sábado, 29 de outubro de 2011

DAWSON ILHA 10

Lançamento Nacional em 11 de novembro de 2011

DAWSON ILHA 10 A VERDADE SOBRE A ILHA DE PINOCHET
Um filme de Miguel Littín Duração: 100’ Locação: Ilha Dawson e Santiago, Chile Produção: Chile/Venezuela, 2009 / Brasil, 2010

Sinopse

Em 1973, o general Pinochet lidera o golpe de estado que depõe o governo de Salvador Allende no Chile. Os ministros e autoridades depostas tornam-se presos políticos dos militares e são levados para a gelada ilha Dawson, no extremo sul do país, utilizada como campo de concentração da ditadura chilena. Os presos políticos foram submetidos a violentos interrogatórios, trabalhos forçados, constantes torturas físicas e psicológicas. Cristián de La Fuente interpreta um oficial do exército bastante rígido que está encarregado deste grupo de prisioneiros políticos. Benjamín Vincuña interpreta Sergio Bitar, ex-ministro do governo Allende que escreveu o livro Isla 10, no qual o filme foi baseado. Dawson Ilha 10, longa metragem resultante de uma parceria entre Brasil, Chile e Venezuela, apresenta a realidade sofrida pelas vítimas de uma das mais longas e violentas ditaduras da América do Sul.

Sobre Miguel Littín por Antonio Skarmeta
Santiago, 22 de julho, 2009

Miguel Littín teve uma vida excepcional como criador de uma filmografia marcante na história cinematográfica latino-americana. Ele esteve permanentemente comprometido com uma visão autêntica de questões e personagens chilenos, utilizando-se de uma linguagem original e bela. As críticas nacionais e internacionais avaliaram seu trabalho algumas vezes e indicaram-no para Palma de Ouro, em Cannes e para o Oscar em duas ocasiões. Seu filme El Chacal de Nahueltoro é uma inquestionável obra-prima na história da cinematografia mundial e ainda hoje é considerado como uma importante forma de militância contra a pena de morte nos centros internacionais judiciais, universais e políticos que discutem a causa. Actas de Marusia e La Tierra Prometida têm intensamente nos mostrado como Littín vê a história a partir da perspectiva do povo oprimido que luta pela sua dignidade. Ele sabe como se expressar com uma elegância épica. Particularmente, eu gostaria de destacar a visão inspiradora de Littín dos autores latino-americano. Seus trabalhos têm sido adaptados pelo diretor com um alto nível de expressividade e uma complexa síntese dramática. Como no caso de El Recurso del Método de Alejo Carpentier, La Viuda de Montiel e também Alsino y el Cóndor, baseado em Pedro Prado. Ele sabe como gerenciá-los e inserí-los no quadro atual da realidade latino-americana. Como documentarista, Littín é um mestre. O filme que fez no Chile, correndo grandes riscos durante a ditadura de Pinochet viajou pelo mundo ao ponto de um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez, ter dedicado um livro inteiro para ele: La aventura de Miguel Littín clandestino en Chile. Dawson Ilha 10 é baseado no livro Isla 10 de Sergio Bitar, que foi aprisionado na Ilha de Dawson após o golpe militar. Antonio Skármeta


NOTA: Para quem ainda não teve chance de assistir, o filme do Miguel Littin é imperdível. Lançado no Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual em Sessão Especial o ano passado, agora em lançamento nacional a partir do dia 11 de novembro de 2011.

Mais informações:
www.dawsonlapelicula.com e www.dawsonilha10.com.br

sexta-feira, 14 de outubro de 2011



























Pesquisa sobre a Jornada Internacional de Cinema da Bahia(1).

Numa manhã de trabalho na Biblioteca Central da Universidade Federal da Bahia, motivadas pelo ofício de pesquisadoras, trocamos dados sobre pesquisas e estudos que buscam tecer considerações sobre a 38 Jornada Internacional de Cinema da Bahia, suas dimensões de estudo e reflexões sobre um cinema de resistência e por um mundo mais humano.

A jovem professora e pesquisadora, Izabel de Fátima Cruz Melo, apresenta aqui seu olhar sobre o mais antigo evento de cinema do Nordeste e o resistente espaço de debates e reflexões sobre a cinematografia internacional, nacional e local nos últimos decênios, promovidos pela Jornada Internacional de Cinema da Bahia(2).

A seguir:

Blog(3): Conhecemos seu trabalho No meio do caminho tinha uma Jornada, ou era ela o caminho? Jornada de Cinema da Bahia (1972-1978), publicado em 2009 pela Edufba. Por que a escolha da Jornada como objeto de estudo e qual o cenário político-social no qual ela emerge?

Izabel de Fátima Cruz Melo: A minha aproximação com as Jornadas foi oriunda de uma aproximação via estágio de pesquisa na graduação e minha escolha se deu por conta de perceber ali um universo de vivências, histórias que a minha geração sequer sabia existir. O cenário político e social é o da ditadura militar, com todas as restrições de manifestações públicas, cerceadas na base da violência explícita ou simbólica, o que fez da Jornada um dos centros nacionais de resistência cultural e também política à ditadura. Notei na trajetória das Jornadas a emergência e persistência de temas que ainda hoje compõem a pauta das questões relacionadas ao que hoje chamamos de audiovisual, e a sua importância naquele momento como um dos centros de discussão sobre cinema, política e comportamento em suas diversas dimensões.

Blog: Sabemos que há várias dimensões na estrutura do evento. Por sua natureza diversificada e abrangente, apresenta um conjunto de debates, encontros, palestras, promoção de oficinas, sessões especiais, mostras e retrospectivas com renomados realizadores, artistas e admiradores do cinema, entre outras.
Poderia nos oferecer uma análise das principais atividades que se destacaram na Jornada, tomando o período que você elege como baliza para sua pesquisa?

Izabel de Fátima Cruz Melo: Mesmo partindo do recorte dado pela baliza temporal, não é exatamente fácil delimitar quais seriam as principais atividades da Jornada, isso via de regra, depende do olhar, do interesse do pesquisador ao se relacionar com o tema. No meu caso, ao tentar delinear a Jornada, analisando os regulamentos, boletins informativos, jornais da jornada e entrevistas concedidas por participantes do evento, elenquei como principais atividades os Simpósios sobre o curta-metragem que em 1973 derivaram na fundação da ABD (Associação Brasileira de Documentaristas) e na reestruturação do movimento cineclubista; as exibições, que proporcionavam tanto nas mostras competitivas quanto nas informativas e de homenagens, a apresentação de filmes que dificilmente seriam vistos em outros espaços, seja por conta da censura ou por uma distribuição precária que sempre privilegiou filmes de longa-metragens e de nacionalidade determinada e os debates pós- filmes que viabilizavam os momentos mais rememorados nas entrevistas, como espaço de exercício de liberdade de expressão política, cultural, comportamental, etc.

Blog: Vivemos hoje sob a condição da fragilidade dos laços humanos, nos diz Bauman. Observamos que a Jornada trouxe desde sua origem o importante slogan: Por um mundo mais humano. Você poderia situar as principais polêmicas e tensões que a Jornada precisou enfrentar e quais as possíveis respostas encontradas?

Izabel de Fátima Cruz Melo: No período no qual a minha pesquisa está situada, a principal tensão colocada pelo momento histórico era a ditadura militar e os seus desdobramentos, sobretudo, no nosso caso, a censura. As respostas, como coloquei rapidamente na mesa redonda, passaram por estratégias de burla, omitindo informações nos formulários enviados ao Departamento de Censura, formulando documentos públicos com posicionamentos contrários a existência da censura prévia, abrigando filmes com temáticas polêmicas para o período como greve de trabalhadores, tortura, libertação de países africanos do jugo do neocolonialismo, por exemplo.


Blog: Você menciona em seu artigo, resultante de Dissertação de Mestrado, que os relatos obtidos sobre a Jornada, ajudaram a sentir o clima em que eram exibidos os filmes nos espaços culturais de Salvador, na década de 70. Estes momentos memoráveis da Jornada mostram que os enfrentamentos com a censura e as estratégias de burla eram constantes. Poderia comentar a participação dos jovens nestas atividades, quais os registros destas participações?

Izabel de Fátima Cruz Melo: a presença dos jovens é bastante perceptível em todos os espaços e atividades das Jornadas. O trânsito dessas pessoas catalizava o desejo manifestado no regulamento da I Jornada Baiana “incentivar entre a juventude baiana a comunicação artística através da imagem cinematográfica e contribuir para que se abram melhores perspectivas para o curta-metragem na Bahia e no Brasil” . Assim, os encontramos na organização da Jornada, na qual muitas vezes havia a participação de estudantes do curso de Comunicação da UFBA, ou de jovens cineclubistas e interessados em cinema; nos filmes inscritos, sobretudo, mas não exclusivamente, na produção superoitista, responsável por algumas polêmicas temáticas e estéticas nos próprios filmes e também nos debates que resultaram em algumas mudanças nos regulamentos e na inserção de cursos como o dado por Eduardo Escorel sobre o suporte Super -8.

Blog: Os estudiosos e pesquisadores no ofício do seu trabalho, em sua maioria, têm recorrido aos registros em arquivos e mantidos por instituições de guarda dos documentos significativos para a investigação dos seus objetos de pesquisa. Quer dirigindo-se às bibliotecas, às instituições de pesquisa, centros de memória, entre outros, sabemos das dificuldades na preservação e manutenção destes documentos, sobretudo com o advento da nova era tecnológica. Quais seus itinerários na coleta dos dados com o acervo da Jornada e que mecanismos são utilizados para a manutenção e preservação desta memória?

Izabel de Fátima Cruz Melo: Boa parte da minha pesquisa documental no que tange ao que eu chamo dos “documentos oficiais” ocorreu no Setor de Cinema da FACOM/UFBA e no Escritório da Jornada. No período da pesquisa para o mestrado, a documentação estava ainda desorganizada, embora existissem as indicações das caixas, mas dentro dela havia documentos de natureza diferentes e nem sempre alinhados com as datas indicadas. Fiz uso da hemeroteca da Biblioteca Central do Estado da Bahia para a pesquisa dos jornais, que estão em condições preocupantes em termos de conservação. Fui também ao Centro de Documentação e Biblioteca da Cinemateca Brasileira em São Paulo, em busca de alguns programas, jornais e informações que não foram encontradas aqui em Salvador, onde fui gentilmente recebida num acervo altamente organizado e disponível. Entrevistei sete pessoas envolvidas nas Jornadas, na organização, participantes/ cineastas.
Sobre a preservação da memória da Jornada, penso que há a necessidade urgente da criação de um arquivo das Jornadas,que ao meu ver pode estar alocado no próprio Setor de Cinema. Um arquivo que preserve, conserve e disponibilize, não só a documentação escrita, mas também os filmes, coberturas sobre as Jornadas, gravação dos debates, para evitar que mais material se perca.

Blog: A curadoria de um evento da dimensão da Jornada requer uma teia de relações e, na linguagem moderna, uma rede social de interlocutores, participantes e colaboradores. Segundo sua visão, qual o papel exercido pelo curador da Jornada, Guido Araújo?

Izabel de Fátima Cruz Melo: O papel de Guido é de extrema centralidade, e essencial para que a Jornada aconteça. Durante esses quase quarenta anos de Jornada é possível perceber que muitos dos filmes, debatedores e inclusive espaços para que o evento acontecesse dependeram muito das redes mobilizadas por Guido. Podemos elencar como exemplo Cosme Alves Neto e a Cinemateca do MAM/RJ e Roland Schaffner e o ICBA.

Blog: No dia 12 de setembro de 2011, no auditório do Salão Ilha de Maré, Três Olhares Acadêmicos sobre a Jornada, produziram uma fala de prenúncio de vida longa à Jornada. Mesa que reafirmou o valor do evento que presenciamos e participamos. Se os poderes-poderosos continuarem insensíveis ao apoio à próxima Jornada em 2012, os estudiosos, pesquisadores, colaboradores e amigos e amigas da Jornada talvez devessem dizer, como o fez Tuna Espinheira: É de lascar! Triste Bahia! Você concorda?

Izabel de Fátima Cruz Melo: Em torno da continuidade da Jornada há algum tempo uma série de polêmicas que podem ser acompanhadas pela imprensa soteropolitana, inclusive. Penso que é necessário se organizar uma espécie de “força-tarefa” para garantir a continuidade de uns dos eventos de cinema mais antigos em atividade no Brasil.

Blog: Este blog vem mantendo, com certa assiduidade, um diálogo com pesquisadores, estudiosos e interessados na sétima arte ( ver arquivo). Por razões de disposição desta ferramenta de trabalho as postagens permitem apenas uma breve exposição de idéias sobre temas que requerem mais desdobramentos. Quero agradecer a Izabel por ter aceito este diálogo propiciando-nos um conhecimento do seu olhar sobre a Jornada(4).

NOTAS

(1) O banner que ilustra esta postagem foi construído em parceria com João Olivieri e refere-se a Oficina de Cinema da qual participamos, ainda a ser comentada. Por não dispor das imagens fotográficas do evento específico que motivou esta entrevista, decidimos manter o gadget que encontrava-se nos arquivos deste blog.

(2) Izabel de Fátima Cruz Melo _ Licenciada em História pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL); Especialista em História da Bahia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFES); Mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); Professora da Universidade do Estado da Bahia.

(3) Stela Borges de Almeida_Formou-se em Ciências Socias (UFBA). Professora Adjunta em Sociologia da Educação_Aposentada/Ufba. Doutora em Educação (Ufba/Uff). Blog: Cultura, Política e Cinema http://www.stelalmeida.blogspot.com/


(4) Para este diálogo consultamos dois documentos de referência: o artigo publicado no livro: Ditadura militar na Bahia: novos olhares, novos objetos, novos horizontes/Grimaldo Carneiro Zachariadhes (org). Salvador: EDUFBA, 2009 e as matérias publicadas no Jornal da Jornada. Por um mundo mais humano. Ano 33. N.33_Setembro de 2011. Estas duas publicações oferecem um conjunto de dados para os pesquisadores e estudiosos da cultura e do cinema.