Festival Varilux de Cinema Francês
2016
De 8 a 22 de
junho de 2016, em cinquenta cidades do Território Brasileiro, o Festival
Varilux de Cinema Francês, traz a público quinze filmes nas diferentes salas de arte e
espaços culturais, entre eles, Salvador-Bahia.
Coincidentemente,
neste mesmo período, o Curso de Francês do
Núcleo Permanente de Extensão em Letras da Universidade Federal da Bahia (http://nupel.ufba.br) terminou o primeiro
semestre após uma maratona de aulas semanais que exigiram dedicação e
preparação para as avaliações finais orais e escritas.
Um bom motivo
e uma chance de assistir, provocar e motivar os colegas para assistirem, e se possível,
desfrutar dos quinze filmes que constam na programação deste festival que
interessa aos cinéfilos e estudiosos da filmografia de produção francesa.
Com este
propósito, convidamos o Professor Lucas Silva
para participar nesta edição do Blog:
Cultura, Política e Cinema, trazendo seus comentários dos filmes assistidos
e sua sensível e articulada percepção da função do cinema francês na
contemporaneidade.
Esta postagem
apresentará os comentários de alguns filmes exibidos e assistidos no festival,
sem distinção de méritos e grandeza da filmografia. O critério de escolha além
de aleatório, deu-se pela oportunidade de acesso aos cinemas nos horários mais
adequados às nossas atoladas agendas de compromissos.
Primeiramente,
Agnus Dei (Les Innocentes) e La Vanité (La Vanité) sob a minha lente
de cinéfila, sem carteirinha, porém estudiosa e amante da sétima arte.
Lolo, o
filho da Minha Namorada (Lolo)
por Lucas ( que enviará em breve seus
comentários via e-mail, acrescido de outro filme da sua preferência).
A seguir:
AGNUS DEI ( Les inocentes)
(Les Innocentes, França, 2016, 115 min) Dir.
Anne Fontaine
Polônia, dezembro de 1945. Mathilde
Beaulieu, uma jovem médica da Cruz Vermelha encarregada de tratar sobreviventes
franceses antes de serem repatriados, é chamada para socorrer uma freira
polonesa. Relutante no início, concorda em ir ao convento, onde trinta freiras
Beneditinas vivem afastadas do mundo exterior. Mathilde descobre que várias
freiras, que engravidaram em circunstâncias dramáticas, estão a ponto de dar à
luz. Aos poucos, surge entre a ateia e racionalista Mathilde e as freiras, ligadas às regras de
sua vocação religiosa, relações complexas que aguçadas pelo perigo as tornarão
cúmplices para um novo encontro com suas próprias vidas.
A direção de
Anne Fontaine traz uma narrativa histórica e dramática de um tema que vem sendo
abordados em vários fóruns e movimentos feministas relacionados às mais
diferentes formas de violência à
mulher, do aviltamento das condições e especificidades de vida das mulheres e
violação dos direitos humanos. A invasão do exército alemão e russo nos
conventos beneditinos mostram a truculência do poder masculino frente à
condição feminina e religiosa.
O filme
mostra cenas da vida cotidiana das freiras voltadas para meditações e orações,
sendo obrigadas a enfrentarem as
consequências dos abusos de violação das suas sexualidades. A gravidez
resultante dos estupros são enfrentamentos que as freiras precisam resolver. A
temática do filme é atual, complexa e repleta de emoção e indignação. As cenas
do nascimento das crianças são plenas de sutilezas e apreensões. Algumas
daquelas freiras rejeitam suas crias resultantes de coitos violados. Outras a
acolherão deixando falar mais alto seus sentimentos ocultos de maternidade.
O dilema
religioso da fé sofre conflitos e tensões entre a vida de crianças que foram
geradas sob o estigma da violência e que por isso não foram desejadas e o
impulso materno que brota em algumas das religiosas violentadas.
A solução
final do filme apresenta a médica francesa trazendo para o convento crianças abandonadas
encontradas nas cercanias, de modo que as religiosas passarão a cuidá-las,
sejam paridas de seus próprios ventres violados, sejam merecedoras dos cuidados
e afetos maternos. Uma fotografia cuidadosa, com planos externos na neve de
rara beleza de luz e sombras, torna além da reconstrução histórica da temática
valiosa, o filme da Anne Fontaine imperdível!
La Vanité ( La Vanité)
Com: Patrick Lapp, Carmen Maura, Ivan
Georgiev
David Miller decide dar fim a sua
vida. Para isso, esse velho arquiteto doente, recorre a uma associação de
suicídio assistido. Mas Espe, a atendente da clínica, não parece estar muito a
par do procedimento, enquanto David Miller tenta de todo jeito convencer
Tréplev, prostituto russo do quarto ao lado, a ser testemunha do seu último
suspiro, como a lei exige na Suíça. Durante uma noite, os três vão descobrir que
a afeição pelos outros e talvez o amor sejam os únicos sentimentos que
realmente persistem.
Distribuição no Brasil: Supo Mungam
2015 - Comédia dramática - 1h15
Este filme é
surpreendente. Ao tratar do tema da eutanásia o faz através de uma narrativa do
imprevisto, criando situações de perplexidade quanto ao ritual a que estão
submetidos os que se dispõem a tirar sua própria vida. Nada no filme é usual. A
começar pela personagem excêntrica representada por Carmem Maura, atriz
espanhola, que aparece com frequência nos filmes de Pedro Almodóvar. E o
comportamento do prostituto russo, disposto a prestar seus serviços
profissionais, até mesmo numa ação extrema como o de colaborar com alguém que
quer tirar a sua própria vida.
Vale
assistir, não é todo dia que temos chance de refletir sobre a temática da
eutanásia. E, até mesmo, aprender que “kaput”, palavra usada várias vezes pelo
velho arquiteto doente, parece significar que tudo está quebrado, até mesmo
suas molestas condições de vida. Kaput!!
P.S_um agradecimento especial a Edith
Meric que do alto do seu saber sobre movimentos _gyrotonic e gyrokineses_ está
nos ensinando a dimensão do corpo vivo e sabe muito bem dizer o significado de kaput!
Festival Varilux de Cinema Francês. Junho 2016. Foto: Flavia Riggle.
3 comentários:
Ótima indicação, muito boa oportunidade para quem gosta de cinema!
Que ótima oportunidade para quem gosta de cinema francês e de um modo geral da cultura francesa ter aqui um espaço para debater e comentar os filmes do festival Varilux. Parabéns pela iniciativa Stela! Com certeza estarei atento às próximas postagens do blog.
Achei super interessante os temas dos filmes indicados. Tambm estarei atenta às proximas oportunidades!Obrigada Stela e parabéns pelo blog
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