sábado, 16 de julho de 2016

Notas sobre a FLIP2016

Comento nesta postagem   sobre a Festa Literária Internacional de Paraty- FLIP2016 que participo pela terceira vez. Penso que a Flip representa um dos melhores momentos de convivência e partilhas para  os que apreciam as manifestações culturais, a  poesia e a literatura, dentre outros, que acontecem no Brasil.

Evento imperdível no calendário cultural de Paraty (Rio de Janeiro-Brasil) a Festa Internacional de Literatura de Paraty- 14ª edição, 29 de junho a 03 de julho de 2016-  com  uma programação intensa, composta de 21 mesas além de diversos outros encontros promovidos na FlipMais, FlipZona, Flipinha e demais espaços culturais de Paraty ,  marcam a grandeza do encontro ( para informações detalhadas consultar o site flip.org.br), 

Diversidade, intensidade, emoção,  descobertas, marcam os momentos  vividos neste lugar de beleza e de conflitos, este ano intensificado  por manifestações de protestos à grave situação política que atravessa o Brasil.

Difícil descrever a Flip, me agrada quase tudo, o nível de organização, a diversidade dos convidados, as programações alternativas a escolher, do lugar de escuta e reflexão que promove, do encontro  e descoberta de  pessoas diferentes e amantes da literatura. Não me agrada que seja entendido apenas como um evento de brancos e dos que tem  posses, concordo que  precisa ampliar  espaços para maior integração e oportunidades para as diferenças.

Neste breve relato  me detenho apenas em alguns flashes, mesmo porque- como diz minha amiga Zuleide-  o conteúdo dos debates e oferta de produções recentes de livros e publicações colocam um conjunto de inquietações que ocupariam longo tempo de conversa,  impossível neste espaço de blog.

O caminho até Paraty já apresenta  uma estrada tropical de contemplação, com uma vegetação de exuberância e muito verde tornando  ainda mais aprazível  o evento, quando na primeira parada, para repor as energias, encontramos  o primeiro convidado , nada mais nada menos do que Lázaro Ramos que responde ao meu alô com um divertido comentário_ ah uma conterrânea, com a fitinha do Senhor do Bonfim. É assim, as baianas sabem se proteger, carregam seus patuás por onde andam.



A abertura do evento trouxe-nos o amigo da homenageada_ Ana Cristina César ( 1952-1983).
O Armando Freitas Filho também  será homenageado por Walter Carvalho na sessão de cinema: Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície.
Um sarau finalizará a noite, num clima de emoção e festa.

Cartilha da Cura

As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.


As vinte e uma mesas que seguirão os dias de temperatura amena em Paraty, vão requerer fôlego. Além da caminhada pelas  pedras de moleque de uma colonização histórica, cada mesa nos apresentara autores novos e velhos, amigos e conhecedores da obra poética e literária da homenageada, que  nos brindarão com seus ensaios, livros e comentários sobre a literatura e a poesia contemporânea. 

Há os que digam que a escolha da homenageada é marcada pelo desprestígio da literatura, há também os que afirmam que é um feira em cima do muro, que não há espaço para a política. Polêmica, inquietante, não atende a todas as diferenças e diversidades. 

 Gostei de ter escutado as falas de Annita Costa , Laura Liuzzi e Marília Garcia ( mesa1) e me interessei em trazer a memória de Marília de um passeio por Paris, texto escrito em 2015 realizado na Cité Internationale des Arts, em Paris.

Ouvir J.P.Cuenca e Valeria Luiselli ( mesa8), A história da minha morte, foi divertido.  Da segunda trouxe o livro  A história dos meus dentes, Rio de Janeiro, Alfaguara: 2016.  The New York Times a apresenta: " Valeria Luiselli segue a tradição de Borges e Garcia Márquez, mas seu estilo é inesquecívelmente único". A conferir.

O show do eu ( mesa 9) com Christian Dunker e Paula Sibilia provocou debates e aplausos. O psicanalista, autor do livro "Mal estar, sofrimento e sintoma" ( Boitempo)  discute os processos de "condominização" e ocupação dos espaços. Paula Sibilia traz uma produção no campo da antropologia e tem um livro com o título da mesa. A ler, mais adiante.

Foi muito interessante ouvir  de Clarice a Ana C.( mesa 14) onde  participaram Benjamin Moser e Heloísa Buarque de Holanda. Benjamin é autor de "Clarice", biografia de Clarice Lispector publicada em oito países e  reconhecido com o primeiro Prêmio Itamaraty de Diplomacia Cultural, assina uma coluna no New York Times, está finalizando a biografia autorizada de Susan Sontag. Estou lendo o livro Autoimperalismo. Três Ensaios sobre o Brasil. Planeta, 2016.

Heloísa nos trouxe um depoimento dos que conviveram de perto com a homenageada, foi amiga e professora de Ana Cristina C. Traz um vídeo sensível e delicado com fragmentos da obra de Ana C, cadernos, recortes, poesias e uma gravação com sua voz. Emocionante.

Vaiado e aplaudido, Abud Said, O cara mais esperto do Facebook, nos fala na inquietante mesa : Síria mon amour ( mesa 19) com a jornalista Patrícia Campos Mello. Fui a sessão de autógrafo, Said falou em árabe e escreveu a dedicatória em árabe.

( transcrevo  trechos do seu livro)

1 de fevereiro de 2012 às 12:08 

Estamos vendo na TV a cobertura dos debates na ONU, quando minha mãe diz: todo esse papel branco nessas mesas na frente deles é por causa da Síria???
Naturalmente, ela quer dizer que a situação é óbvia, nem precisava de todos aqueles papéis.
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29 de fevereiro de 2013 às 02: 20

Para aqueles que continuam se perguntando quem é Abud Said:
Eu sou Abud Said, residente em Manbij, onde as moças não vão aos cafés e onde nenhum prédio tem mais do que quatro andares...
Meu sobrinho pequeno/ sempre lhe pedi para dizer
Allahu Akbar
ele disse: eu, hein!!!
Na escola, eu sentava na última carteira. Fui pra universidade pra conhecer uma moça que não usasse véu e tivesse um celular com bluetooth...
Ela chamava o próprio celular de "catwoman ".
Por isso, chamei o meu celular de "miau".
Mesmo assim, ela nem ligou. Eu trabalho como ferreiro.
Isso quer dizer marreta, polias e chave 13x14mm.
Eu durmo com sete irmãos no mesmo quarto. Não tenho armário, por isso escondo minhas cartas particulares no galinheiro/às vezes, uma galinha põe um ovo em cima das palavras "eu te amo" e, às vezes, ela caga em cima do P.S. no fim da carta.
Minha mãe não sabe cozinhar lasanha. Até o ano passado, eu achava que croissant era um tipo de comida cara, que se come com garfo e faca.
Toda noite, eu sonho que sou Hannibal Lecter, sentado à mesa, de frente para o cérebro da moça que eu amo.
No ônibus, sento no banco oposto ao da minha vizinha, para olhá-la. Nunca em minha vida vi um avião que não fosse de guerra.
Roubo minha eletricidade do poste mais próximo. Uma garota burguesa paga minhas faturas de internet.
Na minha rua, as crianças tiram sarro da pinta na minha testa. Meu irmão mais velho não acredita que eu sou poeta...Enquanto meus primos, se soubessem que eu sou poeta, me fariam passar ridículo, batucando panelas e latões atrás de mim.
tenho um lápis com o qual às vezes rabisco, e que aponta na faca. A última caneta azul cara que eu ganhei de presente estourou no bolso da minha camisa.
Em casamentos, sento perto do cantor. Em funerais, eu sou quem serve o café amargo. Nos cafés, minha mesa sempre é aquela que o garçom ignora.
Eu sou Abud Said. Acaricio o pescoço do animal que vive dentro de mim para que ele cresça como um lobo cego.
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Vou concluir estas notas.  Não falei da escritora russa, do poeta norueguês, da jovem poeta inglesa, do neurocirurgião  inglês e suas intermináveis intervenções cirúrgicas, enfim não falei de inúmeras falas e comentários que ouvi e me fizeram pensar melhor e estar mais atenta à condição humana.
São muitos autores, cada um traz um novo olhar que  nos leva a caminhos diversos, com suas histórias, seus depoimentos, suas vivências e aprendizados.

Para os raros leitores, um comentário final. Coloquem suas críticas, sugestões e impressões, há espaço no blog para um feedback. Até breve!

P.S_ na próxima postarei as fotos da Flip, as que consegui captar.




                                                                 ana cristina cesar . poética.















2 comentários:

Flavia disse...

Para os que não puderam ir, houve transmissão oline. Gostei da mesa arte e ciência na qual foi contada a vida de Santos Dummont. Parabéns pelo blog! Flavia.

Stela Borges de Almeida disse...


Flavia

As transmissões permanecem gravadas no site flip.org.com, ótimo porque permite a quem não quer ou não pode se deslocar, participar. Amei suas observações enviadas via what'szap e vou procurar o autor que estuda a vida de Santos Dumont, sei que você se interessou.

Recebi vários e-mails comentando a postagem, alguns me dizem que não sabem como enviar os comentários por este link.
Gostei especialmente dos comentários de Mary Garcia Castro, Zuleide Cardoso, Jonicael Cedraz, Lucas Silva, entre outros. Fizeram elogios, os quais agradeço, mas também, críticas e acréscimos a estas breves notas. Obrigada e até a próxima postagem.

Stela Borges de Almeida_stelaborgesalmeida@gmail.com