sexta-feira, 31 de julho de 2009

Jean-Luc Godard


















Difícil e temerário postar sobre o V Seminario Internacional de Cinema e Audiovisual, uma vez que ainda em realização. Posso afirmar, entretanto, do que ouvi, ví e rememorei do cinema de Godard, este evento merece um destaque bastante especial pela qualidade da organização, do conteúdo das mesas redondas e da Retrospectiva Godard, dentre as inúmeras outras atividades paralelas que estão acontecendo no Foyer do Teatro Castro Alves e Teatro Martim Gonçalves. Há uma infinidade de contribuições, possibilidades e perspectivas de perceber o cinema, a arte e o belo. Todas essas contribuições requerem um pertencimento que define nossos juízos de gosto, sem dúvida, antes de tecer apreciações apressadas posso afirmar, o SEMCINE está sendo um espaço marcante para pensar a sétima arte hoje.

sábado, 25 de julho de 2009

Flipinha_2009

Para Flávia e Ana Beatriz.

Trem de ferro

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...


Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)

Manuel Bandeira in "Estrela da Manhã", 1936.
































Nota: Praça da Matriz em Paraty-RJ, Tenda da Flipinha.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Flashbacks da FLIP 2009 (2)

















































A 7ª Festa Literária Internacional de Paraty terminou, todos sabem.
Mesmo assim, os resultados da apresentação de tantos trabalhos, publicações, intercâmbios e contactos perdurarão por mais tempo. Quero hoje comentar a concorrida mesa que participaram Mario Bellatin e Cristovão Tezza. Estes premiados autores tendo como mote principal o papel da experiência pessoal na literatura, com posições divergentes e inquietadoras, permitiram aos presentes fomentar polêmicas e conhecer mais das suas idéias e escritos. Ficarão de fora destes comentários dezoito mesas de trabalho, com nomes expressivos e de alta relevância, entre elas, a esperada mesa dez intitulada Seqüências Brasileiras, com a presença de Chico Buarque de Holanda. Enfim, a escolha recai pelo que o debate instiga a pensar sobre o tema proposto: O eu profundo e os outros eus.
Mario Bellatin por si constitui um personagem de impacto. Considerado em fóruns literários um romancista de prosa contundente e seca, chega às livrarias brasileiras com o livro Flores, publicado originalmente em 2001. Este trabalho recebeu o prêmio Xavier Villaurrutia e sua publicação recente pela Cosac Naify. O universo bellatino versa sobre personagens ambíguos que se adentra por desconcertantes histórias, entre elas, a do cientista que descobre um fármaco que causa deformações físicas, a história do escritor e das suas pesquisas sobre sexualidade, a história do nome das flores, histórias cujos personagens provocam e desafiam o leitor. O universo lúdico entre realidade e ficção parece ser o desafio do escritor que defende o poder da obra dispensar os portos de segurança comumente sustentáveis nas referências bibliográficas (1). Questionado sobre a Escola Dinâmica de Escritores, Bellatin afirma que seguem produzindo, escrevendo para criar. Irreverente nas diferentes formas de criação, Mario Ballatin, parece querer também provocar quando posa na sessão de autógrafos deixando-se mirar aos flipianos em sua prótese fálica(2)
Cristovão Tezza e seus premiados livros vêm ocupando um lugar de prestígio na literatura brasileira como costuma propagar a imprensa midiática (3). Em 2007, a consagração com a publicação de O filho eterno, romance que aborda com originalidade o tema do nascimento de um filho com síndrome de Down, é merecedor de vários prêmios, entre eles, o Prêmio Portugal Telecom, Prêmio São Paulo de Literatura de Melhor Livro do Ano, Prêmio Jabuti de Melhor Romance de 2008, Prêmio Bravo de 2008 e Prêmio APPCA, 2007. Embora se defina como um professor tardio, a prosa de Cristovão Tezza expõe com estilo emocional e tocante de um tema vivo e real das dificuldades inúmeras e das pequenas vitórias de conviver com uma criança que o ocupará pelo resto da sua vida, uma criança desejada, mas diferente. Como expositor, o escritor demonstra que o real e a ficção reordenam sua própria vida, o eu profundo e os outros eus mesclam-se com precisão literária encadeando idéias e experiências de vida que vão conferir a expressão que ouvi muitas vezes ao longo do evento: “É um livraço”! Quanto ao escritor, um professor que não exita em falar de suas experiências, das suas descobertas e se tornar personagem de sua própria obra. Falando sobre seu livro quando da época de lançamento, ele comenta que sente o livro forte e que escrever é uma atividade sem volta.

Os eus tão presentes parecem configurar uma era do esmaecimento da fôrça dos processos coletivos, em que as subjetividades parecem querer expressar outras formas de construção das identidades ( idéia a ser melhor desenvolvida mais adiante).

Notas: (1) Como avisei aos navegantes, conheci o Mario Bellatin recentemente. Antes, porém, tive o cuidado de, pelo menos, interessar-me em ler sua biografia, uma vez que o livro adquirido ainda não saiu do lugar que encontrou na fila da estante.

(2) Hijo de padres peruanos, Bellatin vivió en Perú, donde estudió Teología durante dos años en el seminario Santo Toribio de Mogrovejo y, después, Ciencias de la Comunicación en la Universidad de Lima. En 1987 viajó a Cuba becado para estudiar guión cinematográfico en la Escuela Internacional de Cine Latinoamericano de San Antonio de los Baños. Sus primeras novelas las publicó en Perú.A su regreso a México fue director del Área de Literatura y Humanidades de la Universidad del Claustro de Sor Juana y miembro del Sistema Nacional de Creadores de México de 1999 a 2005.Actualmente es director de la Escuela Dinámica de Escritores en la Ciudad de México. La escuela propone un metódo de preparación literaria alternativo a los espacios académicos y a los talleres literarios tradicionales. La primera regla de la Escuela Dinámica de Escritores es no escribir para la escuela, sino escribir para crear. Los métodos aplicados por Bellatin enfatizan la relación que guardan entre sí las distintas formas de arte, señalando el origen común de todas ellas. Para Bellatin toda obra de arte debe poseer una retórica propia que permita alejarla de su autor con facilidad.Su preparación académica fue una influencia decisiva para el desarrollo de su escritura. Su experiencia cinematográfica le llevó a concluir que la realidad puede estar encapsulada en un fragmento de tiempo pequeño y sin embargo ser capaz provocar sensaciones importantes en el espectador. De ahí se desprende el caracter fragmentario de su escritura, que sólo ofrece los datos precisos de la realidad que compone en sus novelas.Su obra, de gran difusión, ha sido traducida al inglés, alemán y francés. Mario Bellatin es considerado uno de los escritores contemporáneos latinoamericanos experimentales, en cuyas novelas se plantea un juego lúdico entre realidad y ficción, matizado con protocolos apócrifos, crónicas, biografías o documentos científicos, provocando así situaciones inverosímiles e incluso graciosas. Su obra no contiene referencias biográficas, pues el autor cree que el texto debe sostenerse por sí mismo y que la literatura se desarrolla de mejor manera con la menor intervención posible de parte del autor. http://es.wikipedia.org/wiki/Mario_Bellatin
(3) Cristovão Tezza (Lages, Santa Catarina, 1952) é um romancista brasileiro. Nasceu em Lages mas mudou-se para Curitiba (Paraná) com dez anos. Esta última cidade é cenário de boa parte de sua literatura, pela qual seus personagens visitam ruas e pontos turísticos.Quando mais jovem fez teatro, foi da marinha mercante, trabalhador ilegal na Europa e ainda relojoeiro. Tinha enorme paixão pela profissão, mas percebeu que os consertos de relógio não sustentariam suas ambições literárias. Já era escritor bem jovem, e aos 13 anos fez seu primeiro livro, designado por ele mesmo “muito ruim”. Já publicou dez romances. Uma das marcas de seu texto é a presença de mais de um narrador: em Trapo, vemos a história do ponto de vista do professor Manoel, que estuda o poeta Trapo, e paralelamente do ponto de vista do poeta, através de seus poemas. Em 2003, publicou um ensaio sobre Mikhail Bakhtin, que era, na verdade, sua tese de doutorado. É doutor em Literatura Brasileira e professor de Lingüística na Universidade Federal do Paraná. Em algumas declarações afirma que “só uns quatro ou cinco escritores brasileiros poderiam viver só dos livros”, e por esse motivo é professor. Ganhou o prêmio da Academia Brasileira de Letras de melhor romance brasileiro de 2004, pelo seu livro “O fotógrafo”. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cristóvão_Tezza
(4) As fotos tiradas na Tenda dos Autógrafos não revela, mas havia um caracol de curiosos, tímidos, exibidos, excêntricos e espantosos escritores e leitores, todos amantes dos livros. Na primeira vê-se Cristovão Tezza, na segunda e terceira Mario Bellatin.

sábado, 11 de julho de 2009

Flashbacks da FLIP 2009(1)


































O evento do início do mês de julho levou a Paraty-RJ 35.200 pessoas que, segundo dados dos jornais que circularam e foram distribuídos durante a grande festa, compõe-se de 34 autores convidados, dos quais 15 estrangeiros procedentes de 09 países, mediadores para as 19 mesas organizadas em ampla diversidade temática, participação de oito editoras, além da ocorrência de eventos paralelos na Casa da Cultura e na Casa Azul, da FLIPINHA e da FLIP ZONA. Para esta mega-estrutura Paraty prepara-se numa mega-montagem de Tenda de Autores, Tenda do Telão, Tenda de Autógrafos, Tendas da Flipinha, Tendas da FlipZona, serviços de atendimento aos participantes, sugestão de hospedagens e outros serviços. Diz-se que há um retorno de cinco milhões para a economia da região.

Os ingressos para a Tenda dos Autores esgotam-se antes mesmo que o evento se inicie, criando-se a chance de se dirigir à Tenda do Telão ou, caso não se consiga, sentar-se às margens dos telões, nas suas beiradas, desta vez sob céu aberto com direito a chuva fina ou mesmo a intensa neblina durante quase duas horas que perduram as apresentações das mesas. Ainda tem-se a chance de desistências e venda de ingressos de última hora. Poucas, mas acontece. Tudo por amor às letras e à arte.

O homenageado desta vez é o grande poeta Manoel Bandeira. E para abrir a conferência, Davi Arriguci Jr, crítico literário e professor aposentado de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP, com várias obras publicadas, entre elas, às dedicadas ao poeta, Humildade, Paixão e Morte (1990) e O cacto e as ruínas (1997). Há uma tradição de ler nos primeiros momentos da fala trechos ou pontos de destaque do texto que versará o teor da conversa, animada pela fácil comunicação que o convidado rapidamente desenvolve com sua atenta e silenciosa platéia.
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não. Os versos de Manoel Bandeira ecoam e reverberam na animada prosa do conferencista que mais houvesse tempo, além das duas horas que lhe são facultadas, permaneceria entusiasmado a falar da simplicidade e leveza do poeta. Manoel Bandeira estava atento ao povo, sua poesia fala do chão, dos que estavam nas margens (2).

Notas:
1.Para atender a Mary e a Jonga que dizem sempre que preciso postar com mais freqüência, estou iniciando um relato meio apressado, sem muito criproco. Logo mais, passo a passo, recomeço a contar a lenda, no próximo post.
2.Duas fotos, a tenda do autor e a tenda do telão, numa delas vê-se a projeção da conferência do Davi Arriguci Jr. Vale a pena re-ouvir a exposição.