uma volta pelos estádios de futebol ou pelas salas de estar das famílias na hora da transmissão de um jogo. Pois bem, nos estádios ou nas salas, todos (maiores ou menores) vocalizam sua opinião dos jogadores e da torcida do time adversário (assim como do árbitro, claro, sempre "vendido") de duas maneiras fundamentais: "veados" e "filhos da puta".
Esses insultos são invariavelmente escolhidos por serem, na opinião de ambas as torcidas, os que mais podem ferir os adversários. E o método da escolha é simples: a gente sempre acha que o pior insulto é o que mais nos ofenderia. Ou seja, "veados" e "filhos da puta" são os insultos que todos lançam porque são os que ninguém quer ouvir.
Cuidado: "veado", nesse caso, não significa genericamente homossexual. Tanto assim que os ditos "veados", por exemplo, são encorajados vivamente a pegar no sexo de quem os insulta ou a ficar de quatro para que possam ser "usados" por seus ofensores. "Veado", nesse insulto, está mais para "bichinha", "mulherzinha" ou, simplesmente, "mulher".
Quanto a "filho da puta", é óbvio que ninguém acredita que todas as mães da torcida adversa sejam profissionais do sexo. "Puta", nesse caso (assim como no coro da Uniban), significa mulher licenciosa, mulher que poderia (pasme!) gostar de sexo.
Os membros das torcidas e os 700 da Uniban descobrem assim um terreno comum: é o ódio do feminino -não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio.
O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de "querer"? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer.
A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada.
Espero que o Ministério Público persiga os membros da turba da Uniban que incitaram ao estupro. Espero que a jovem estudante encontre um advogado que a ajude a exigir da própria Uniban (incapaz de garantir a segurança de seus alunos) todos os danos morais aos quais ela tem direito. E espero que, com isso, a Uniban se interrogue com urgência sobre como agir contra a ignorância e a vulnerabilidade aos piores efeitos grupais de 700 de seus estudantes. Uma sugestão, só para começar: que tal uma sessão de "Zorba, o Grego", com redação obrigatória no fim?
Agora, devo umas desculpas a todas as mulheres que militam ou militaram no feminismo. Ainda recentemente, pensei (e disse, numa entrevista) que, ao meu ver, o feminismo tinha chegado ao fim de sua tarefa histórica. Em particular, eu acreditava que, depois de 40 anos de luta feminista, ao menos um objetivo tivesse sido atingido: o reconhecimento pelos homens de que as mulheres (também) desejam. Pois é, os fatos provam que eu estava errado.
ccalligari@uol.com.br
A turba da Uniban
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As turbas têm um ponto em comum: detestam a ideia de que a mulher tenha desejo próprio
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NA SEMANA passada, em São Bernardo, uma estudante de primeiro ano do curso noturno de turismo da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) foi para a faculdade pronta para encontrar seu namorado depois das aulas: estava de minivestido rosa, saltos altos, maquiagem -uniforme de balada.
O resultado foi que 700 alunos da Uniban saíram das salas de aula e se aglomeraram numa turba: xingaram, tocaram, fotografaram e filmaram a moça. Com seus celulares ligados na mão, como tochas levantadas, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo tocar fogo numa perigosa bruxa.
A história acabou com a jovem estudante trancada na sala de sua turma, com a multidão pressionando, por porta e janelas, pedindo explicitamente que ela fosse entregue para ser estuprada. Alguns colegas, funcionários e professores conseguiram proteger a moça até a chegada da PM, que a tirou da escola sob escolta, mas não pôde evitar que sua saída fosse acompanhada pelo coro dos boçais escandindo: "Pu-ta, pu-ta, pu-ta".
Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um "justo" protesto contra a "inadequação" da roupa da colega. Difícil levá-los a sério, visto que uma boa metade deles saiu das salas de aula com seu chapéu cravado na cabeça.
Então, o que aconteceu? Para responder, demos uma volta pelos estádios de futebol ou pelas salas de estar das famílias na hora da transmissão de um jogo. Pois bem, nos estádios ou nas salas, todos (maiores ou menores) vocalizam sua opinião dos jogadores e da torcida do time adversário (assim como do árbitro, claro, sempre "vendido") de duas maneiras fundamentais: "veados" e "filhos da puta".
Esses insultos são invariavelmente escolhidos por serem, na opinião de ambas as torcidas, os que mais podem ferir os adversários. E o método da escolha é simples: a gente sempre acha que o pior insulto é o que mais nos ofenderia. Ou seja, "veados" e "filhos da puta" são os insultos que todos lançam porque são os que ninguém quer ouvir.
Cuidado: "veado", nesse caso, não significa genericamente homossexual. Tanto assim que os ditos "veados", por exemplo, são encorajados vivamente a pegar no sexo de quem os insulta ou a ficar de quatro para que possam ser "usados" por seus ofensores. "Veado", nesse insulto, está mais para "bichinha", "mulherzinha" ou, simplesmente, "mulher".
Quanto a "filho da puta", é óbvio que ninguém acredita que todas as mães da torcida adversa sejam profissionais do sexo. "Puta", nesse caso (assim como no coro da Uniban), significa mulher licenciosa, mulher que poderia (pasme!) gostar de sexo.
Os membros das torcidas e os 700 da Uniban descobrem assim um terreno comum: é o ódio do feminino -não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio.
O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de "querer"? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer.
A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada.
Espero que o Ministério Público persiga os membros da turba da Uniban que incitaram ao estupro. Espero que a jovem estudante encontre um advogado que a ajude a exigir da própria Uniban (incapaz de garantir a segurança de seus alunos) todos os danos morais aos quais ela tem direito. E espero que, com isso, a Uniban se interrogue com urgência sobre como agir contra a ignorância e a vulnerabilidade aos piores efeitos grupais de 700 de seus estudantes. Uma sugestão, só para começar: que tal uma sessão de "Zorba, o Grego", com redação obrigatória no fim?
Agora, devo umas desculpas a todas as mulheres que militam ou militaram no feminismo. Ainda recentemente, pensei (e disse, numa entrevista) que, ao meu ver, o feminismo tinha chegado ao fim de sua tarefa histórica. Em particular, eu acreditava que, depois de 40 anos de luta feminista, ao menos um objetivo tivesse sido atingido: o reconhecimento pelos homens de que as mulheres (também) desejam. Pois é, os fatos provam que eu estava errado.
ccalligari@uol.com.br
sábado, 31 de outubro de 2009
Bresson e Kierkegaard
No momento, sem condição de manter o rítmo de trabalho exigido pelo blog, mas segura de que este espaço precisa manter o diálogo com os(as) amantes de cinema, encontei uma postagem antiga do Adolfo Gomes, editada no Blog Bressonianas. Para falar a verdade, não conheço nem Bresson, sequer Kierkegaard, mas gosto muito do que tenho conversado com Adolfo sobre cinema.
23/06/2006
Bresson tem olhos para o impossível
Por Adolfo Gomes
(cineadolfogomes@yahoo.com.br)
Diante da obra de Robert Bresson a história do cinema assume a perspectiva do Abraão de Kierkegaard que, aos 130 anos, não tinha ido mais distante que a fé*. Pois da fé, como do amor, só ficam as evidências, que são seus filmes, tão marcantes quanto exemplo de Isaac, filho de Abraão, oferecido em sacrifício.
Não à toa, Jean-Luc Godard sentenciou: “Depois de Bresson, é preciso começar do zero”. Por que se antes de Abraão não conhecíamos a fé, sem Bresson nos faltaria uma escrita para o cinematógrafo. Então, temos essas imagens e sons a dar forma a uma ontologia de seres e coisas que não admite efeito ou psicologia.
Bresson filma homens e objetos como iguais, pois opera em uma arte de exteriores. O milagre de seu método está em atravessar essa superfície cujo sentido é o da banalidade. Sua câmera propõe uma comunhão de outra ordem: com o invisível.
É um percurso estranho, porque o invisível para nós é o indício de Deus, ou antes, a Sua ausência. E há, no universo de Bresson, esse olhar ausente, que amplifica nossa tragédia.
Uma possível síntese da escrita bressoniana está na imagem da cédula falsa em “O Dinheiro”, seu último filme. Contra a luz, a nota ilegal revela sua marca d’água, reforçando que as coisas, como os homens, não têm valor em si. Esse valor advém do gesto, nosso para com os objetos, e de Deus para com a humanidade.
No entanto, a linguagem de Deus é o silêncio. Assim nos debatemos como os pássaros ao final de “O Processo de Jeanne D’Arc”. E se nos resta alguma esperança, e ela também está em seus filmes, é porque Bresson tem olhos para o impossível.
Isolamento – De outra parte, Bresson só não conseguiu superar as limitações impostas pela indústria dos filmes, as restrições dos produtores, o que, em última análise, acabou por interromper sua carreira. À medida que avançava em sua poética, menores eram as suas chances de obter financiamento. Após anos de tentativas frustradas de levar às telas um novo projeto, recolheu-se...Conforme escreveu o norte-americano Paul Schrader: “colocou-se além de qualquer comunicação, como Deus”. Retomou a pintura, segundo relato dos mais próximos. Mas não há vestígios dessas obras, talvez definitivamente encerradas na mitologia pessoal de um artista para qual “o outro” era o caminho para revelar a si mesmo.
Nota
*Não são raras as associações entre a obra de Robert Bresson e o pensamento do dinamarquês Soren Kierkegaard. Se Bresson se referia ao cinematógrafo para marcar a diferença entre seus filmes e o cinema convencional, Kierkegaard, por sua vez, jamais pretendeu ser filósofo, embora seus escritos acabassem por criar as raízes de uma nova corrente filosófica – o existencialismo. Bresson e Kierkegaard também compartilhavam a mesma convicção religiosa radical e, até determinado ponto da filmografia bressoniana, comungavam da mesma preocupação em investigar as relações da existência com a divindade. Para Kierkgaard, o estágio religioso era o último e mais importante salto que o indivíduo deveria empreender para interpretar-se e encontrar um sentido para sua existência.
Neste aspecto, parece apropriado resgatar o exemplo de Abraão, tal como evocado por Kierkegaard em um dos seus principais livros “Temor e Tremor”. Dessa obra, convém assinalar ainda o trecho seguinte: “Abraão, pai venerável! Milhares de anos se passaram desde esses dias sombrios, porém não é preciso um tardio admirador para tirar, pelo amor, a tua memória às potências do olvido, pois todas as línguas te lembram. E, entretanto, dás a recompensa a quem te ama por uma forma mais generosa de que ninguém; lá ensejas fazê-lo bem aventurado em teu seio e, aqui embaixo prendes o olhar e o coração com o maravilhoso de tua ação. Abraão, pai venerável! Segundo pai do gênero humano! Tu que por primeiro sentiste e manifestaste essa grandiosa paixão que despreza a luta terrível contra a preciosa ação dos elementos e das forças da criação para lutar contra Deus, tu que foste o primeiro a sentir esta paixão sublime, expressão sacra, humilde e pura, do divino frenesi, tu que adquiriste a justa admiração dos pagãos, perdoa a quem tentou cantar em teu louvor, se bem não soube desincumbir-se de sua tarefa. Falou de maneira humilde, conforme o secreto desejo de seu coração; falou de maneira breve, como era conveniente; porém jamais olvidará que te foram necessários cem anos para receber, contra toda a esperança, o filho da tua velhice e que foste obrigado a sacar a tua faca para matar Isaac – também não esquecerá que aos cento e trinta anos, não tinhas ido mais distante do que a fé”.
23/06/2006
Bresson tem olhos para o impossível
Por Adolfo Gomes
(cineadolfogomes@yahoo.com.br)
Diante da obra de Robert Bresson a história do cinema assume a perspectiva do Abraão de Kierkegaard que, aos 130 anos, não tinha ido mais distante que a fé*. Pois da fé, como do amor, só ficam as evidências, que são seus filmes, tão marcantes quanto exemplo de Isaac, filho de Abraão, oferecido em sacrifício.
Não à toa, Jean-Luc Godard sentenciou: “Depois de Bresson, é preciso começar do zero”. Por que se antes de Abraão não conhecíamos a fé, sem Bresson nos faltaria uma escrita para o cinematógrafo. Então, temos essas imagens e sons a dar forma a uma ontologia de seres e coisas que não admite efeito ou psicologia.
Bresson filma homens e objetos como iguais, pois opera em uma arte de exteriores. O milagre de seu método está em atravessar essa superfície cujo sentido é o da banalidade. Sua câmera propõe uma comunhão de outra ordem: com o invisível.
É um percurso estranho, porque o invisível para nós é o indício de Deus, ou antes, a Sua ausência. E há, no universo de Bresson, esse olhar ausente, que amplifica nossa tragédia.
Uma possível síntese da escrita bressoniana está na imagem da cédula falsa em “O Dinheiro”, seu último filme. Contra a luz, a nota ilegal revela sua marca d’água, reforçando que as coisas, como os homens, não têm valor em si. Esse valor advém do gesto, nosso para com os objetos, e de Deus para com a humanidade.
No entanto, a linguagem de Deus é o silêncio. Assim nos debatemos como os pássaros ao final de “O Processo de Jeanne D’Arc”. E se nos resta alguma esperança, e ela também está em seus filmes, é porque Bresson tem olhos para o impossível.
Isolamento – De outra parte, Bresson só não conseguiu superar as limitações impostas pela indústria dos filmes, as restrições dos produtores, o que, em última análise, acabou por interromper sua carreira. À medida que avançava em sua poética, menores eram as suas chances de obter financiamento. Após anos de tentativas frustradas de levar às telas um novo projeto, recolheu-se...Conforme escreveu o norte-americano Paul Schrader: “colocou-se além de qualquer comunicação, como Deus”. Retomou a pintura, segundo relato dos mais próximos. Mas não há vestígios dessas obras, talvez definitivamente encerradas na mitologia pessoal de um artista para qual “o outro” era o caminho para revelar a si mesmo.
Nota
*Não são raras as associações entre a obra de Robert Bresson e o pensamento do dinamarquês Soren Kierkegaard. Se Bresson se referia ao cinematógrafo para marcar a diferença entre seus filmes e o cinema convencional, Kierkegaard, por sua vez, jamais pretendeu ser filósofo, embora seus escritos acabassem por criar as raízes de uma nova corrente filosófica – o existencialismo. Bresson e Kierkegaard também compartilhavam a mesma convicção religiosa radical e, até determinado ponto da filmografia bressoniana, comungavam da mesma preocupação em investigar as relações da existência com a divindade. Para Kierkgaard, o estágio religioso era o último e mais importante salto que o indivíduo deveria empreender para interpretar-se e encontrar um sentido para sua existência.
Neste aspecto, parece apropriado resgatar o exemplo de Abraão, tal como evocado por Kierkegaard em um dos seus principais livros “Temor e Tremor”. Dessa obra, convém assinalar ainda o trecho seguinte: “Abraão, pai venerável! Milhares de anos se passaram desde esses dias sombrios, porém não é preciso um tardio admirador para tirar, pelo amor, a tua memória às potências do olvido, pois todas as línguas te lembram. E, entretanto, dás a recompensa a quem te ama por uma forma mais generosa de que ninguém; lá ensejas fazê-lo bem aventurado em teu seio e, aqui embaixo prendes o olhar e o coração com o maravilhoso de tua ação. Abraão, pai venerável! Segundo pai do gênero humano! Tu que por primeiro sentiste e manifestaste essa grandiosa paixão que despreza a luta terrível contra a preciosa ação dos elementos e das forças da criação para lutar contra Deus, tu que foste o primeiro a sentir esta paixão sublime, expressão sacra, humilde e pura, do divino frenesi, tu que adquiriste a justa admiração dos pagãos, perdoa a quem tentou cantar em teu louvor, se bem não soube desincumbir-se de sua tarefa. Falou de maneira humilde, conforme o secreto desejo de seu coração; falou de maneira breve, como era conveniente; porém jamais olvidará que te foram necessários cem anos para receber, contra toda a esperança, o filho da tua velhice e que foste obrigado a sacar a tua faca para matar Isaac – também não esquecerá que aos cento e trinta anos, não tinhas ido mais distante do que a fé”.
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