sábado, 19 de dezembro de 2009

Projeto Cinema de Artista_MAM



















Paulo Lins, em romance de estréia, faz um painel das transformações sociais pelas quais passou o conjunto habitacional Cidade de Deus: da pequena criminalidade dos anos 60 à situação de violência generalizada e de domínio do tráfico de drogas dos anos 90. Para redefinir a situação do lugar onde cresceu, Lins usa o termo "neofavela", em oposição à favela antiga, aquela das rodas de samba e da malandragem romântica. O livro se baseia em fatos reais. Grande parte do material utilizado para escrevê-lo foi coletado durante os oito anos (entre 1986 e 1993) em que o autor trabalhou como assessor de pesquisas antropológicas sobre a criminalidade e as classes populares do Rio de Janeiro. Cidade de Deus foi saudado como uma das maiores obras da literatura brasileira contemporânea. Um dos principais críticos do país, Roberto Schwarz observou a capacidade do autor de transpor para a literatura uma situação social deteriorada, aliando em sua narrativa a agilidade da ação cinematográfica e o lirismo da poesia. Segundo Schwarz, "o interesse explosivo do assunto, o tamanho da empresa, a sua dificuldade, o ponto de vista interno e diferente, tudo contribuiu para a aventura artística fora do comum"
Release do livro editado pela Companhia das Letras em 2002.

Hoje no MAM, dentre as inúmeras perguntas realizadas por uma platéia de mais de cento e cinquenta atentos admiradores, Fernando Meirelles afirmou num tom sempre humorado e aparentemente simples, que o roteirista ao entregar sua obra para o realizador não tem mais qualquer controle sobre sua criação. Esta será encaminhada para a lata do lixo. Lamenta este fato, mas diz que é assim que acontece. Acrescenta que Cidade de Deus não trabalhou com os personagens criados por Paulo Lins, quase quatrocentos personagens que nasciam, viviam e morriam em cada capítulo. O filme, diz ele, centra em três deles: Buscapé, Zé Pequeno e Dadinho. Uma idéia provocadora, dentre muitas outras apresentadas.

Projeto Cinema do Artista. Abertura na Sala de Arte Cinema do MAM, 19 de dezembro de 2009.

2 comentários:

Jonga Olivieri disse...

Houve uma época em que favela era sinônimo de "poesia". Claro que para quem não morava lá...
Mas era um outro país. Um país em que se andava nas madrugadas das grandes cidades a vagar com segurança e a violência era quase que um ato esporádico.
A Cidade de Deus e outros bairros que surgiram na tentativa de exilar as populações mais miseráveis para a periferia retirando-as do "paraíso" das elites transformaram-se em verdadeiros antros da marginalidade, principalmente após a consolidação do tráfico pesado, das milícias e outros complexos surgidos nos tempos mais recentes.
Surgiram as originais favelas para servir essasa elites sem risco de atraso de seus então "empregados", mais próximos de escravos do que qualquer outra coisa.
Acabaram esssas favelas a se transformar num incômodo apêndice para essas mesmas elites.
O que era "bom" e cômodo, tornou-se um pesadelo.
Mas o processo de arrancar sua população da proximidade de seus locais de trabalho criou uma marginalidade maior, agravando o problema.
Tudo muito complexo e probelamático. Uma sinuca de bico...

Stela Borges de Almeida disse...

Mas, voltando a postagem. Realizadores e Roteiristas. Romancistas e Cineastas. Livros e Filmes. De quem é a criação e os méritos desta? Reduzir a criação literária a lata de lixo é um caminho?

Quanto as favelas e sua "poesia" parece que o Paulo Lins que vive numa delas soube muito bem retratar suas complexidades e caminhos sem saída.