sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mapa da Violência 2012


 
 
 
(clic na imagem para ampliá-la)  
 
 
O jornal A Tarde, divulgou hoje (sexta-feira, 30.11.2012) matéria comentando posição da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir) à respeito do Mapa da Violência 2012.

 O Mapa da Violência 2012 mostra, dentre outros dados,  que a Bahia ocupa a primeira posição no ranking de homicídios de negros. A Bahia, como sabemos, um estado com o maior contingente de afrodescendentes, apresentou um quadro de 295,4% ( 1.282 mortes em 2002 para 5.069 em 2010) à frente de Rondônia (211%) e Paraíba (209%). No Brasil, a alta foi de 29,8%, enquanto que a morte de brancos diminuiu 25, 5% ( cf. página do primeiro caderno A8).

 Comentando esta matéria com estudiosos da temática, para balizamento maior da questão dos homicídios de afrodescendente,   recebi e-mail que julgo importante compartilhar com os leitores deste Blog. Considero que a opinião de profissionais voltados ao entendimento das questões sociais com reflexão e posicionamento crítico, requer divulgação. Como leitora do jornal A Tarde, tenho percebido que este canal de informação tem criado pouco espaço para o debate de idéias divergentes e polêmicas.

Divulgar o Mapa da Violência, estudo que demonstra através de dados de pesquisa conceituadas, a Bahia como um estado de maior número de homicídios de afrodescendentes, cabe, no mínimo, indignar-se com o genocídio a céu aberto  e buscar as políticas públicas que melhore a situação dos jovens, negros e brancos da periferia desta cidade. A seguir, e-mail recebido ontem, compartilho.

 

E-mail: 29.11.2012
Assunto: Mas somos todos baianos?

 Ruy Espinheira Filho em artigo intitulado “Como é que se vai perdendo a Bahia” (A TARDE  29/11/2012) concorda com o dito por João Ubaldo Ribeiro de que “não somos brancos, nem pretos, nem índios - somos baianos”. Mas lamentavelmente a cultura, se nos identifica  por tradições, jeitos de ser, expressões artísticas, também  nos separa ao se misturar com economia e política, e não está acima de desigualdades sócio-raciais  historicamente construídas e reproduzidas hoje por relações sociais em varias dimensões da vida  e inclusive pela indiferença avestruz dos que advogam que vivemos em relações sócio rac iais sem conflitos, como sugere implicitamente o escritor em seu artigo, nostálgico por  uma Bahia idílica de um passado imaginado.  Desculpe, mas para quem era “doce” a Boa Terra ontem e para quem deixou de ser assim, hoje, cara pálida?

Se somos todos baianos, como explicamos os dados do recém lançado “Mapa da Violência  2012_ A cor dos homicídios no Brasil” (FLACSO-CEBELA-  Secretaria de Promoção da Igualdade  Racial, de autoria de Julio Jacobo Waiselfiz)?  No Mapa se lê: “Individualmente, Bahia, Paraíba e Pará foram as unidades que tiveram maior crescimento no seu número de homicídios negros, mais que triplicando em 2010 os números de 2002”. As  Taxas de Homicídio (por 100 mil) na População total, segundo Raça/cor na  Bahia  em  2 002 e  2010 são:  4,5 e 11,7 considerando a população branca; e 12,5 e 47,3 entre os negros.  O índice de vitimizaçao negra (relação entre taxa de homicídios de brancos e a taxa de homicídios dos negros) passou de 175,6 (2002) para 303,8 (2010). Considerando só Salvador, têm-se as seguintes taxas de homicídios em 2010: 21,6 e 78,3, com um índice de vitimizaçao de negros de 263.

 Será que a “privilegiada nação da baianidade” não está sendo perdida e cada dia mais violenta porque muitos não estão se sentindo menos baianos do que outros?

 

MARY GARCIA CASTRO –castromg@uol.com.br
Programa Pos Graduação Familia na Sociedade Contemporânea e
Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania-UCSAL
Co-coordenadora Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Juventudes, Culturas, Identidades e Cidadania -NPEJI/UCSAL
Pesquisadora Flacso - Pesquisadora CNPq
Membro do Conselho Estadual de Cultura
Brasil
55-71-32354160/33791972/9979580

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Leão e a Joia. Wole Soyinka.

 
 
 
 
Ontem, dia 20 de novembro de 2012, Dia da Consciência Negra, ouvi com entusiasmo a fala do escritor, autor de peças teatrais, romances e poemas, o nigeriano, Wole Soyinka (1934, Abeokuta-Nigéria) que falava para o atento púbico presente à Academia de Letras da Bahia. Nos
 brindava com a sua simpatia, alegria e saber. Em sua homenagem, trago hoje, neste blog,
 trechos de um dos seus livros, O Leão e a Joia, publicado pela primeira vez
no Brasil em língua portuguesa. Wole Soyinka é o primeiro africano a receber o Prêmio Nobel de Literatura( 1986).
A foto que selecionei
 para ilustrar esta postagem
foi escolhida por critérios estéticos, acho esta imagem uma beleza. Encontrei em site de filmes africanos e como não anotei no momento da consulta, vou divulgá-la sem os devidos créditos, será bem vindo o leitor(a) que tiver as devidas referências.
 
 
NOITE
 
(...)Centro da aldeia. Sidi está parada em frente à janela da escola, admirando suas fotografias na revista, como já fizera antes. Entra Sadiku, trazendo um pacote fino e comprido, mas não muito grande. Age muito furtivamente e parece não ter visto Sidi parada ali. Ela abre o pacote e retira um objeto, que é uma representação do bale, completamente nu e detalhado, esculpido em madeira. Ela olha fixamente para a estatueta, explode subitamente em risadas de troça, agacha-se e coloca a figura em pé diante da árvore. Sidi contempla a cena, inteiramente tomada de espanto.
 
SADIKU: Então, afinal, nós demos um jeito em você, não demos? No fim, fomos nós que ganhamos a parada...Ah, grande e poderoso leão, será que realmente conseguimos te estropiar? A-iê-iê-iê....
Nós, mulheres, acabamos com você no fim, não foi? Eu estava lá quando aconteceu com seu pai, o grande Okiki. E fui eu que dei um fim nele...eu, a mais jovem. E a última de suas muitas esposas. Eu que o matei. Com minha força. Eu o chamei e ele veio até mim. Mas, não, para ele não foi como das outras vezes. Eu, Sadiku, não fui a própria chama e ele O pavio de linho fiado pelas mulheres velhas? Fui eu que o devorei! Raça de poderosos leões. Nós sempre consumiremos vocês, nós é que fiamos. Conforme o nosso prazer, nós é que os fazemos. Dançar na ponta de nossos cordões; vocês não passam. De piões tolos, girando sem parar e pensando. Que o mundo que gira em volta de vocês...tolos! Tolos! São vocês que giram em volta, sem parar. Até ficarem tontos de cair, enquanto nós Que enrolamos e desenrolamos o cordão à volta de vocês, Lentamente, até que nada mais sobre Do que um carretel velho e carcomido....
 
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Soyinka, Wole. O Leão e a Joia. São Paulo: Geração Editorial, 2012