sexta-feira, 17 de julho de 2009

Flashbacks da FLIP 2009 (2)

















































A 7ª Festa Literária Internacional de Paraty terminou, todos sabem.
Mesmo assim, os resultados da apresentação de tantos trabalhos, publicações, intercâmbios e contactos perdurarão por mais tempo. Quero hoje comentar a concorrida mesa que participaram Mario Bellatin e Cristovão Tezza. Estes premiados autores tendo como mote principal o papel da experiência pessoal na literatura, com posições divergentes e inquietadoras, permitiram aos presentes fomentar polêmicas e conhecer mais das suas idéias e escritos. Ficarão de fora destes comentários dezoito mesas de trabalho, com nomes expressivos e de alta relevância, entre elas, a esperada mesa dez intitulada Seqüências Brasileiras, com a presença de Chico Buarque de Holanda. Enfim, a escolha recai pelo que o debate instiga a pensar sobre o tema proposto: O eu profundo e os outros eus.
Mario Bellatin por si constitui um personagem de impacto. Considerado em fóruns literários um romancista de prosa contundente e seca, chega às livrarias brasileiras com o livro Flores, publicado originalmente em 2001. Este trabalho recebeu o prêmio Xavier Villaurrutia e sua publicação recente pela Cosac Naify. O universo bellatino versa sobre personagens ambíguos que se adentra por desconcertantes histórias, entre elas, a do cientista que descobre um fármaco que causa deformações físicas, a história do escritor e das suas pesquisas sobre sexualidade, a história do nome das flores, histórias cujos personagens provocam e desafiam o leitor. O universo lúdico entre realidade e ficção parece ser o desafio do escritor que defende o poder da obra dispensar os portos de segurança comumente sustentáveis nas referências bibliográficas (1). Questionado sobre a Escola Dinâmica de Escritores, Bellatin afirma que seguem produzindo, escrevendo para criar. Irreverente nas diferentes formas de criação, Mario Ballatin, parece querer também provocar quando posa na sessão de autógrafos deixando-se mirar aos flipianos em sua prótese fálica(2)
Cristovão Tezza e seus premiados livros vêm ocupando um lugar de prestígio na literatura brasileira como costuma propagar a imprensa midiática (3). Em 2007, a consagração com a publicação de O filho eterno, romance que aborda com originalidade o tema do nascimento de um filho com síndrome de Down, é merecedor de vários prêmios, entre eles, o Prêmio Portugal Telecom, Prêmio São Paulo de Literatura de Melhor Livro do Ano, Prêmio Jabuti de Melhor Romance de 2008, Prêmio Bravo de 2008 e Prêmio APPCA, 2007. Embora se defina como um professor tardio, a prosa de Cristovão Tezza expõe com estilo emocional e tocante de um tema vivo e real das dificuldades inúmeras e das pequenas vitórias de conviver com uma criança que o ocupará pelo resto da sua vida, uma criança desejada, mas diferente. Como expositor, o escritor demonstra que o real e a ficção reordenam sua própria vida, o eu profundo e os outros eus mesclam-se com precisão literária encadeando idéias e experiências de vida que vão conferir a expressão que ouvi muitas vezes ao longo do evento: “É um livraço”! Quanto ao escritor, um professor que não exita em falar de suas experiências, das suas descobertas e se tornar personagem de sua própria obra. Falando sobre seu livro quando da época de lançamento, ele comenta que sente o livro forte e que escrever é uma atividade sem volta.

Os eus tão presentes parecem configurar uma era do esmaecimento da fôrça dos processos coletivos, em que as subjetividades parecem querer expressar outras formas de construção das identidades ( idéia a ser melhor desenvolvida mais adiante).

Notas: (1) Como avisei aos navegantes, conheci o Mario Bellatin recentemente. Antes, porém, tive o cuidado de, pelo menos, interessar-me em ler sua biografia, uma vez que o livro adquirido ainda não saiu do lugar que encontrou na fila da estante.

(2) Hijo de padres peruanos, Bellatin vivió en Perú, donde estudió Teología durante dos años en el seminario Santo Toribio de Mogrovejo y, después, Ciencias de la Comunicación en la Universidad de Lima. En 1987 viajó a Cuba becado para estudiar guión cinematográfico en la Escuela Internacional de Cine Latinoamericano de San Antonio de los Baños. Sus primeras novelas las publicó en Perú.A su regreso a México fue director del Área de Literatura y Humanidades de la Universidad del Claustro de Sor Juana y miembro del Sistema Nacional de Creadores de México de 1999 a 2005.Actualmente es director de la Escuela Dinámica de Escritores en la Ciudad de México. La escuela propone un metódo de preparación literaria alternativo a los espacios académicos y a los talleres literarios tradicionales. La primera regla de la Escuela Dinámica de Escritores es no escribir para la escuela, sino escribir para crear. Los métodos aplicados por Bellatin enfatizan la relación que guardan entre sí las distintas formas de arte, señalando el origen común de todas ellas. Para Bellatin toda obra de arte debe poseer una retórica propia que permita alejarla de su autor con facilidad.Su preparación académica fue una influencia decisiva para el desarrollo de su escritura. Su experiencia cinematográfica le llevó a concluir que la realidad puede estar encapsulada en un fragmento de tiempo pequeño y sin embargo ser capaz provocar sensaciones importantes en el espectador. De ahí se desprende el caracter fragmentario de su escritura, que sólo ofrece los datos precisos de la realidad que compone en sus novelas.Su obra, de gran difusión, ha sido traducida al inglés, alemán y francés. Mario Bellatin es considerado uno de los escritores contemporáneos latinoamericanos experimentales, en cuyas novelas se plantea un juego lúdico entre realidad y ficción, matizado con protocolos apócrifos, crónicas, biografías o documentos científicos, provocando así situaciones inverosímiles e incluso graciosas. Su obra no contiene referencias biográficas, pues el autor cree que el texto debe sostenerse por sí mismo y que la literatura se desarrolla de mejor manera con la menor intervención posible de parte del autor. http://es.wikipedia.org/wiki/Mario_Bellatin
(3) Cristovão Tezza (Lages, Santa Catarina, 1952) é um romancista brasileiro. Nasceu em Lages mas mudou-se para Curitiba (Paraná) com dez anos. Esta última cidade é cenário de boa parte de sua literatura, pela qual seus personagens visitam ruas e pontos turísticos.Quando mais jovem fez teatro, foi da marinha mercante, trabalhador ilegal na Europa e ainda relojoeiro. Tinha enorme paixão pela profissão, mas percebeu que os consertos de relógio não sustentariam suas ambições literárias. Já era escritor bem jovem, e aos 13 anos fez seu primeiro livro, designado por ele mesmo “muito ruim”. Já publicou dez romances. Uma das marcas de seu texto é a presença de mais de um narrador: em Trapo, vemos a história do ponto de vista do professor Manoel, que estuda o poeta Trapo, e paralelamente do ponto de vista do poeta, através de seus poemas. Em 2003, publicou um ensaio sobre Mikhail Bakhtin, que era, na verdade, sua tese de doutorado. É doutor em Literatura Brasileira e professor de Lingüística na Universidade Federal do Paraná. Em algumas declarações afirma que “só uns quatro ou cinco escritores brasileiros poderiam viver só dos livros”, e por esse motivo é professor. Ganhou o prêmio da Academia Brasileira de Letras de melhor romance brasileiro de 2004, pelo seu livro “O fotógrafo”. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cristóvão_Tezza
(4) As fotos tiradas na Tenda dos Autógrafos não revela, mas havia um caracol de curiosos, tímidos, exibidos, excêntricos e espantosos escritores e leitores, todos amantes dos livros. Na primeira vê-se Cristovão Tezza, na segunda e terceira Mario Bellatin.

10 comentários:

Anônimo disse...

Stela vividas imagens da Flip, viajei com seu texto. Não entendi bem as divergências entre Belatin e Tessa. Li o último livro de Tessa. Não é fenômeno mediatico gratuito ou pela comoção do tema nuclear filho com síndrome de Down ou por títulos. Aliás numerar títulos de autores e impor critérios de mercado ou política de parches. O bom escritor começa sua história em cada obra. Ou como dizia o Che. "currículo de revolucionario e o que se esta fazendo. Não o que fez" o desafio e o momento presente. Mas voltando a Tessa. Em seu livro as palavras, o tema forma cachoeira. Vão em crescendum. Entusiasma a interação entre vida vivida e enredos criados. Mais que aprender a amar o filho não desejado. Aprender descobrir afinidades. A partida de futebol que pai e filho assistem juntos é teatral. Mais que perceber um outro diferente. Seu livro é sobre tirar de si um outro enjaulado. O escritor. Apesar das minhas militancias. São agudas as ironias com a política. Belo texto seu Stela. Obrigada pela Viagem. Mary

Enviado de meu iPhone Mary Garcia Castro

Stela Borges de Almeida disse...

Mary, você já imaginou se Mario Bellatin resolve fazer um filme sobre O filho eterno do Cristovão Tezza? seria um filmaço, ou não? as afinidades vão se revelando, não é mesmo? as divergências depois falamos, haverá tempo.

Anônimo disse...

Prezada Stela,
muito obrigado por sua leitura e suas palavras.
Abraço grande do
Cristovão Tezza

Stela Borges de Almeida disse...

O livro do Cristovão Tezza, O filho eterno, encontra-se disponível para quem quiser ler ( posso emprestar, desde que seja devolvido) ou para contacto com o autor, consultar: www.cristovaotezza.com.br

Anônimo disse...

Stela ,
Vc tem razão , gostei de seu texto, a FLIP não terminou as idéias circulam e vão circular por muito tempo. Durante toda semana a mídia tem trazido para o debate a fala dos diversos autores.Tenho acompanhado as entrevistas onde cada escritor traz á tona seus pessonagens. Não foi atoa a decoração da Tenda dos autores "Os dilemas do coração ". A diversidade dos autores e leitores possibilitaram um amplo debate não só nas tendas, mas nos bares , na rua... !
Como professora fiquei atenta a Antonio Lobo que traz à FLIP sua declaração de amor à escrita. Escrever é preciso.CASA DA CULTURA e o manifesto por um Brasil litérário , Documento para encaminhamento oficial.
Aprender é preciso , sou eterna aprendiz destes personagens que nos ensinam mais do que aqueles com os quais convivemos .
Revendo Manuel Bandeira quero ir pra Passárgada !... Flâner com o "alumbramento " deste poeta que diz as coisas elevadas de forma humilde, perto do chão como bem apresentou Davi ARRIGUCCI .
Obrigada pelas fotos .
Beijos
Zuleide

Anônimo disse...

Sinto-me mais perto de ti aqui
Que bom foi parati
Sua filha

Stela Borges de Almeida disse...

Flavia, o próximo post será para você e Ana Beatriz. São imagens da Flipinha na Praça da Matriz. Aguarde-me, Mamis.

Jonga Olivieri disse...

A realidade é que a FLIP, cuja primeira edição foi em 2003, consolidou-se como um importante Festival Literário.
Gostei muito de seu relato sobre autores que não conhecia. Mas é sempre importante abrir horizontes de conhecimentos.
Como diz o velho e bom dito popular: "vivendo e aprendendo".

Stela Borges de Almeida disse...

Jonga, não encontrei o Antonio Torres, mas da próxima vez Essa Terra já estará na estante, enviarei uma foto para você do encontro. Gostei demais da apresentação por fotos, da próxima será ao vivo e a cores.Vamuquivamu.

Jonga Olivieri disse...

O Torres não foi este ano ao FLIP, porque estava a organizar a Oficina de Literatura na "Casa do Saber", aqui no Rio.
É um trabalho meio envolvente e exaustivo porque depois desta vão haver uma série de outras, como poesia, conto e crônica.